BRASÍLIA - Escolhido nesta semana líder do governo na
Câmara com apoio de 300 deputados de 13 partidos, André Moura (PSC-SE)
reconhece que não há clima político para aprovar a recriação da CPMF
neste momento. Em entrevista exclusiva ao Estado, ele
diz ser pessoalmente contra a estratégia de recorrer ao tributo como
“proposta única” para recuperação da economia brasileira.
“Não há
clima político para aprovar a CPMF”, disse Moura, lembrando que vários
líderes já deixaram isso claro ao presidente em exercício Michel Temer.
Na avaliação do deputado sergipano, a CPMF, sozinha, não trará
resultados positivos.
Para ele, antes de pensar na recriação do
tributo, é preciso aprovar um conjunto de medidas econômicas que dê
“conforto” ao governo para dialogar com Parlamento e sociedade.André
Moura, do PSC, é líder do governo na CâmaraDida Sampaio|Estadão
Previdência.
Moura também defende uma reforma previdenciária “que verdadeiramente
permita” a sustentabilidade da Previdência Social, mesmo que, para isso,
seja necessário mexer em direitos de trabalhadores que estão na ativa.
“Não podemos ter uma reforma da Previdência de faz de conta, não pode
ser uma reforma para inglês ver”, afirma o parlamentar.
Apesar
da pressão das centrais sindicais, o líder diz que a proposta de reforma
previdenciária que chegará ao Congresso será “mais viável”. “A proposta
que chegar aqui vai ter sido construída na base do diálogo. E o que
chegar aqui vamos trabalhar para aprovar, porque tenho certeza de que
vai chegar da forma mais consensual possível.”
A escolha do líder
provocou polêmicas durante a semana. Moura é réu em três ações penais no
Supremo Tribunal Federal e é investigado em pelo menos três inquéritos
na Corte, entre eles um que apura suposta tentativa de homicídio. O
deputado nega as acusações.
Pauta. Embora a pauta
prioritária de Temer seja o ajuste fiscal e as reformas, Moura indica
que o governo não pretende se opor à pauta conservadora da chamada
bancada BBB (Boi, Bíblia e Bala). Ele diz ainda não ter discutido com
Temer como se comportará em relação a algumas dessas pautas.
Pessoalmente, porém, se diz a favor da maioria delas. Ele é favorável,
por exemplo, à revogação do Estatuto do Desarmamento, já aprovada em
comissão especial da Câmara, embora defenda a revisão de alguns exageros
aprovados.
Católico, Moura ainda diz ser favorável ao Estatuto
da Família, aprovado em comissão da Casa que define o conceito de
família como entidade formada a partir da união entre homem e mulher”.
“Não sou contra o casamento homossexual, mas entendo que família é homem
e mulher.” O deputado também diz ser “totalmente”, “100% a favor”, da
redução da maioridade penal de 18 anos para 16 anos.
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso avalia que o tucano José
Serra, atual ministro das Relações Exteriores, se fortaleceu rumo a uma
candidatura à Presidência em 2018. “Serra foi lá, tomou posição e se
projetou. Ele ganhou mais força. Mas 2018 ainda está longe.”
No
segundo volume de seu Diários da Presidência, que será lançado na
próxima semana, FHC comenta a relação com o PMDB em seu governo. Em
entrevista ao Estado, ele chama de “mito” o caso da
compra de votos pela PEC da reeleição, que também é abordado no livro.
Com o PSDB na base da gestão peemedebista de Michel Temer, FHC vê o
sinais se inverterem e diz que o tucanos podem deixar o governo se ele
“for para o lado errado”.
O PMDB sempre pressionou os governos por cargos. Temer será pressionado pelos tucanos? O
PSDB tem três ministérios, mas muitos partidos da base atual já estavam
antes no governo e estão aumentando sua participação. O PSDB vai ficar
um pouco nervoso com isso. Relativamente, o partido vai ficar com muito
menos que os outros. Mas não acho que o PSDB vai recuperar poder
simplesmente tendo cargos no governo. Poder se recupera com mensagem. Se
o governo for para um caminho que achamos errado, então o PSDB sai. O
governo é destino inevitável para quem participa do atraso. Se o PSDB se
confundir inteiramente com a política, ele vai ter problemas. Isso vale
para o governo. O presidente Temer tem que negociar com o Congresso,
mas ter cuidado e explicar isso para a sociedade.
