sábado, 13 de maio de 2017

Palocci decide fazer acordo de delação com Lava Jato




palocci-pf-curitiba-26-09-2016-04 © Vagner Rosario palocci-pf-curitiba-26-09-2016-04 
 
O ex-ministro da Fazenda e da Casa Civil Antonio Palocci decidiu negociar um acordo de delação premiada com a Operação Lava Jato e comunicou a sua intenção a seu advogado de defesa, o criminalista José Roberto Batochio, inclusive dizendo que ele terá de se afastar do caso.

A negociação do acordo de delação será feita pelos advogados Adriano Bretas e Tracy Reinaldeti, de Curitiba – eles tinham sido dispensados por Palocci após terem sido contratados pelo petista para tocar o acordo de colaboração com o Ministério Público Federal. Agora, Palocci mudou de ideia e decidiu recontratar os advogados, que são especialistas em acordo de delação.

Batochio já protocolou nesta sexta-feira a sua desistência da defesa de Palocci, ao lado de outros três advogados. Na petição, o advogado diz que “deixam o patrocínio da causa, tendo em vista a mudança de orientação da defesa técnica por parte do constituinte”.

Réu em dois processos em Curitiba, Palocci teme que suas condenações possam ultrapassar os 30 anos de prisão. Segundo a reportagem da Folha de S. Paulo, que antecipou a informação nesta sexta-feira, o afastamento de Batochio foi uma exigência da força-tarefa da Lava Jato porque o criminalista é contrário a esse tipo de acordo.

Depoimento alimenta críticas a Moro e sugere rota de condenação de Lula




Lula durante evento após seu depoimento. © FERNANDO BIZERRA JR Lula durante evento após seu depoimento. 
  Na ação contra o petista, que o acusa de ter recebido vantagens indevidas no valor de 3,7 milhões de reais feitas ao petista pela empreiteira OAS por meio de um tríplex no Guarujá e de dinheiro para o armazenamento de seu acervo, Lula responde pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro por ocultação de bens. Caberá a Moro pesar na balança o conteúdo probatório apresentado. O processo, que caminha para seus passos finais, pode se estender por mais tempo: defesa e acusação pediram ao juiz Moro para ouvir mais testemunhas. Caso o magistrado concorde com as novas oitivas, as alegações finais das partes, que ainda não tinha sequer data marcada, e a sentença serão postergadas.

Nos itens abaixo, passamos em revista as controvérsias envolvendo Moro e os pontos críticos do depoimento de Lula analisados por especialistas, além de outros riscos legais que podem ser obstáculos para o petista.

Questionamentos e a linha argumentativa de  Moro

O magistrado já foi alvo de críticas de advogados e juristas, ligados e não ligados aos casos da Operação Lava Jato, por fazer uma espécie dobradinha com o Ministério Público, num alinhamento entre acusação e juiz que não faz parte do arcabouço legal brasileiro. O depoimento de Lula reacendeu as reservas, que também se estendem à prática de determinar conduções coercitivas (depoimentos compulsórios) e aplicar alongadas prisões preventivas a investigados, réus e condenados. Até o caso do habeas corpus concedido a José Dirceu no Supremo Tribunal Federal, as teses de Moro estavam sendo quase que integralmente aceitas pelos tribunais superiores.

Na audiência de quarta-feira o juiz fez mais questionamentos a Lula do que os procuradores. Sua linha argumentativa deu um indicativo de que pode estar inclinado a acatar a tese da acusação de que o ex-presidente era uma espécie de "comandante da propinocracia" envolvendo o PT e a Petrobras. Moro perguntou a Lula sua opinião com relação ao escândalo do Mensalão, por exemplo, fato questionado pela defesa por ser estranho à ação penal envolvendo o tríplex. Mensalão é descrito, porém, como "face da mesma moeda" do escândalo da Lava Jato na denúncia aceita por Moro contra Lula. Em despacho recente para defender a manutenção da prisão preventiva de do ex-ministro Antonio Palocci, o juiz também considera que os dois escândalos estão interligados.

A caracterização dos crimes

Nesta ação, Lula responde pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro por ocultação de bens. A defesa do ex-presidente repete que não existem provas concretas sobre a ocorrência de qualquer delito ("Não solicitei, não recebi, não paguei e não tenho nenhum triplex", disse Lula). A acusação conta com o depoimento de diretores e funcionários da empreiteira segundo os quais o imóvel estava "reservado" a Lula como contrapartida a três contratos obtidos com a Petrobras pela empresa. Além disso, a força-tarefa também se apoia nas relações de proximidade do petista com os envolvidos, em provas circunstanciais e deslizes cometidos pelo ex-presidente durante a oitiva.

Especialistas ouvidos pelo EL PAÍS acreditam que a acusação de lavagem de dinheiro será difícil de ser comprovada - uma vez que Lula e sua família não chegaram a tomar posse ou sequer usufruir do apartamento, algo que ocorreu, por exemplo, no sítio de Atibaia frequentado pelo petista, que deve ser alvo de uma ação penal em breve.

