Diretor de relações institucionais da JBS, Ricardo Saud
detalhou, em delação premiada, valores pagos pela empresa para comprar
os partidos da chapa Dilma Rousseff-Michel Temer na eleição presidencial
de 2014.
Conhecido como "o homem da mala", pelo papel
protagonista na articulação das propinas, Saud teria destinado em nome
da empresa quase R$ 175 milhões às legendas.
Foram cerca de R$ 5,1
bilhões em gastos oficiais e declarados nas eleições de 2014, incluindo
os pleitos para a Presidência da República e também para os governos
estaduais.
O delator deixa claro que o valor não corresponde ao
total pago pela empresa a título de propinas, mas sim a um movimento no
início da campanha.
A maior parte, diz, foi paga mediante notas
fiscais falsas para simular serviços prestados. "No final, vamos ter
citado mais de cem escritórios de advocacia, tudo notas falsas", diz.
Segundo
o relato de Saud, "todos os partidos tinham consciência de que isso [os
valores repassados] era propina paga pelo PT" em retribuição ao suporte
do partido ao grupo de Joesley Batista.
O presidente da
República, Michel Temer (PMDB), então candidato a vice-presidente com
Dilma, era o maior articulador desses repasses ilegais, diz Saud.
"Com
relação à Dilma [Rousseff], não posso afirmar [que ela tinha
conhecimento], porque nunca estive com ela, graças a Deus", respondeu o
executivo quando perguntado se a ex-presidente petista tinha consciência
desses pagamentos.
"Já com Michel Temer", ele completa, "tenho
certeza que sabia de todos [os acertos financeiros], porque eu mesmo o
comuniquei. Estive com ele muitas vezes, não foram poucas".
Saud
detalhou uma das "muitas" oportunidades em que esteve com Temer: "era na
Copa do Mundo, um jogo da Holanda que eu vi com o Michel Temer na casa
dele, lá na praça, alto de Pinheiros [em São Paulo]. Fui lá com o
bilhete que está nos anexos, detalhando os R$ 35 milhões que estavam
sendo doados ao senadores", afirmou.
"Falei: 'ó Temer, tá
iniciando a campanha, Joesley [Batista, dono da empresa] achou por bem
avisar que está doando R$ 35 milhões que não estão passando pelo
senhor".
A quantia, ele afirma, se destinava a comprar líderes do
PMDB no Senado: Eduardo Braga, Jader Barbalho, Vital do Rêgo, Eunício
Oliveira, Renan Calheiros, Valdir Raupp e Henrique Alves são alguns dos
citados.
Devido à insistência dos políticos, o valor teria sido
ampliado para R$ 46 milhões."Naquele momento havia uma sensação de que o
Aécio [Neves] tinha chances reais de ganhar a eleição. Então o PT
tentou trazer os caciques do PMDB pra eles", explicou Saud.
Segundo
ele, havia resistência entre a cúpula peemedebista ao nome de Michel
Temer, e por isso foi preciso investir em comprar essa dissidência.
"O
PMDB é o partido hoje no país que tem a maior militância: organização
em todos os Estados e quase todas as cidades. Isso barateia demais uma
campanha".
O executivo afirma ainda que pagou R$ 36 milhões ao PR,
R$ 42 milhões ao PT, R$ 4 milhões para o PDT e R$ 10 milhões para o
PCdoB.
O PSD, do então senador e hoje ministro Gilberto Kassab,
teria ficado com R$ 40 milhões, negociados pelo próprio Kassab. Com
informações da Folhapress.
O termo de colaboração 1 do empresário Joesley Batista, do
Grupo JBS, descreve o fluxo de duas 'contas-correntes' de propina no
exterior, cujos beneficiários seriam os ex-presidentes Luiz Inácio Lula
da Silva e Dilma Rousseff. O empresário informou à Procuradoria-Geral da
República que o saldo das duas contas bateu em US$ 150 milhões em 2014.
Ele disse que o ex-ministro Guido Mantega (Fazenda/Governos Lula e
Dilma) operava as contas.