O sr. diz no livro que a pressão do PMDB por cargos cheirava mal. Por quê? Havia
muita pressão, sobretudo sobre o Sérgio Motta (ex-ministro das
Comunicações). Brigavam muito com ele. Falei nesse sentido. Queriam me
impor e eu não queria isso. O que eu crítico é o estilo do ‘tem que
dar’.
O sr. aborda no livro a suspeita de compra de votos
para a emenda da reeleição, em 1997. A posse do Eliseu Padilha e do Iris
Rezende, ambos do PMDB, no seu governo aconteceu logo depois da
aprovação da PEC... Mas não há nenhuma
relação, pois eles eram todos favoráveis. A PEC da reeleição no Senado
foi uma barbada: 80% a favor. Criaram um mito, que é a compra de votos.
Houve acusações. Dois denunciaram. Mas quando a informação chegou a mim,
eu disse para cassar logo o mandato. Não tínhamos nada a ver com aquele
negócio. Não precisava. Todos os editoriais de jornais eram a favor. E
as pesquisas idem. Os que eram contra eram candidatos à Presidência: o
Maluf e o Lula. Eu custei a aceitar a ideia de reeleição para mim. Tinha
muitas dúvidas se valia a pena. É muito duro governar.
No primeiro volume, o sr. diz que Temer era um
político “dos mais discretos”, mas também tinha seus interesses...
Sim, como todos os políticos. Isso é uma coisa que
as pessoas precisam entender. Ele (Temer) até me telefonou dizendo que
não se lembrava do episódio que o Luís Carlos Santos me pediu (uma
nomeação). Mas isso é uma coisa normal. É do jogo partidário. Todos
fazem negociação. Por que o sr. resistiu a nomear o Padilha? Era um bom rapaz, mas eu não gostava da maneira que eles estavam pressionando.
O
José Serra estava em uma posição periférica no PSDB em relação ao
Geraldo Alckmin e ao Aécio Neves que, como ele, pretendem disputar a
Presidência em 2018. Agora que está no Itamaraty, ele ganhou mais força
para ser o candidato tucano? A medir pelas
semanas iniciais, sim. Ele tomou posição. Eu sempre digo que o problema
dos nossos partidos é não tomar partido. Serra foi lá, tomou posição e
se projetou. Ele ganhou mais força. Mas 2018 ainda está longe.
Na
posse no ministério, Serra disse que a política externa do governo
anterior seguia a ideologia de um partido. Concorda? A
política externa anterior não era tão diferente do que foi a minha.
Alguns analistas mostram que a diferença era mais de tom. Mas eles (Lula
e Dilma) criaram uma rede partidária (nas relações internacionais). Por
isso houve perda de espaço para o Brasil na América Latina e a
predominância do chavismo.
A OEA criticou o processo do impeachment. O que achou? O secretário-geral da OEA diz que houve golpe. A Unasul também. Isso é um dano para o Brasil e deve ser recuperado.
O
que achou da repercussão internacional negativa sobre o impeachment em
veículos de imprensa como o
New York Times ? O PT criou uma narrativa do
golpe que pega mais lá fora do que aqui dentro. Para os objetivos deles,
esse discurso foi bom, mas não se sustenta com o tempo. Essa é uma
narrativa que confunde, pois ela é fácil e não precisa explicar muito.
Você viu o que houve no Festival de Cannes? Aquilo repercutiu
momentaneamente, mas a presidente está na casa dela (no Palácio da
Alvorada). Dilma ainda será Presidente da República até que o Senado
vote a decisão final. São precisos 3/5 dos votos para sair em
definitivo. É muito difícil. Por que o NYT fez isso? Porque a
Constituição dos EUA é diferente da brasileira. Nos EUA o perjúrio dá
impeachment e ela não cometeu perjúrio, mas cometeu crime de
responsabilidade
Parte do PSDB acha que Dilma não poderia
continuar morando no Alvorada nesse período de 180 dias. Qual a sua
opinião? Ela deve ficar lá. Dilma é presidente
até que o Senado decida o contrário. Essa visão é mesquinha. Ela merece
pessoalmente o meu respeito.