"Quando pensamos em crime organizado envolvendo OAS, Odebrecht e outras empresas de estrutura, não podemos achar que haveria uma matrícula em nome de Lula", afirma o jurista Walter Maierovitch. Para ele, nesses casos de corrupção é preciso "construir o quadro probatório, que vai trabalhando com casos indiciários, um indício aqui, outro ali. Você faz um mosaico, e vai encaixando as pedras. Muitas vezes o segredo está em um detalhe", diz. Para a força-tarefa as peças são, em grande parte, agendas com reuniões em datas casadas e pequenas contradições nos depoimentos. Maierovitch diz ainda que para que se configure o crime de corrupção passiva não é necessário que a eventual vantagem se concretize, basta que seja solicitada ou que seja aceita uma promessa de tal vantagem. Ou seja, caso Moro entenda que Lula teria de alguma forma aceitado que a OAS iria lhe repassar o tríplex, já se configura crime.

As contradições de Lula

Um dos deslizes do ex-presidente durante a oitiva foi uma contradição sobre a relação entre o ex-diretor da Petrobras Renato Duque e o ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto. Em um primeiro momento da oitiva o petista disse que ficou sabendo que os dois tinham relação "pela denúncia do Ministério Público Federal (...) eu sei que tinha [amizade entre ambos] porque, na denúncia, aparece que eles tinham relação". Posteriormente ao longo de seu depoimento, Lula afirma que pediu a Vaccari que agendasse reunião com Duque. O pedido teria sido feito em uma data anterior à denúncia contra o ex-diretor da estatal petroleira. De acordo com o Ministério Público, o ex-tesoureiro era um intermediário entre Lula e a OAS nas negociações envolvendo o tríplex e outros crimes investigados pela Lava Jato.

Para Marcelo Figueiredo, professor de Direito da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, essas contradições "fragilizam" a defesa de Lula e podem "influenciar o juízo de Sérgio Moro". "Além disso ele foi muito evasivo, por vezes provocativamente evasivo. Em várias respostas, disse não recordar de datas e testemunhas, o que não é bom em uma ação penal", afirma.

Outro ponto no qual o ex-presidente ficou em situação vulnerável foi quando desmentiu durante o depoimento uma nota do Instituto Lula. A mensagem publicada no site da entidade afirma que a família de Lula desistiu de comprar o tríplex "porque, mesmo tendo sido realizadas reformas e modificações no imóvel (que naturalmente seriam incorporadas ao valor final da compra), as notícias infundadas, boatos e ilações romperam a privacidade necessária ao uso familiar do apartamento”. O petista afirmou a Moro que desconhecia a realização de obras no imóvel, e que a nota divulgada não teve sua anuência.

O mosaico de indícios probatórios montado pela acusação leva em conta uma série reuniões feitas por Lula com outros acusados no esquema. O ex-presidente foi questionado sobre as conversas que ele teria tido com o ex-presidente da OAS Leo Pinheiro. Os encontros constavam na agenda do petista, que diz ter discutido com o empreiteiro sobre o tríplex apenas uma vez, no Instituto Lula, e depois "não toquei mais no assunto". Segundo Lula, na ocasião Pinheiro teria dito que ele "precisava conhecer" o apartamento, o que foi feito. Os procuradores então mencionam uma série de reuniões que constam na agenda do ex-presidente, nas quais ele teria encontrado com o empreiteiro. Lula confirma este fato, mas nega que tenham tratado do tríplex.

Mais adiante na audiência, os procuradores destacam duas reuniões ocorridas na mesma data, em 25 de julho de 2014, nas quais Lula teria se encontrado com Leo Pinheiro e depois com Vaccari, preso pela Operação. O petista nega que tenha tratado sobre o assunto com qualquer um dos dois nesta data.
Também chamou a atenção dos procuradores o fato de que, em 3 de junho de 2014, com a Lava Jato já deflagrada, Lula teria se reunido no mesmo dia com Pinheiro e Sergio Machado, ex-diretor da Transpetro, uma subsidiária da Petrobras. Machado, que assinou acordo de delação premiada, ganhou notoriedade por arrastar boa parte da cúpula peemedebista para o escândalo de corrupção. Segundo Lula, na conversa ele e o diretor falaram sobre modelos de navios e nomes que poderiam ser dados às embarcações para "homenagear personalidades brasileiras históricas". Ele negou que tenha falado sobre a Operação ou sobre o tríplex nos encontros.

Dona Marisa

No depoimento a Moro o ex-presidente afirmou que a ideia de adquirir uma cota no empreendimento - então sob responsabilidade da Cooperativa dos Bancários de São Paulo - foi de sua mulher Marisa Letícia, morta em fevereiro deste ano e que também era alvo desta mesma ação penal. Segundo a narrativa do petista, todos os detalhes envolvendo pagamento das cotas, o interesse e a posterior desistência no imóvel após a OAS assumir a obra foram de Marisa. Lula afirmou que ela visitou o apartamento sem seu conhecimento. O procurador Carlos dos Santos Lima, que participou da audiência de Lula, criticou a "responsabilização" da ex-primeira-dama por parte da defesa do petista. "Infelizmente, as afirmações em relação à dona Marisa a responsabilizando por tudo é um tanto triste de se ver feitas nesse momento até porque, como o ex-presidente disse, ela não está aí para se defender", afirmou. A ação contra Marisa foi extinta.