O delator informou que em 2009 destinou uma conta a Lula e no ano seguinte, outra para Dilma.
Joesley
revelou que em dezembro de 2009, o BNDES adquiriu de debêntures da JBS,
convertidas em ações, no valor de US$ 2 bilhões, 'para apoio do plano
de expansão' naquele ano.
"O depoente escriturou em favor de Guido
Mantega, por conta desse negócio, crédito de US$ 50 milhões e abriu
conta no exterior, em nome de offshore que controlava, na qual depositou
o valor", relatou Joesley.
Segundo o empresário, em reunião com
Mantega, no final de 2010, o petista pediu a ele 'que abrisse uma nova
conta, que se destinaria a Dilma.
"O depoente perguntou se a conta
já existente não seria suficiente para os depósitos dos valores a serem
provisionados, ao que Guido respondeu que esta era de Lula, fato que só
então passou a ser do conhecimento do depoente", contou o empresário.
"O depoente indagou se Lula e Dilma sabiam do esquema, e Guido confirmou que sim."
Joesley
declarou que foi feito um financiamento de R$ 2 bilhões, em maio de
2011, para a construção da planta de celulose da Eldorado. O delator
disse que Mantega 'interveio junto a Luciano Coutinho (então presidente
do BNDES) para que o negócio saísse'.
"A operação foi realizada
após cumpridas as exigências legais", afirmou Joesley. "Sempre percebeu
que os pagamentos de propina não se destinavam a garantir a realização
de operações ilegais, mas sim de evitar que se criassem dificuldades
injustificadas para a realização de operações legais."
O
empresário declarou que depositou, 'a pedido de Mantega', por conta
desse negócio, crédito de US$ 30 milhões em nova conta no exterior.
"O
depoente, nesse momento, já sabia que esse valor se destinava a Dilma;
que os saldos das contas vinculadas a Lula e Dilma eram formados pelos
ajustes sucessivos de propina do esquema BNDES e do esquema-gêmeo, que
funcionava no âmbito dos fundos Petros e Funcef; que esses saldos
somavam, em 2014, cerca de US$ 150 milhões."
Segundo Joesley,
a partir de julho de 2014, Mantega 'passou a chamar o depoente quase
semanalmente ao Ministério da Fazenda, em Brasília, ou na sede do Banco
do Brasil em São Paulo, para reuniões a que só estavam presentes os
dois, nas quais lhe apresentou múltiplas listas de políticos e partidos
políticos que deveriam receber doações de campanha a partir dos saldos
das contas'.
Neste trecho de seu depoimento, Joesley cita o
partido do Governo Michel Temer. O empresário destacou que o executivo
Ricardo Saud, diretor de Relações Institucionais da J&F
(controladora da JBS), fazia o contato com partidos e políticos.
"A
primeira lista foi apresentada em 4 de julho de 2014 por Guido ao
depoente, no gabinete do Ministro da Fazenda no 15º andar da sede do
Banco do Brasil em São Paulo, e se destinava a pagamentos para políticos
do PMDB; que a interlocução com políticos e partidos políticos
para organizar a distribuição de dinheiro coube a Ricardo Saud, Diretor
de Relações Institucionais da J&F, exceção feita a duas ocasiões",
relatou.
Joesley disse que em outubro de 2014 no Instituto Lula,
encontrou-se com Lula e relatou ao petista que as doações oficiais da
JBS já tinham ultrapassado R$ 300 milhões."Indagou se ele (Lula)
percebia o risco de exposição que isso atraía, com base na
premissa implícita de que não havia plataforma ideológica que explicasse
tamanho montante; que o ex-presidente olhou nos olhos do depoente, mas
nada disse", contou.
Em outra ocasião, em novembro de 2014,
Joesley disse que 'depois de receber solicitações insistentes para o
pagamento de R$ 30 milhões para Fernando Pimentel, governador eleito de
Minas Gerais, veiculadas por Edinho Silva (tesoureiro da campanha de
Dilma em 2014), e de receber de Guido Mantega a informação de que "isso é
com ela", solicitou audiência com Dilma'.
