Fausto Macedo, Julia Affonso, Ricardo brandt e Mateus Coutinho
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Moro abre ação contra mulher de Cunha por lavagem de dinheiro.
A jornalista Claudia Cruz, mulher do deputado afastado Eduardo Cunha
(PMDB-RJ), se tornou ré na Operação Lava Jato. A denúncia contra Cláudia
Cruz foi aceita pelo juiz federal Sérgio Moro. Cláudia Cruz se torna ré
por lavagem de dinheiro de mais de US$ 1 milhão provenientes de crimes
praticados por Eduardo Cunha.
A denúncia foi proposta nesta semana
pela força-tarefa da Lava Jato. Além da esposa do deputado afastado,
outras três pessoas são acusadas.
Investigações
apontaram que Cláudia tinha plena consciência dos crimes que praticava e
é a única controladora da conta em nome da offshore Köpek, na Suíça,
por meio da qual pagou despesas de cartão de crédito no exterior em
montante superior a US$ 1 milhão num prazo de sete anos (2008 a 2014),
valor totalmente incompatível com os salários e o patrimônio lícito de
seu marido. Quase a totalidade do dinheiro depositado na Köpek (99,7%)
teve origem nas contas Triumph SP (US$ 1.050.000,00), Netherton (US$ 165
mil) e Orion SP (US$ 60 mil), todas pertencentes a Eduardo Cunha.
Segundo
a Procuradoria, as contas de Eduardo Cunha no exterior eram utilizadas
para, em segredo a fim de garantir sua impunidade, receber e movimentar
propinas, produtos de crimes contra a administração pública praticados
pelo deputado hoje afastado da presidência da Câmara. Por meio da mesma
conta Köpek, a acusada também se favoreceu de parte de valores de uma
propina de cerca de US$ 1,5 milhão que seu marido recebeu para
"viabilizar" a aquisição, pela Petrobras, de 50% do bloco 4 de um campo
de exploração de petróleo na costa do Benin, na África, em 2011.
Os
recursos que aportaram na conta de Cláudia Cruz foram utilizados, por
exemplo, para pagar compras de luxo feitas com cartões de crédito no
exterior. Parte dos gastos dos cartões de crédito, que totalizaram US$
854.387,31, foram utilizados, dentre outras coisas, para aquisição de
artigos de grife, como bolsas, sapatos e roupas femininas. Outra parte
dos recursos foi destinada para despesas pessoais diversas da família de
Cunha, entre elas o pagamento de empresas educacionais responsáveis
pelos estudos dos filhos do deputado afastado, como a Malvern College
(Inglaterra) e a IMG Academies LLP (Estados Unidos).
Cláudia
ainda manteve depósitos não declarados às repartições federais na
offshore Köpek em montante superior a US$ 100 mil entre os anos de 2009 e
2014, o que constitui crime contra o sistema financeiro nacional.
Também
são acusados nesta denúncia Jorge Luiz Zelada, ex-diretor da Área
Internacional da estatal petrolífera, pelo crime de corrupção passiva;
João Augusto Rezende Henriques, operador que representava os interesses
do PMDB no esquema, por corrupção passiva, lavagem de dinheiro e evasão
de divisas; e Idalecio Oliveira, empresário português proprietário da
CBH (Companie Beninoise des Hydrocarbures Sarl), pelos crimes de
corrupção ativa e lavagem de dinheiro.
Procuradores
comprovaram a partir de documentos enviados pelo Ministério Público da
Suíça ao Brasil, informações obtidas por meio das quebras de sigilo
bancário e fiscal e depoimentos de colaborações premiadas, o pagamento
de propina num total de US$ 10 milhões (cerca de R$ 36 milhões) para que
a aquisição do campo de petróleo na África fosse concretizada. O
negócio foi fechado em US$ 34,5 milhões, o que significa que quase um
terço do valor total foi destinado a pagamento de vantagem indevida.
Entre
os beneficiários da propina está o deputado afastado Eduardo Cunha, que
tinha participação direta na indicação e manutenção de cargos na
Diretoria Internacional da estatal, e que atuou de modo consistente para
que o negócio fosse fechado. Para que o pagamento fosse efetuado sem
deixar lastros, foi estruturado um esquema para que a propina passasse
por diversas contas em nome de "laranjas" (empresas offshores sediadas
em paraísos fiscais) antes de chegar nos destinatários finais e de ser
convertido em bens.