sexta-feira, 12 de maio de 2017

Dilma usou codinome “Iolanda” em e-mail secreto para João Santana



DILMA-ROUSSEFF-ENTREVISTA-FOLHA-2017-786 © Marlene Bergamo DILMA-ROUSSEFF-ENTREVISTA-FOLHA-2017-786 
 
A ex-presidente Dilma Rousseff é acusada de ter utilizado um e-mail fictício, com o codinome “Iolanda”, para avisar o casal de marqueteiros João Santana e Mônica Moura sobre a sua iminente prisão na Operação Lava-Jato. O relato dessa tramoia consta nos depoimentos do acordo de delação premiada do publicitário e de sua mulher, detalhado na edição de VEJA desta semana. Santana e Moura contaram ao Ministério Público Federal que Dilma os alertou com o seguinte texto cifrado, salvo na pasta de rascunhos: “O seu grande amigo está muito doente. Os médicos consideram que o risco é máximo, 10. O pior é que a esposa, que sempre tratou dele, agora está com câncer e com o mesmo risco. Os médicos acompanham os dois, dia e noite”. O doente, nesse caso, seria o publicitário, enquanto a “esposa” é uma referência à Mônica Moura.

Poucos dias depois desse aviso clandestino, Dilma ligou para Santana, que estava na República Dominicana. Nessa chamada telefônica, a ex-presidente, que recomendara ao casal se afastar do Brasil, avisou o marqueteiro que a sua prisão estava decretada, segundo relato de Mônica Moura. No dia seguinte, em 22 de fevereiro de 2016, a Polícia Federal deflagrou a 23ª fase da Operação Lava-Jato, batizada de Operação Acarajé, cujos principais alvos eram os marqueteiros do PT. Segundo Mônica Moura, as informações sobre as investigações da Lava-Jato seriam vazadas pelo ex-ministro da Justiça José Eduardo Cardozo. Procurados, Dilma e Cardozo negam as acusações.

Ministério Público avalia que depoimento não ajudou Lula e o ex-presidente pode ser condenado por tríplex




Lula discursa em Curitiba após prestar depoimento ao juíz Sérgio Moro © REUTERS/Paulo Whitaker Lula discursa em Curitiba após prestar depoimento ao juíz Sérgio Moro 
 
A equipe de procuradores da operação Lava Jato não tem dúvidas de que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva pode ser condenado por recebimento de propina no caso do apartamento tríplex e considera que o depoimento de quarta-feira, comemorado pelos advogados como uma vitória do ex-presidente, ajudou a acusação, disse à Reuters uma fonte próxima ao assunto.

Um dos principais pontos que os procuradores acreditam ter ajudado a acusação é o fato de que Lula confirmou a conversa com ex-diretor de Serviços da Petrobras Renato Duque, que teria ocorrido em um hangar de uma companhia aérea no aeroporto de Congonhas.

Em sua delação premiada, Duque diz que Lula perguntou a ele se tinha contas no exterior e o havia orientado a não ter nada em nome dele. 

"Nos pegou de surpresa que ele confirmasse. Não faz sentido um presidente que alegava não saber de nada o que acontecia na Petrobras ter chamado um diretor para perguntar disso", explicou a fonte.
No depoimento a Moro, o ex-presidente confirma que encontrou Duque no aeroporto em São Paulo e o questionou, mas porque havia reportagens falando em contas no exterior. 

"A pergunta que eu fiz para o Duque foi simples: 'Tem matéria nos jornais, tem denúncias de que você tem dinheiro no exterior, está pegando da Petrobras'. Eu falei: 'Você tem conta no exterior?' Ele falou: 'Não tenho'. Eu falei: Acabou'. Se não tem, não mentiu para mim. Mentiu para ele mesmo", disse Lula no depoimento.

Os procuradores também estranharam o fato de Lula simplesmente atribuir fatos a sua esposa, Marisa Letícia, morta no início deste ano, ou dizer que desconhecia o que lhe era perguntado, mesmo quando se tratava de documentos que foram encontrados em sua casa durante uma das fases da operação Lava Jato, em 2016 --quando o ex-presidente também foi levado a depor coercitivamente. 

"Normalmente as pessoas vêm e dão uma versão, mesmo que fantasiosa sobre os fatos. Ele nem mesmo isso fez, não tentou construir uma versão para os documentos, nada. O que ele fez lá não faz o menor sentido.", disse a fonte. 

Lula é acusado de corrupção passiva e lavagem de dinheiro no caso do apartamento tríplex no Guarujá (SP). Os procuradores o acusam de ter recebido o imóvel como propina da construtora OAS.
Segundo a acusação, Lula e Marisa Letícia nunca assinaram a desistência do direito ao imóvel que tinham pela cooperativa dos bancários, Bancoop, quando a obra foi assumida pela OAS, e nem pagaram a diferença que os demais condôminos que optaram por continuar tiveram que pagar. Ainda assim, mantiveram a opção de compra de um apartamento ainda maior do que previsto originalmente, o hoje famoso tríplex. 