"Dilma recebeu o
depoente no Palácio do Planalto; que o depoente relatou, então, que o
governador eleito de MG, Fernando Pimentel, estava solicitando, por
intermédio de Edinho Silva, R$ 30 milhões, mas que, atendida essa
solicitação, o saldo das duas contas se esgotaria; que Dilma confirmou
a necessidade e pediu que o depoente procurasse Pimentel", narrou aos
investigadores.
Joesley afirma que, no mesmo dia, encontrou-se com
Pimentel no Aeroporto da Pampulha, em Belo Horizonte, e disse ao
petista 'que havia conversado com Dilma e que ela havia indicado que os
30 milhões deveriam ser pagos'.
"Pimentel orientou o depoente a
fazer o pagamento por meio da compra de participação de 3% na empresa
que detém a concessão do Estádio Mineirão; que afora essas duas
ocasiões, Edinho Silva, então tesoureiro da campanha do PT,
encontrava-se, no período da campanha de 2014, semanalmente com Ricardo
Saud e apresentava as demandas de distribuição de dinheiro; que Ricardo
Saud submetia essas demandas ao depoente, que, depois de verificá-las
com Guido Mantega, autorizava o que efetivamente estivesse ajustado com o
então ministro da Fazenda."
COM A PALAVRA, A DEFESA DE LULA
Nota
Verifica-se
nos próprios trechos vazados à imprensa que as afirmações de Joesley
Batista em relação a Lula não decorrem de qualquer contato com o
ex-Presidente, mas sim de supostos diálogos com terceiros, que sequer
foram comprovados. A verdade é que a vida de Lula e de seus familiares
foi - ilegalmente - devassada pela Operação Lava Jato. Todos os sigilos
- bancário, fiscal e contábil - foram levantados e nenhum valor ilícito
foi encontrado, evidenciando que Lula é inocente.
Sua inocência
também foi confirmada pelo depoimento de mais de uma centena de
testemunhas já ouvidas - com o compromisso de dizer a verdade - que
jamais confirmaram qualquer acusação contra o ex-Presidente.
A
referência ao nome de Lula nesse cenário confirma denúncia já feita pela
imprensa de que delações premidas somente são aceitas pelo Ministério
Público se fizerem referência - ainda que frivolamente - ao nome do
ex-Presidente. Cristiano Zanin Martins e Roberto Teixeira
São Paulo – A Polícia Federal interceptou pelo menos uma conversa telefônica entre o presidente Michel Temer
e o deputado federal Rodrigo Loures (PMDB-PR). A intercepção foi feita a
partir de ordens judiciais emitidas pelo Supremo Tribunal Federal (STF)
na Operação Patmos, desencadeada nesta quinta-feira, 18. As informações são do jornal Folha de S. Paulo.
O
conteúdo da conversa gira em torno da expectativa que o deputado
federal tinha com relação a novas regras para o setor de portos.
Ex-assessor de Temer, Loures foi acusado por Joesley Batista, dono da JBS, de ter recebido 500 mil reais de propina em São Paulo.
Além das ligações entre Loures e Temer, conversas entre o senador Aécio Neves (PSDB) e o ministro do STF, Gilmar Mendes, também foram alvo de interceptação da PF.
Segundo
relatório oficial, em uma ligação feita no dia 26 de abril, Aécio pede
para Mendes telefonar para o senador Flexa Ribeiro (PSDB-AM). O objetivo
era pedir para Ribeiro seguir a orientação de voto proposta por Aécio
no projeto que tratava de “abuso de autoridades”, que está atualmente em
discussão no Congresso Nacional.
Os relatórios sobre as ligações
estão anexados em documentos liberados por ordem do ministro do STF,
Edson Fachin, nesta sexta-feira, 19. De acordo com a Folha, que teve
acesso aos documentos, os grampos foram feitos apenas nos aparelhos
telefônicos de Aécio e de Loures. Desse modo, os dispositivos de Mendes e
Temer não estavam sob interceptação.