Esse centrão que está se formando no Congresso pode levar o PSDB a ser coadjuvante? Ou
o contrário. O PSDB pode ser opor a isso. O PT e o PSDB tiveram uma
polarização desnecessária. Por razões eleitorais o PT achou que o
inimigo era o PSDB e nenhum dos dois foi majoritário no Congresso. Ambos
tivemos que conviver com o atraso. Com Temer é a mesma coisa.
O
sr. fala no livro de um encontro com o Lula em 1998 no qual ele foi
apresentar uma agenda. No final o sr. parecia animado...
Foi meio escondido. O Lula pessoalmente sempre foi mais
aberto que o PT. Mas estranhamente o Lula, que foi oito anos presidente,
me telefonou apenas uma vez (no governo dele) e foi para me convidar
para o enterro do Papa (João Paulo II). Não tomei nem um café com ele.
Minha atitude foi muito diferente. Ofereci uma casa para ele na
transição, a Granja do Torto. Comi um churrasco com ele lá.
Foi um erro do Temer montar um ministério só de homens brancos e sem mulheres? Era
melhor ter (mulheres). Os problemas identitários são cada vez mais
presentes na agenda política contemporânea. É importante ter mulheres,
negros e jovens. Mas não se pode pedir para um governo feito às pressas
que tudo seja atendido. O sistema político, partidário e sindical é
machista.
A bancada do PSDB se colocou contra a recriação
da CPMF e os tucanos não aprovam a criação de novos impostos. Será o
primeiro confronto com Temer? A CPMF ajuda a
controlar o sistema financeiro. Algum imposto o governo terá que
aumentar, pois o déficit é enorme. A arrecadação caiu e continuará
caindo porque a economia não retoma.
Há um debate no
governo sobre se a reforma da Previdência valeria para quem já está no
mercado de Trabalho ou só para quem vai entrar. O que o acha?
É lastimável que não tenham aprovado no meu tempo.
Perdemos por um voto a idade mínima. Quando você olha a pirâmide etária e
a questão da Previdência, é lógico que precisa trabalhar mais tempo.
Quando perdemos a idade mínima, criamos o fator previdenciário.
Derrubaram duas vezes e refizeram. Não tem como não fazer. O PSDB errou
ao apoiar.
Em São Paulo, Alckmin apoiou João Doria nas
prévias da capital e isso causou um racha. O sr vai subir no palanque
dele? Nunca subi em palanque nenhum, nem
quando era presidente. Fui favorável à (pré) candidatura do Andrea
(Matarazzo) e pedi ao governador que mantivesse a neutralidade Ele
insiste que não tomou partido, mas parece que tomou. Se tomou, criou um
problema para ele mesmo. Eu disse para o Andrea não sair (do PSDB) e
esperar a convenção. Se ele saiu, não posso apoiar quem está fora, A lei
não permite. A situação é delicada.
BRASÍLIA - A indefinição sobre a nomeação de ex-presidente
Luiz Inácio Lula da Silva para o comando da Casa Civil atrasou por dois
meses a deflagração da Operação Janus, que investiga um esquema de
tráfico de influência e exploração de prestígio no Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico Social (BNDES).
Conforme o Estado
apurou, os investigadores haviam se preparado para ação na segunda
quinzena de março deste ano. Contudo, no dia 16 daquele mês, a
presidente Dilma Rousseff anunciou o convite para Lula ingressar no
governo.
Logo após o anúncio da ida de Lula para a Casa Civil, o
juiz Sérgio Moro, responsável pelos inquéritos da Lava Jato na primeira
instância, divulgou o áudio de um telefone entre ele e Dilma. Na
conversa, a atual presidente afirma que vai encaminhar o termo de posse
da nomeação para usar “em caso de necessidade”.
No dia seguinte,
Lula tomou posse na Casa Civil em cerimônia no Palácio do Planalto.
Horas depois, um juiz de Brasília concedeu liminar suspendendo a posse.
Após recurso apresentado pela Advocacia-Geral da União, o caso foi parar
no Supremo Tribunal Federal.