A defesa de Lula alega que Marisa --a proprietária original-- desistiu sim do apartamento porque Lula não quis ficar e que todos os documentos relativos ao imóvel comprovam que ele sempre pertenceu à OAS.

Lula disse ao juiz Sergio Moro, no depoimento, que as negociações relativas ao apartamento foram feitas por Marisa, que era a proprietária das cotas da Bancoop, e ele mesmo só foi ao apartamento uma vez e não sabia das negociações. 
 
"Isso foi um processo que se desenrolou por quatro, cinco anos. Dona Marisa escondeu isso tudo dele durante todo esse tempo?", questionou a fonte.

Lula é alvo de cinco ações penais, três delas pela operação Lava Jato. A relativa ao apartamento no Guarujá é a que está em fase mais adiantada e a sentença pode sair até o meio do ano. 

Nesta quarta-feira se encerrou o prazo para a Procuradoria apresentar pedidos de diligências complementares. Esta tarde, o MPF pediu para acrescentar ao processo o depoimento de uma testemunha, Érica Monteiro Malzone, ex-funcionária da OAS empreendimentos, que havia prestado esclarecimentos em abril. 

Em seu depoimento, Érica fala do projeto de reforma para uma cobertura no edifício Solaris da qual tratou e de que há indícios de que seria a destinada ao ex-presidente. Érica disse nunca ter sabido o nome da pessoa para quem o projeto estava sendo feito, só que era um cliente especial.

De acordo com a fonte ouvida pela Reuters, entre 50 e 60 dias o processo deve estar pronto para ir à sentença de Sérgio Moro, e o MP irá pedir sua condenação.

quinta-feira, 11 de maio de 2017

Temer sanciona lei que cria documento de identificação único para brasileiros



InfoMoney (Reprodução) 
  © Reprodução InfoMoney

SÃO PAULO – O presidente Michel Temer sancionou, na tarde desta quinta-feira (11), a lei que cria a Identificação Civil Nacional (ICN), documento que unifica o RG, título de eleitor e CPF. Ele unifica, além dos dados civis, os dados biométricos dos brasileiros.

A base de dados para o ICN, entretanto, deve ficar pronta somente em 2021, de acordo com informações do Valor Econômico – e, por isso, ainda não há data prevista de emissão do novo documento.

A criação do documento é de responsabilidade do Tribunal Superior Eleitoral, que utilizará, além do cadastro eleitoral, a base de dados do Sistema Nacional de Informações de Registro Civil e os registros biométricos das Polícias Federal e Civil – e também do próprio STE, que tem coletado as biometrias de cidadãos desde a última eleição.

A lei vetou três artigos do texto original aprovado pelo Congresso: a gratuidade da primeira emissão do documento, o artigo que estabelecia a emissão do documento exclusiva à Casa da Moeda e a punição para o caso de comercialização do banco de dados para emissão do documento.

Mônica: Dilma tinha pleno conhecimento de caixa 2 em sua campanha




Dilma Rousseff e João Santana © Marcelo Justo Dilma Rousseff e João Santana 
 
Dilma Rousseff tinha “pleno conhecimento” de como a Odebrecht atuava, em sua campanha, para quitar dívidas, por meio de caixa dois, ao casal João Santana e Mônica Moura. A revelação foi feita pela própria Mônica em acordo de delação premiada no âmbito da Operação Lava-Jato. A petista sempre tentou se desvincular de irregularidades no sistema de arrecadação nas eleições que disputou, mas o detalhamento feito por Mônica Moura e as provas que ela apresentou aos procuradores que atuam na investigação jogam por terra o discurso de defesa de Dilma.

De acordo com os depoimentos de Mônica Moura, por ordem de Dilma, cabia ao então ministro Guido Mantega negociar os valores a serem pagos no marketing da corrida eleitoral de 2014. Mantega, apelidado de “Laticínio” nos registros da delatora – um trocadilho com “manteiga” – fazia questão que as conversas ocorressem sempre em sua residência oficial, em Brasília. Em uma das reuniões sobre o tema, foi acordado que João Santana receberia 105 milhões de reais pelos serviços da campanha, sendo que 35 milhões de reais deveriam, necessariamente, ser quitados por meio de caixa dois.

Para consolidar a transação, Mônica relata, em sua delação, que Mantega a orientou a procurar a empresa Odebrecht para quitar a parcela de caixa dois combinada. Os detalhes dos pagamentos irregulares, disse a delatora e sócia de João Santana, foram negociados com Hilberto Mascarenhas e Fernando Migliaccio, dois executivos que atuavam no Setor de Operações Estruturadas da Odebrecht, nome pomposo para o setor de propinas da empreiteira. Parte dos valores seria repassada no Brasil. Outra, a uma conta no exterior.

Em hotéis e flats no Brasil, João Santana e Mônica Moura receberam 10 milhões de reais dos 35 milhões de reais acordados. O restante, que seria enviado pela Odebrecht ao exterior para quitar o débito, nunca foi pago. Motivo: a Operação Lava Jato ganhava corpo e o conglomerado comandado na época por Marcelo Odebrecht temia que fossem fornecidas informações da Suíça que ligassem a companhia ao casal de marqueteiros.