Alvo de um pedido de prisão negado pelo Supremo Tribunal Federal (STF), o senador Aécio Neves(PSDB-MG) aparece em uma das gravações feitas pelo empresário Joesley Batista, dono da JBS
e delator premiado, dizendo “trabalhar igual um louco” em tentativas de
anistiar o caixa dois no Congresso e fala de estratégias para obstruir a
Operação Lava Jato no Ministério da Justiça. O conteúdo do diálogo foi antecipado pelo site BuzzFeed nesta quinta-feira.
Em outra gravação feita por Joesley, revelada ontem pelo jornal O Globo, Aécio pede 2 milhões de reais
ao empresário sob a justificativa de custear sua defesa na Lava Jato.
Nesta quinta-feira, Andréa Neves e Frederico Pacheco de Medeiros, irmã e
primo de Aécio, também citados na delação da JBS, foram presos pela
Polícia Federal. O senador se licenciou da presidência do PSDB.
Transcrição de diálogo entre Joesley e Aécio
Criado porVEJA.com
em 18 de Maio de 2017
Diálogo entre Joesley e Aécio
Aécio
Esses vazamentos, essa porra toda, é uma ilegalidade.
Joesley
Não vai parar com essa merda?
Aécio
Cara, nós tamos vendo (...) Primeiro temos dois caras frágeis pra caralho nessa história é o Eunício [Oliveira, presidente do Senado] e o Rodrigo [Maia, presidente da Câmara], o Rodrigo especialmente também, tinha que dar uma apertada nele que nós tamos vendo o texto (...) na terça-feira.
Joesley
Texto do quê?
Aécio
Não... São duas coisas, primeiro cortar o pra trás (...) de quem doa e de quem recebeu.
Joesley
E de quem recebeu.
Aécio
Tudo. Acabar com tudo esses crimes de falsidade ideológica, papapá, que é que na, na, na mão [dupla], texto pronto nãnã. O Eunício afirmando que tá com colhão pra votar, nós tamo (sic). Porque o negócio agora não dá para ser mais na surdina, tem que ser o seguinte: todo mundo assinar, o PSDB vai assinar, o PT vai assinar, o PMDB vai assinar, tá montada. A ideia é votar na... Porque o Rodrigo devolveu aquela tal das Dez Medidas, a gente vai votar naquelas dez... Naquela merda das Dez Medidas toda essa porra. O que eu tô sentindo? Trabalhando nisso igual um louco.
Joesley
Lógico.
Aécio
O Rodrigo enquanto não chega nele essa merda direto, né?
Joesley
Todo mundo fica com essa. Não...
Aécio
E, meio de lado, não, meio de leve, meio de raspão, né, não vou morrer. O cara, cê tinha que mandar um, um, cê tem ajudado esses caras pra caralho, tinha que mandar um recado pro Rodrigo, alguém seu, tem que votar essa merda de qualquer maneira, assustar um pouco, eu tô assustando ele, entendeu? Se falar coisa sua aí... forte. Não que isso? Resolvido isso tem que entrar no abuso de autoridade... O que esse Congresso tem que fazer. Agora tá uma zona por quê? O Eunício não é o Renan.
Joesley
Já andaram batendo no Eunício aí, né? Já andaram batendo nas coisas do Eunício, negócio da empresa dele, não sei o quê.
Aécio
Ontem até... Eu voltei com o Michel ontem, só eu e o Michel, pra saber também se o cara vai bancar, entendeu? Diz que banca, porque tem que sancionar essa merda, imagina bota cara.
Joesley
E aí ele chega lá e amarela.
Aécio
Aí o povo vai pra rua e ele amarela. Apesar que a turma no torno dele, o Moreira [Franco], esse povo, o próprio [Eliseu] Padilha não vai deixar escapulir. Então chegando finalmente a porra do texto, tá na mão do Eunício.
Joesley
Esse é bom?