De acordo com a
Procuradoria, o caminho do dinheiro começa no pagamento da Petrobras à
petroleira CBH, que controlava o campo de petróleo na África. Em 3 de
maio de 2011 a estatal brasileira transferiu US$ 34,5 milhões (R$
138.345.000,00) para a empresa e, na mesma data, houve a transferência
de US$ 31 milhões da CBH para Lusitania Petroleum, uma holding de
propriedade de Idalecio de Oliveira que, abrange, entre outras empresas,
a própria CBH.
No dia 5 do mesmo mês a
Lusitania depositou, em favor da offshore Acona, de propriedade de João
Augusto Rezende Henriques, operador do PMDB no esquema da Petrobras, US$
10 milhões, que já haviam sido combinados como pagamento de vantagem
indevida. Da offshore Acona, 1.311.700,00 de francos suíços foi
depositado na conta Orion SP, de propriedade de Cunha, por meio de cinco
transferências bancárias entre os dias 30 de maio e 23 de junho de
2011.
Para dar continuidade ao estratagema
criminoso e dificultar a identificação dos recursos ilícitos por parte
das autoridades, em 11 de abril de 2014 a offshore Orion SP repassa para
a conta Netherton, cujo beneficiário final também era Eduardo Cunha,
970.261,34 mil francos suíços e 22.608,37 (euros). Na sequência, em
agosto de 2014, houve a transferência de US$ 165 mil da conta Netherton
para a offshore Köpek, em nome de Cláudia Cruz.
A
conta Köpek, que desde 2008 já era abastecida por recursos de vantagens
indevidas provenientes de outras contas secretas titularizadas por
Eduardo Cunha, realizou pagamentos das faturas de cartão de crédito da
American Express entre 2008 e 2012 e da Corner Card, entre 2012 e 2015.
Todos os pagamentos são objeto da denúncia.
Segundo
as investigações, o restante do valor da propina paga pela CBH para
fechar o negócio com a Petrobras (algo em torno de US$ 8,5 milhões) e
que foi depositado na conta Acona, de João Augusto Rezende Henriques,
foi distribuído para diversas outras offshores cujos beneficiários ainda
não foram identificados, havendo suspeitas de que outros agentes
públicos receberam propinas nessa operação.
Os
procuradores da Força Tarefa ressaltam que "as provas que embasaram as
acusações indicam a existência de um quadro de corrupção sistêmica
encravado em praticamente todos os contratos da Diretoria Internacional
da estatal, sendo que o pagamento de propina era a verdadeira ``regra do
jogo´´. A corrupção foi a um nível em que as provas indicam que um
terço do valor do negócio foi reservado para pagar propinas. Isso mostra
a necessidade de uma resposta institucional com reformas, dentre as
quais a reforma política e as 10 medidas contra a corrupção".
Para
a Força Tarefa, "as provas mostram que os denunciados desviaram
dinheiro dos cofres da Petrobras, os quais têm sido objeto de aportes
feitos a partir dos cofres da União. Em última análise, há evidências de
que Eduardo Cunha e Cláudia Cruz se beneficiaram de recursos públicos
que foram convertidos em bolsas de luxo, sapatos de grife e outros bens
de uso privado.
"Os procuradores ainda
acreditam que as instituições devem dar resposta, cada uma em sua esfera
de ação, para os graves fatos noticiados, pois o poder e a confiança
depositados pelo povo e pelo Congresso sobre Eduardo Cunha foram por ele
desviados de sua finalidade pública para enriquecimento privado. Em
virtude da cisão do caso e da necessidade de analisar as provas dos
crimes antecedentes praticados por Eduardo Cunha, a fim de que fosse
possível formular juízo de acusação sobre Cláudia Cruz, foi possível
afirmar na denúncia que há fortes provas de corrupção e lavagem por meio
de contas no exterior cujos verdadeiros proprietários eram, segundo
evidências muito consistentes, Eduardo Cunha e Cláudia Cruz.
Na
denúncia, a força-tarefa Lava Jato ainda pede nova prisão preventiva de
João Augusto Rezende Henriques e a fixação do montante mínimo para
reparação dos danos causados em US$ 10 milhões (R$ 36 milhões). As
investigações prosseguirão em relação a Daniele Ditz, filha de Eduardo
Cunha, e a outros investigados, Jorge Reggiardo e Luis Pittaluga, que
atuaram como operadores para abertura da conta Netherton.