Diante do calote de 25 milhões de reais, João Santana, que usualmente tratava da parte criativa no marketing, e não de assuntos financeiros, assumiu o papel de “cobrador oficial” do passivo junto à própria Dilma Rousseff. Mônica Moura também aproveitava intervalos de gravações para cobrar de Dilma a dívida. A petista sempre afirmava estar disposta a ajudar e, segundo Mônica, “desde o início, tinha pleno conhecimento de que a Odebrecht ficara responsável pelo pagamento não oficial”.

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Força-tarefa da Lava Jato vê "muitas contradições" em depoimento de Lula




Lula faz discurso após prestar depoimento em Curitiba © REUTERS/Paulo Whitaker Lula faz discurso após prestar depoimento em Curitiba 
 
A força-tarefa da operação Lava Jato em Curitiba disse nesta quinta-feira que houve "muitas contradições" no depoimento prestado na véspera pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e acusou a defesa do ex-presidente de prestar informação falsa ao afirmar em entrevista coletiva que não teve acesso a um documento citado no interrogatório.

Em nota, a força-tarefa afirmou que se manifestará oportunamente sobre essas contradições que os procuradores dizem ter identificado no depoimento, concedido no âmbito da ação penal em que Lula é acusado de ter recebido um apartamento tríplex como propina no esquema de corrupção na Petrobras.

"Quanto às muitas contradições verificadas no interrogatório do ex-presidente Lula, à imputação de atos à sua falecida esposa, à confissão de sua relação com pessoas condenadas pela corrupção na Petrobras e à ausência de explicação sobre documentos encontrados em sua residência, o Ministério Público Federal se manifestará oportunamente, no processo, especialmente nas alegações finais", afirma a nota.

No depoimento da quarta-feira, Lula disse que sua mulher, a ex-primeira-dama Marisa Letícia, que morreu em fevereiro vítima de um acidente vascular cerebral, teve interesse na aquisição de um apartamento tríplex no Guarujá e que era ela quem tratava dos assuntos relacionados ao apartamento e à cota de um imóvel da Bancoop, a cooperativa dos bancários, que ela havia adquirido no mesmo prédio onde fica o tríplex.

Os procuradores negaram que os advogados de Lula não tenham tido acesso a uma ata de reunião de diretoria da Petrobras usada na audiência e afirmaram que o documento foi anexado ao processo em setembro de 2016.

"A informação (dos advogados de Lula) é falsa, uma vez que o documento está no processo desde 14 de setembro de 2016, data da acusação criminal", informou a força-tarefa.

Lula é acusado de ter recebido o tríplex da OAS em troca de beneficiar a empreiteira em contratos de refinarias com a Petrobras.

O ex-presidente nega ser o dono do imóvel e sua defesa afirma que ele é alvo de perseguição política promovida por parte dos integrantes do Judiciário e do Ministério Público.

(Por Eduardo Simões)

quarta-feira, 10 de maio de 2017

Comissão da Câmara encerra votação da reforma da Previdência; texto vai a plenário




Texto ainda precisa ser votado em dois turnos na Câmara © Foto: André Dusek/Estadão Texto ainda precisa ser votado em dois turnos na Câmara 
 
BRASÍLIA - Deputados encerraram nesta terça-feira, 9, a votação dos destaques ao texto principal da reforma da Previdência na comissão especial da Câmara. O texto agora segue para o plenário da Casa, onde precisa de 308 votos favoráveis em duas votações para seguir para o Senado.

Em uma sessão que durou cerca de nove horas, parlamentares aprovaram apenas um destaque ao texto-base da proposta. A mudança manteve na esfera estadual as ações judiciais contra o INSS. A proposta do relator, deputado Arthur Maia (PPS-BA), era que esses processos passassem à competência da União.


Um acordo, que pode trazer prejuízos aos cofres federais, foi costurado nos bastidores depois de outro acerto feito ainda na semana passada, em que o deputado Arnaldo Faria de Sá (PTB-SP) assegurou o apoio a essa votação em troca da retirada da proposta de aposentadoria especial para agentes penitenciários, cujo destaque era de sua autoria. 

A negociação foi o estopim para que agentes da categoria invadissem a Câmara dos Deputados na última quarta-feira, dia 3, logo após a aprovação do texto principal da reforma na comissão. O tumulto fez com que a conclusão dos trabalhos fosse adiada para hoje.


A Justiça Estadual tem hoje a prerrogativa de julgar ações envolvendo benefícios previdenciários ou por acidente de trabalho, como é o caso da concessão de auxílio-doença. 

O governo federal propôs mudar essa regra, remetendo todas essas ações (em que a União é parte envolvida) à Justiça Federal. Mas os deputados da comissão especial derrubaram essa previsão em votação simbólica, em que não é preciso declarar abertamente o voto individual - o que inclusive contraria acordo inicial de procedimento de que todas as votações seriam nominais.

A grande questão, segundo uma fonte, é que o julgamento dessas ações pela Justiça Estadual acaba sendo um ótimo negócio tanto para os beneficiários quanto para os escritórios que atuam em suas defesas. 