Aécio
Tá na cadeira (...). O ministro é um bosta de um caralho, que não dá um alô, peba, está passando mal de saúde pede pra sair. Michel tá doido. Veio só eu e ele ontem de São Paulo, mandou um cara lá no Osmar Serraglio, porque ele errou de novo de nomear essa porra desse (...). Porque aí mexia na PF. O que que vai acontecer agora? Vai vim um inquérito de uma porrada de gente, caralho, eles são tão bunda mole que eles não (têm) o cara que vai distribuir os inquéritos para o delegado. Você tem lá cem, sei lá, 2.000 delegados da Polícia Federal. Você tem que escolher dez caras, né?, do Moreira, que interessa a ele vai pro João.
O ministro Edson Fachin, relator da Lava Jato no Supremo Tribunal
Federal (STF), retirou nesta quinta-feira o sigilo do acordo de delação
premiada firmado pelo empresário Joesley Batista, um dos donos do
frigorífico JBS, informou a assessoria de imprensa do tribunal.
O Supremo, no entanto, ainda não informou quando o conteúdo da delação de Joesley estará disponível.
Na
quarta-feira reportagem do jornal O Globo, posteriormente confirmada
pela Reuters junto a três fontes, disse que o dono da JBS gravou
conversa com o presidente Michel Temer na qual ele daria aval para que o
empresário comprasse o sigilo do ex-deputado federal Eduardo Cunha. O
Supremo abriu inquérito para investigar Temer sobre o caso.
São Paulo – Mais um pedido de impeachment contra o presidente Michel Temer
foi protocolado na manhã desta quinta-feira, 18. Dessa vez, quem
protocolou a solicitação de afastamento foi o senador Randolfe Rodrigues
(Rede-AP).
O
primeiro pedido de impeachment contra o presidente foi aberto em abril
do ano passado. A comissão especial que irá analisar a solicitação ainda
não foi instalada na Casa.
Segundo o site G1,
Rodrigues diz em sua solicitação de impeachment que Temer cometeu
crimes de responsabilidade ao atentar contra o livre exercício do
Judiciário e do MP no episódio relatado pelo dono da holding J&F,
controladora do frigorífico JBS. Para o senador, o presidente também atuou contra a probidade na administração.
O site de
VEJA apurou que a renúncia à defesa está ligada ao últimos
acontecimentos. Joesley Batista, da JBS, gravou o presidente Michel
Temer (PMDB) dando aval para comprar o silêncio do ex-deputado Eduardo
Cunha e mergulhou o Planalto numa crise sem precedentes.
O
empresário teria afirmado a Temer que estava pagando a Eduardo Cunha e
ao operador Lúcio Funaro uma mesada para eles ficarem calados.
Na
Lava-Jato, Arns atuou na costura dos primeiros acordos de delação
premiada de empreiteiros enrolados no petrolão. Arns tem equipe sediada
em Curitiba e trabalhou também nas tentativas – frustradas – dos acordos
de colaboração do ex-diretor da Petrobras Renato Duque e do
publicitário Ricardo Hoffmann, ligado ao deputado cassado André Vargas.
O
ex-deputado Eduardo Cunha, do PMDB, está preso desde setembro, quando
foi levado pela força tarefa da Lava Jato a Curitiba. Ele, agora, se
mostra peça central no caso da JBS -que jogou o presidente Michel Temer
no meio da crise.
Condenado
O ex-deputado Eduardo Cunha foi condenado pelo
juiz federal Sergio Moro, responsável pelas ações da Operação Lava Jato
na primeira instância, em Curitiba, a quinze e quatro meses de prisão
pelos crimes de corrupção, lavagem de dinheiro e evasão fraudulenta de
divisas. O processo se refere ao pagamento de propina milionária que
envolveu a compra do campo petrolífero de Benin, na África, pela
Petrobras, em 2011.
