O grupo descreveu a delação como uma "colaboração definitiva". Já jornais e políticos falaram em "bomba atômica", "potencial explosivo" e possível "reviravolta na investigação".
Mas por que as informações do grupo são tão importantes? Um dos principais motivos é a proximidade do presidente do grupo, Marcelo Odebrecht, com o PT e com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Mas a Odebrecht tem obras por todo o Brasil e contratos com gestões de diferentes partidos, o que pode trazer revelações sobre outros políticos. Já foram publicadas informações de que os executivos poderiam comprometer o PMDB e, com menos força, o PSDB.
Confira abaixo alguns dos principais pontos que podem ser esclarecidos pelos executivos do grupo:
1. Reformas no sítio de Atibaia
A Odebrecht, segundo as investigações da ava Jato, foi uma das empreiteiras que participaram de reformas do sítio Santa Bárbara, em Atibaia (interior de SP).Segundo o Ministério Público Federal no Paraná, o sítio pertence ao ex-presidente Luiz Inácio Lula do Silva. Formalmente, a propriedade é de Jonas Suassuna e Fernando Bittar, sócios de um dos filhos de Lula.
O ex-presidente diz que usava o sítio, mas que não é dono da propriedade.
A Odebrecht teria bancado as reformas e melhorias em parceria com o pecuarista José Carlos Bumlai, amigo de Lula, e a empreiteira OAS. Segundo a Procuradoria, há fortes indícios de que, entre 2010 e 2014, o ex-presidente teria recebido deles pelo menos R$ 770 mil "sem justificativa econômica lícita".
De acordo com os procuradores, tanto a reforma quanto a aquisição dos móveis instalados na propriedade seriam propinas pagas "a título de contraprestação pelos favores ilícitos obtidos no esquema Petrobras".
O Ministério Público Federal diz que os dois sócios do filho de Lula, Fábio Luis Lula da Silva, o Lulinha, teriam sido usados como laranjas para a aquisição do sítio.
A Odebrecht também pode esclarecer uma dúvida importante sobre datas: Lula afirma que só soube da existência do sítio em janeiro de 2011, após deixar a Presidência, mas a propriedade foi comprada e reformada em 2010.
Caso se comprove que Lula sabia da existência do sítio já em 2010 e que foi beneficiado por empreiteiras envolvidas em corrupção quando ainda era presidente, ele poderia ser alvo de ação civil de improbidade administrativa, o que pode impedi-lo de disputar as eleições de 2018.
2. Palestras
A Odebrecht era uma das
principais contratantes de palestras de Lula no exterior. Mas esses
eventos são alvo de duas investigações diferentes – e é possível que a
delação do grupo esclareça qual tese faria mais sentido.
Enquanto
a Lava Jato afirma que as palestras seriam uma forma de pagamento de
propina por contratos celebrados com a Petrobras, o Ministério Público
no Distrito Federal diz acreditar que Lula atuaria como lobista para que
as empresas atuassem no exterior com ajuda do BNDES (Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico e Social).
A
Procuradoria no Paraná diz investigar "pagamentos vultuosos" feitos por
construtoras beneficiadas no esquema de corrupção na Petrobras em favor
do Instituto Lula e de sua empresa de palestras.
Segundo
os procuradores, entre 2011 e 2014, a maior parte do dinheiro recebido
pelas duas entidades ligadas ao ex-presidente ─ cerca de R$ 30 milhões ─
saiu dos cofres das seis maiores empreiteiras investigadas pela
operação: Odebrecht, Camargo Corrêa, OAS, Andrade Gutierrez, Queiroz
Galvão e UTC.
Já no Distrito
Federal, a suspeita é que Lula tenha cometido crime de tráfico de
influência ao atuar junto a governos internacionais para favorecer as
empreiteiras e usar sua influência também no BNDES.
Em
depoimento à Polícia Federal, o ex-presidente disse que cobrava US$ 200
mil (R$ 728 mil) por palestra e que elas tinham o objetivo de "vender" o
Brasil no exterior.
O
Instituto Lula afirma que todas as palestras foram feitas e que as
informações sobre os pagamentos foram repassadas aos investigadores.
3. Pagamentos ao marqueteiro João Santana
Informações da Odebrecht também
podem esclarecer o suposto esquema de pagamento de propina ao
marqueteiro do PT, João Santana ─ o que pode ter influência nas ações
que tramitam no TSE (Tribunal Superior Eleitoral) e que podem levar à
cassação da chapa de Dilma e Temer.
Segundo
a Procuradoria, há indícios de que, nos últimos anos, Santana tenha
recebido recursos desviados da Petrobras como pagamento por serviços
prestados ao PT. Santana trabalhou em diversas campanhas petistas, como a
da reeleição de Lula em 2006 e as duas disputadas por Dilma (2010 e
2014).
De acordo com o
Ministério Público Federal, entre abril de 2012 e março de 2013 o grupo
Odebrecht teria transferido US$ 3 milhões (R$ 10,9 milhões) para a conta
de Santana e sua mulher no exterior, "valor sobre o qual pesam
indicativos de que consiste em propina oriunda da Petrobras que foi
transferida aos publicitários em benefício do PT".
O
PSDB propôs ação no TSE dizendo que houve uso de recursos desviados da
Petrobras como doações de empresas para a campanha de Dilma, mas não
abordou pagamentos para Santana no exterior, até porque isso ainda não
tinha sido revelado.
A defesa de Dilma diz que todos os pagamentos feitos a Santana foram regulares e declarados à Justiça Eleitoral.
4. Novas linhas de investigação
O tamanho da Odebrecht e a extensão de seus contratos torna difícil prever o alcance das possíveis novas denúncias.
A
etapa da Operação Lava Jato realizada nesta terça, por exemplo, apontou
indícios de pagamentos de propina em obras que não têm relação com a
Petrobras, foco central da operação.
A
nova fase da investigação apura o pagamento de propina, por exemplo, na
construção do estádio do Corinthians, em São Paulo, e no Porto
Maravilha, no Rio.
Segundo
Ministério Público Federal, uma planilha mostra que a Odebrecht pagou R$
500 mil a uma pessoa identificada como Timão, que seria o
vice-presidente do clube, André Luiz de Oliveira ─ ele nega as
acusações.
Já no Porto
Maravilha, conjunto de obras para revitalização da área portuária feitas
pela Prefeitura do Rio de Janeiro, teria havido pagamento de propina de
R$ 1 milhão.
O Corinthians e a gestão Eduardo Paes (PMDB) negam as acusações.
Nenhum comentário:
Postar um comentário