Muitos juízes concedem liminares determinando à União o início imediato da concessão do benefício, antes mesmo da realização de perícia médica para averiguar as condições do segurado. 

Mesmo nas decisões finais, a jurisprudência estadual é mais favorável do que as sentenças nas varas federais./COM AGÊNCIA CÂMARA

segunda-feira, 8 de maio de 2017

Moro diz que Lula quer transformar interrogatório em ato político




O juiz federal Sergio Moro – 01/12/2017 © Adriano Machado O juiz federal Sergio Moro – 01/12/2017 
 
O juiz federal Sergio Moro rejeitou nesta segunda-feira o pedido da defesa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para fazer uma gravação autônoma e para mudar o ângulo do vídeo do interrogatório do petista, que acontecerá nesta quarta-feira. No despacho, o magistrado escreveu que Lula quer transformar o depoimento em um “evento político-partidário”, cujo propósito é estranho e proibido à ação penal em que é réu por corrupção e lavagem de dinheiro no caso do tríplex do Guarujá (SP).

A defesa do ex-presidente alegava que o foco da câmera exclusivo no acusado — que é padrão nas oitivas de réus e testemunhas da Operação Lava Jato — geraria uma “imagem negativa” e “inferiorizada” de Lula, violando, assim, no seu entendimento, a presunção de inocência. Por isso, os advogados pediam que a câmera registrasse o que se passava em todo o recinto da audiência e não apenas o depoimento. Em petição na última sexta-feira, sugeriram até que as imagens fossem feitas pelo fotógrafo oficial de Lula, Ricardo Stuckert, com um equipamento profissional.

“Não se ignora que o acusado Luiz Inácio Lula da Silva e sua Defesa pretendem transformar um ato normal do processo penal, o interrogatório, oportunidade que o acusado tem para se defender, em um evento político-partidário, tendo, por exemplo, convocado militantes partidários para manifestações de apoio ao ex-presidente na referida data e nessa cidade [Curitiba], como se algo além do interrogatório fosse acontecer”, escreveu Sergio Moro na decisão de hoje. O PT e movimentos pró-Lula organizaram para esta semana carreatas para a capital paranaense, onde pretendem instalar acampamentos e fazer manifestações. “A gravação pela parte da audiência com propósitos político-partidários não pode ser permitida pois se trata de finalidade proibida para o processo penal”, completou o juiz. 

O Ministério Público Federal e a defesa do ex-presidente da OAS Léo Pinheiro, que também é réu no processo, pronunciaram-se contrariamente à mudança na forma de gravação do interrogatório. Acatando os argumentos da procuradoria, Moro explicou que o foco no depoente se dá porque se trata de “elemento probatório relevante” que será avaliado por outras instâncias da Justiça. “Não há qualquer intenção de prejudicar o acusado ou sugerir a sua culpa com esse foco, tanto assim que o depoimento das testemunhas, que não sofrem qualquer acusação, é registrado da mesma forma”, disse o juiz.

Apesar da constatação, Moro resolveu ceder em parte ao pedido do ex-presidente e, “para evitar qualquer afirmação equivocada de que se pretende esconder algo”, definiu que será usada uma outra câmera para fazer imagens laterais e com o ângulo aberto da audiência. O equipamento será operado por um servidor do tribunal.

No despacho, o juiz da Lava Jato também proibiu os procuradores e advogados, que participarão da sessão, de entrar na sala com aparelhos celulares. Segundo ele, o objetivo é evitar vazamentos à imprensa, como aconteceu com o depoimento de Marcelo Odebrecht no dia 10 de abril.

No último sábado, o juiz fez um apelo para que os seus seguidores não se manifestem em frente ao prédio da Justiça Federal de Curitiba. “Não venham. Não precisa. Deixem a Justiça fazer o seu trabalho. Tudo vai ocorrer com normalidade”, disse em vídeo publicado no Facebook. Enquanto Moro busca arrefecer o ânimo dos manifestantes pró-Lava Jato, Lula e os seus apoiadores planejam dar ao interrogatório ares de embate político. Os movimentos prepararam até uma programação de atividades para quarta-feira, que inclui palestras, shows e um comício do ex-presidente após o interrogatório.

Lula pede imediata suspensão da ação do triplex




Fachada do Condomínio Solaris, no Guarujá © Foto: Motta Jr./Futura Press Fachada do Condomínio Solaris, no Guarujá 
 
A defesa do ex-presidente Lula pediu por meio de habeas corpus a imediata (concessão de liminar) suspensão do processo criminal em que ele é réu por corrupção e lavagem de dinheiro no caso triplex - imóvel situado no Guarujá, litoral de São Paulo, que a Lava Jato diz pertencer a Lula, o que é negado por ele.

A defesa alega que não dispõe de tempo suficiente para analisar o conteúdo de uma supermídia com 5,42 gigabytes com documentos que a Petrobrás anexou aos autos - estima-se que o arquivo tenha 100 mil páginas.


Se a Corte federal acolher a liminar, o interrogatório de Lula terá de ser adiado.