Na decisão, o juiz titular da 13ª Vara Federal
do Paraná escreveu que Eduardo Cunha “traiu o seu mandato parlamentar” e
que a sua culpabilidade é “elevada”. “A responsabilidade de um
parlamentar federal é enorme e, por conseguinte, também a sua
culpabilidade quando pratica crimes. Não pode haver ofensa mais grave do
que a daquele que trai o mandato parlamentar e a sagrada confiança que o
povo nele deposita para obter ganho próprio”, escreveu o magistrado.
São Paulo – Uma foto que teria sido anexada a um processo em que a Operação Lava Jato investiga o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva mostra o petista ao lado do então presidente da empreiteira OAS, Leo Pinheiro, em um encontro que teria acontecido no sítio de Atibaia, no interior de São Paulo.
De
acordo com informações do jornal O Globo, a imagem teria sido
protocolada como prova da relação de Lula com o empreiteiro, que é
acusado de associação criminosa e estelionato.
Em depoimento de quase cinco horas ao juiz Sérgio Moro,
na última quarta-feira (10), o ex-presidente admitiu que encontrou com o
empreiteiro para tratar de uma obra na cozinha do sítio. No entanto,
segundo Lula, a visita do empresário teria acontecido em seu apartamento
de São Bernardo do Campo (SP).
Sítio em Atibaia
Em
outro processo, que corre em paralelo, Lula responde por suspeita de
posse de um sítio em Atibaia, interior de São Paulo. Um laudo da Polícia
Federal sugere que o ex-presidente e sua esposa, Marisa Letícia,
orientaram as reformas da cozinha do sítio, através de contato com a
empreiteira OAS.
SÃO PAULO. Seis dias depois de o ex-presidente Luiz Inácio Lula da
Silva ter dito ao juiz Sergio Moro que não sente responsável pela
corrupção na Petrobras porque o governo não participa da administração
da estatal, os procuradores da Lava-Jato anexaram ao processo que
discute o tríplex do Guarujá uma agenda que mostra as reuniões de Lula
com representantes da empresa. Entre 2003 e 2010, foram pelo menos 27
encontros para discutir projetos da estatal, dentro e fora do Brasil -
em média, três reuniões por ano.
Os temas discutidos foram de
investimentos em refinarias a projetos incluídos no Programa de
Aceleração do Crescimento. Os procuradores querem mostrar que Lula
acompanhava de perto os projetos da estatal e discutia diretamente com a
diretoria da empresa.
Durante o depoimento, Moro quis saber se o
ex-presidente teve algum envolvimento com o projeto da refinaria Abreu e
Lima, em Pernambuco, cujo valor ultrapassou mais de 10 vezes o
planejado. Lula disse que esteve em Pernambuco com o presidente da
Venezuela Hugo Chavez, que tinha intenção de se associar ao Brasil no
projeto da refinaria, foi ao lançamento da pedra fundamental em, em 2007
esteve acompanhando as obras de terraplanagem. Chegou a reclamar não
ter sido convidado para a inauguração.
- Esteve na Petrobras para discutir? - perguntou Moro.
-
Não para discutir. Fui em Pernambuco para visitar a terraplanagem.
Havia fascinação com a quantidade de luzes acesas, a implantação de uma
refinaria no nordeste era quase como se fosse um milagre. Fui com muito
orgulho - respondeu Lula.
Lula se esqueceu de incluir a reunião
de 30 setembro de 2008, em Manaus, quando se reuniu com Hugo Chaves.
Naquele dia, a diretoria da Petrobras assinou termo de compromisso com a
PDSA, a estatal venezuelana de petróleo. Participaram o presidente da
Petrobras, José Sérgio Gabrielli e os diretores Paulo Roberto Costa e
Jorge Zelada.
Em 4 de junho de 2008, por exemplo, consta também
uma reunião de Lula com Gabrielli e o ex-ministro das Minas e Energia
Edison Lobão, organizada por Paulo Roberto Costa. O tema para discussão
era "novas refinarias", incluindo Comperj, Refinaria do Nordeste,
Premium e Refinaria 2. Um mês depois, em 3 de julho de 2008, a agenda
mostra um segundo encontro de Costa com Lula, também no Palácio do
Palácio, para falar sobre biodiesel.