Os advogados de Lula solicitaram pelo menos 90 dias para examinar os documentos da Petrobrás e querem que o Tribunal determine 'a renovação dos atos processuais prejudicados pelos atos ilegais impugnados, em especial, o interrogatório marcado para o dia 10 de maio de 2017 e a etapa do artigo 402 do Código de Processo Penal'.

O pedido da defesa pode afetar tudo que já foi realizado na fase de instrução do processo, depoimentos de testemunhas e de outros réus, provas periciais, entre outros atos.

O ex-presidente vai ser interrogado nesta quarta-feira, 10, pelo juiz federal Sérgio Moro. Na ação, ele é acusado de ter recebido R$ 3,7 milhões em propinas da OAS que, em troca, teria fechado três contratos com a Petrobrás, supostamente por ingerência de Lula.

O habeas que pede a imediata suspensão do processo criminal foi protocolado, segundo a defesa, no Tribunal Regional Federal da 4.ª Região (TRF4), que tem jurisdição e competência para confirmar ou barrar medidas de Moro.

A defesa quer que 'seja concedido prazo razoável para a análise dos documentos, além da apresentação da íntegra da relação antes requerida e deferida pelo Juízo, com a eventual renovação dos atos processuais subsequentes que tenham sido prejudicados pela decisão ilegal'.

Segundo os advogados de Lula - criminalistas Cristiano Zanin Martins e Roberto Teixeira -, os documentos da Petrobrás foram solicitados desde 10 de outubro de 2016, mas 'foram levados - em parte - ao processo somente nos dias 28 de abril e 2 de maio de 2017, por meio digital'.

"A mídia apresentada perfaz 5,42 gigabytes e foi levada aos autos sem índice e de forma desorganizada. Há cerca de 5 mil documentos (técnicos, negociais e jurídicos) e são estimadas cerca de 100 mil páginas."

"É materialmente impossível a defesa analisar toda essa documentação até o próximo dia 10, quando haverá o interrogatório do ex-presidente e será aberto o prazo para requerimento de novas provas (Código de Processo Penal, artigo 402)'.

Segundo os advogados de Lula, 'sequer a impressão foi concluída a despeito da contratação de uma gráfica para essa finalidade'.

"Mas o juízo da 13.ª Vara Federal de Curitiba negou prazo adicional por nós requerido e também negou a entrega do restante da documentação não apresentada, contrariando sua própria decisão anterior e o compromisso assumido pela Petrobrás em audiência de disponibilizar tudo o que havia sido solicitado", argumenta a defesa do petista.

"A negativa do juiz causa inequívoco prejuízo à defesa de Lula, pois a acusação faz referência a três contratos firmados entre a Petrobrás e a OAS e ao processo de contratação que o antecedeu, mas somente algumas peças foram anexadas à denúncia após terem sido selecionadas pelo Ministério Público Federal."

Os advogados de Lula sustentam que 'a decisão fere a garantia da paridade de armas, pois, além de os documentos negados serem do conhecimento da acusação, que fez diversas requisições diretamente à Petrobrás e foi atendida, a petrolífera pediu e obteve no processo a função de assistente de acusação'.

"É manifestamente incompatível com essa garantia de paridade de armas que somente a acusação e sua assistente tenham acesso a documentos relativos a contratos tratados na ação penal."

"Em razão disso, protocolamos hoje um habeas corpus em favor de Lula perante o Tribunal Regional Federal da 4.ª Região, pedindo liminarmente a suspensão do processo e, ao final, a concessão da ordem para que seja concedido prazo razoável para a análise dos documentos, além da apresentação da íntegra da relação antes requerida e deferida pelo Juízo, com a eventual renovação dos atos processuais subsequentes que tenham sido prejudicados pela decisão ilegal."

Cristiano Zanin Martins e Roberto Teixeira

domingo, 7 de maio de 2017

Aposentado do Estado custa dez vezes mais




Por ano, União e Estados gastam algo como R$ 315 bilhões para cobrir os déficits do INSS e das previdências públicas. Pouco mais de R$ 150 bilhões ajudam a pagar 30 milhões de benefícios do INSS, no sistema privado. No entanto, um valor maior – R$ 164 bilhões – é drenado para tapar o buraco nas previdências públicas, criado por apenas 3 milhões de servidores civis e militares da União e Estados.

A diferença de gasto é ainda mais gritante quando avaliada em termos per capita. Os cofres públicas liberam cerca de R$ 4,4 mil per capita para cobrir o rombo do INSS, onde estão 29,2 milhões de brasileiros que pagaram pelo benefício. Cada um dos 2,7 milhões de inativos civis da União e dos Estados custa R$ 49 mil – praticamente dez vezes mais. Entre os militares, a proporção sobe: cada um dos quase 300 mil inativos custa R$ 113 mil. “Há uma enorme disparidade entre público e privado, porque os servidores têm privilégios que elevam o valor do benefício”, diz Leonardo Rolim Guimarães, ex-secretário de Políticas de Previdência Social.
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  © Infográfico / Estadão Infográfico mostra os gastos públicos 
 
No INSS, ninguém ganha mais que o teto de R$ 5.531,31. A Previdência pública vive em outro mundo. A regra, desde 2004, permite que o benefício seja a média de 80% dos salários. A maioria que se aposenta nos próximos anos, porém, entrou no Estado antes e segue a regra anterior: se aposenta com o valor integral do último salário.