Também ao depor em Brasília,
em março passado, Lula afirmou que não conheceu pessoalmente Nestor
Cerveró, ex-diretor da área internacional. No processo, ele é acusado de
tentar obstruir as investigações da Lava-Jato e comprar o silêncio de
Cerveró.
Na agenda anexada ao processo de Curitiba, consta que
Cerveró acompanhou Gabrielli em fevereiro de 2008 numa viagem de Lula à
Argentina, quando o presidente discutiu com Cristina Kirschner e Evo
Morales a crise no fornecimento do gás boliviano. Também estiveram em
Buenos Aires Graça Foster, que era diretora da área de gás da estatal e
Andre Ghirardi, que foi assessor da presidência da estatal entre 2005 e
2015. Apesar das ameaças de retaliação da Argentina e das duras
negociações com a Bolívia, os diretores da estatal estavam na comitiva
oficial: a agenda registra a viagem e o retorno deles em voo comercial.
A
Petrobras foi ouvida por Lula também em 2010. Ele teve duas reuniões
com representantes da empresa no Centro Cultural Banco do Brasil, no
Rio, em março e agosto. Na primeira, o assunto foram os projetos de óleo
e gás do Programa de Aceleração de Crescimento (PAC 2). Na segunda, em
agosto, o tema não consta na agenda, que registra apenas a participação
de Gabrielli, Costa, Graça Foster e Guilherme Estrella, diretor de
exploração.
Encontros com Duque e Costa
As
reuniões entre Costa e Lula eram frequentes. O então diretor da
Petrobras acompanhou Lula em uma viagem à Arabia Saudita e China, em
maio de 2009. Na agenda de Costa consta jantares com Lula no dia 16 de
maio, quando a comitiva estava em Riad, capital da Arábia Saudita, e em
Beijing, a capital chinesa.
Logo depois de retornar ao Brasil,
Costa falou ao GLOBO sobre o projeto de construção de uma fábrica de
coque calcinado em parceria com a estatal saudita Modern Mining Holding
Company Limited. A participação da construtora Andrade Gutierrez na
planta saudita foi alvo de acareação entre Costa e Fernando Soares, o
Fernando Baiano. Os dois delatores negaram ter recebido propina.
A
agenda revela ainda almoço de Lula com Renato Duque, então diretor de
Serviços da Petrobras no dia 8 de novembro de 2007, na sede da empresa.
Nesta data, o presidente Lula participou de uma reunião do Conselho
Nacional de Política Energética (CNPE), na sede da Petrobras, no Rio,
antes de embarcar para o Chile.
A proximidade da diretoria da
Petrobras com o governo é revelada também com as menções na agenda ao
ex-ministro José Dirceu. Renato Duque, por exemplo, chegou a organizar o
encontro de José Eduardo Dutra, que presidiu a Petrobras, com o dono de
uma empresa de comunicação com a anotação "amigo de José Dirceu". O
então diretor da estatal também recebeu Marcelo Sereno, assessor de
Dirceu. Ainda em 2003, Silvio Pereira, secretário geral do PT, foi
recebido na Petrobras com a indicação "ministro José Dirceu".
Em
fevereiro de 2004, Dutra chegou a se reunir duas vezes em menos de uma
semana com José Dirceu. Uma delas na suíte 900 do Hotel Glória, no Rio, e
outra na Casa Civil, em Brasília, com a participação também da então
ministra Dilma Rousseff. Dois meses depois, em abril, Dutra também
esteve com Dirceu num café da manhã no Mar Hotel Recife.
Quando foram presos em fevereiro de 2016, Santana e Moura chamaram a
atenção pela tranquilidade com que seguiram o ritual da prisão. Mônica
até sorria enquanto mascava chicletes com as mãos presas por algemas
atrás do corpo.
Hoje, aparecem nos vídeos relatando também com naturalidade os detalhes de como funcionou o esquema patrocinado pela Odebrecht,
responsável pelo pagamento das campanhas vitoriosas de Lula, Dilma e
seus aliados na América Latina, como o falecido presidente venezuelano
Hugo Chávez. Um esquema que incluiu a participação de boa parte da
cúpula petista, para garantir a estratégia, segundo os delatores. José
Dirceu e Antônio Palocci tinham papeis de destaque. Dirceu, por exemplo,
teria articulado a participação dos marqueteiros na campanha à
reeleição de Hugo Chávez, em 2012. “A primeira viagem que João fez para
negociar a campanha foi num jatinho da Andrade Gutierrez”, relata Moura,
em seu depoimento às procuradoras da Lava Jato. Dirceu estava junto
nessa viagem. A Andrade pagou dois milhões de dólares do custo de
campanha. A Odebrecht, 7 milhões.
O
casal relatou também como a negociação de caixa 2 teria sido feita em
outra campanha, para a eleição do senador Delcídio do Amaral, então pelo
PT, em 2002. Santana revelou que visitou Amaral em sua casa e foi
convidado a tomar uma sauna com ele. “Entramos os dois para fazer sauna.
E foi aí que ele, quando entrou na sauna, e estávamos só nos dois, e
estávamos claramente protegidos, e sem roupa – porque podia ser que eu
tivesse alguma coisa para estar gravando – ele começou a conversar:
‘Esse pagamento é oficial, não tem que ser oficial, quanto custa’”,
relatou. A campanha teria custado 4 milhões de reais, dos quais metade
paga em caixa 2, segundo os delatores.
As revelações do casal
vieram um dia após o midiático depoimento do ex-presidente Lula ao juiz
Sérgio Moro, na ação que questiona a compra do apartamento no Guarujá,
supostamente vinculado a favores prestados à empreiteira OAS. Após cinco
horas de prestação de contas à Justiça num interrogatório a portas
fechadas que seria divulgado em vídeo horas depois, Lula parecia sair
aliviado de um purgatório, onde conseguiu se defender e relatar suas
mágoas ao juiz Moro, e lembrar seu papel de ex-presidente que merecia
ser tratado com respeito. Teve bem mais que 15 minutos de glória para
soltar suas frases de efeito e dizer ao juiz Moro que a história vai
julgá-lo em seu papel por abusos como o de ter liberado grampos pessoais
dele e de sua família. Seu regozijo, porém, durou menos que 24 horas, e
o ex-presidente parece ter entrado no inferno que coloca em dúvida seu
plano de sair ileso da Justiça e competir pela vaga ao Palácio do
Planalto.
Santana vem confirmar informações já reveladas por Marcelo Odebrecht dos pagamentos feitos no Brasil e num intrincado sistema de patrocínio
internacional, que incluía as campanhas em países onde a empreiteira já
atuava. Se Antônio Palocci, implicado tanto por Odebrecht como os
marqueteiros, relatar seu papel como avalista, o cerco a Lula deve se
fechar e a estratégia de defesa do ex-presidente, de negar sua
participação ou conhecimento em torno do propinoduto descoberto
inicialmente na Petrobras, fica cada dia mais difícil.
Tudo ainda
passará pelo crivo da Justiça – que tem Sergio Moro em primeiro plano,
cuja atuação vem sendo questionada por já aparentar uma condenação
prévia, endossando praticamente tudo o que apontam os procuradores – e
demandará provas do que dizem os delatores, para que confirmem ou
atenuem o veredito. Mas, o desgaste à imagem do ex-presidente, em capas
de revistas questionando sua inocência, e na pauta negativa contra ele
no noticiário, ganhou novos elementos. O ex-presidente vive a cruel
letargia de quem tem de provar inocência. A versão de quem o
responsabiliza de ter ciência do esquema internacional de caixa 2
circula muito mais rápido que a sua defesa. Se esse quadro só faz
crescer o linchamento público entre quem nunca gostou dele, ou se tira
apoio entre os que já votaram nele, só o tempo dirá. Por ora, o calvário
de Lula continua.