O inativo do setor público também tem direito à paridade: o reajuste do benefício é igual ao do salário de quem está na ativa. Como a política era dar reajustes aos servidores, os inativos tiveram aumento real de quase 40% na última década.

Esse efeito perdura se nada for feito. “Ao longo dos próximos 15 anos, o servidor que se aposentar terá direito ao valor integral do último salário e a paridade, com sérios efeitos sobre as contas públicas”, diz Claudio Hamilton dos Santos, técnico da área macroeconômica do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).

A reforma, se aprovada, reduzirá as diferenças entre público e privado: endurece as regras para o cálculo do benefício, fixa para os servidores o teto do INSS e estabelece reajuste pela inflação, entre outras medidas.

Mas os defensores da reforma dizem que ela não se limita à questão financeira. Teria também um componente de “justiça social”. Os déficits previdenciários são coberto por três fontes. Parte vem da cobrança de tributos. Outra parte, da transferência de recursos: aposentadorias e pensões consomem dinheiro que iria para saúde, educação e, principalmente, investimentos. Entram ainda na conta recursos amealhados com o aumento da dívida. “Como no Brasil os impostos recaem mais sobre os mais pobres, o sistema é perverso: tira de quem tem menos e transfere para a elite do funcionalismo”, diz Paulo Tafner, pesquisador da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas da Universidade de São Paulo (Fipe/USP).

Essa questão é considerada tão séria que o economista Nelson Marconi, da Fundação Getúlio Vargas (FGV), tem uma proposta mais radical ainda para corrigir as distorções. “Deveriam aproveitar a reforma para taxar servidores inativos com aposentadorias elevadas – eles não contribuíram o suficiente para ganhar tanto”, diz.

O que causa tontura ao levantar? Há fatores benignos e malignos por trás do sintoma




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Sentir tontura ao acordar ou levantar é um episódio momentâneo que costuma ser ignorado. O sintoma parece inocente, mas caracteriza um desordem vascular que pode, inclusive, ser causada por doenças. 

Por que sentimos tontura ao levantar?

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Sentir tontura ao levantar rápido é resultado de um quadro chamado hipotensão ortostática ou postural, em que há queda de pressão brusca por até três minutos após ficar em pé.

É fácil entender: a gravidade impulsiona tudo para baixo. Portanto, quando estamos deitados ou sentados e nos levantamos rapidamente, a tendência do sangue é descer para os membros inferiores.

No entanto, em pessoas que têm a saúde intacta, o organismo tem mecanismos próprios para fazer o sangue voltar a circular por todo o corpo. Já quem apresenta esse tipo de hipotensão tem dificuldade de direcionar o fluxo sanguíneo rapidamente, o que diminui a pressão e reduz a quantidade de sangue no cérebro.

Assim como em outros tipos de pressão baixa, pode surgir também mal-estar, tontura e sensação de desmaio.

O que está por trás da tontura ao levantar?

As causas da tontura ao levantar podem ser benignas ou malignas.

No primeiro caso, não há doenças desencadeadoras e geralmente é fruto de uma falha no sistema de pressão provocada principalmente pelo envelhecimento, sendo comum em pessoas acima dos 60 anos.

Já o segundo está relacionado a doenças que causam tontura, como desidratação, diabetes, além de problemas de tireoide e distúrbios da glândula suprarrenal que afetam diretamente os mecanismos que regulam o fluxo sanguíneo.

É perigoso? 

Além de ser um sinal de outras doenças, a tontura ao levantar é perigosa especialmente pelo risco de queda associado, principalmente para idosos, podendo gerar fraturas e traumas no crânio.

Já um estudo da Universidade de Harvard, publicado no periódico Neurology, traça relação entre a tontura ao ficar em pé a uma série de doenças neurológicas e à incidência de morte precoce. Na pesquisa, foram acompanhados 160 pacientes durante 10 anos, sendo que 42 tinham hipotensão postural e 48 possuíam o quadro prolongado, quando os sintomas persistem por mais tempo.

Ao fim do estudo, constataram que 29% dos indivíduos com a condição prolongada e 64% com a versão simples faleceram. Além disso, 35% apresentou algum distúrbio degenerativo no cérebro, como demência. Apesar de alarmante, ainda faltam trabalhos mais conclusivos sobre o tema.

O que fazer ao sentir tontura ao levantar?

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É indicado buscar um médico para determinar se o problema é fisiológico ou se há alguma doença que o provoca, recorrendo assim ao tratamento da anomalia. 

Levantar mais devagar, se apoiar ao mudar de posição ou esperar o fenômeno desaparecer para então se movimentar são atitudes indicadas para amenizar as crises e evitar quedas.

Tontura ao levantar pode ser gravidez?

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Tontura na gravidez é normal e tem origem na redução da pressão arterial provocada por alterações no corpo e hormônios femininos. Ela pode ocorrer associada ou não ao se levantar. 

Por via das dúvidas, busque um médico para determinar se é uma alteração fisiológica ou se há algum problema mais grave.