Tudo isso deixou a Operação Janus
suspensa. Caso se confirmasse a nomeação de Lula na Casa Civil, a
investigação envolvendo Taiguara teria de ser encaminhada ao STF, já que
o ex-presidente ganharia foro privilegiado por ser ministro. O processo
de impeachment de Dilma também atrasou a ação da PF. A Polícia Federal
preferiu esperar uma definição final do pedido de afastamento da
presidente para reapresentar o pedido de autorização da operação
realizada ontem. CPI do BNDES. Sobrinho da
primeira mulher de Lula, Taiguara Rodrigues dos Santos já havia sido
investigado pela Comissão Parlamentar de Inquérito do Banco de
Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), realizada de agosto do ano
passado a fevereiro deste ano.
Em depoimento à comissão, ele negou
ter sido ajudado pelo ex-presidente para obter contrato com a
Odebrecht. O empresário, porém, admitiu ter contato com o ex-presidente
“às vezes” e ser próximo de Fábio Luís Lula da Silva, filho de Lula, que
também é empresário. “Influência zero do Lula e do Fábio”, disse, em
depoimento concedido à comissão no dia 15 de outubro.
O
presidente afastado da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), comparece ao
Conselho de Ética da Câmara dos Deputados, em Brasília (DF), para fazer
sua defesa. Cunha é alvo de um processo por quebra de decoro por
supostamente ter ocultado contas bancárias secretas no exterior e de ter
mentido sobre a existência delas em depoimento à CPI da Petrobras -
19/05/201(Adrino Machado/Reuters)
Réu
no Supremo Tribunal Federal, alvo de quatro inquéritos e afastado do
mandato parlamentar e da presidência da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ)
usou parte da sua defesa no Conselho de Ética nesta quinta-feira para
criticar a demora no julgamento contra o seu correligionário e
presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). Assim como Cunha, o
peemedebista é alvo de inquéritos pelo envolvimento no escândalo do
petrolão e ainda responde a ação no STF por falsidade ideológica - essa
denúncia, no caso, foi apresentada em 2013, mas segue inconclusa. "É
muita estranha a seletividade e a celeridade dos processos contra mim
quando, por exemplo, uma denúncia contra o presidente do Senado está há 3
anos e não é apreciada pelo pleno", afirmou, acrescentando não estar
"acusando ninguém", e sim apenas apresentando fatos reais. O presidente
afastado fez uma comparação entre os processos e citou caso em que lhe
foi negado um pedido de adiamento de uma semana, e voltou a reforçar o
período que o caso de Calheiros segue em julgamento. Antes, Cunha negou
seu envolvimento no petrolão e afirmou que à época das acusações
mantinha ferrenha oposição ao governo do ex-presidente Lula, o que
impediria que lhe dessem poder na Petrobras. "É muito fácil querer
encontrar um suposto chefe para poder esconder a sujeira no tapete que
estava começando a aparecer. Aqueles que efetivamente têm de ser
responsabilizados, que o sejam. Que sejam punidos", disse. (Marcela Mattos, de Brasília)
No
pedido enviado pela Procuradoria-Geral da República (PGR), Rodrigo
Janot aponta o "relacionamento estreito" entre o banqueiro do BTG
Pactual e o Instituto Lula
O ministro do STF (Supremo Tribunal Federal), Teori Zavascki, durante sessão em plenário - 17/02/2016(Carlos Humberto/SCO/STF/Divulgação)
O
ministro Teori Zavascki, relator da Lava Jato no Supremo Tribunal
Federal (STF), mandou incluir na denúncia contra o ex-presidente Luiz
Inácio Lula da Silva novas provas que demonstram a proximidade do
petista com o banqueiro André Esteves, do BTG Pactual. Ambos são
acusados de participar da trama para comprar o silêncio do ex-diretor da
Petrobras, Nestor Cerveró.
A ordem de Teori inclui na denúncia trechos da delação premiada do
senador cassado Delcídio Amaral (sem partido-MS), que também foi
denunciado por envolvimento no mesmo caso. Delcídio afirmou, nos termos
de colaboração, que Esteves é um dos principais mantenedores do
Instituto Lula, responsável por organizar as palestras do ex-presidente.
De acordo com o ex-senador, a relação de Esteves com Lula se deve ao
fato de o ex-presidente ter sido um dos principais apoiadores dos
negócios do BTG, e que Lula era um "alavancador eficaz" de negócios para
agentes econômicos no Brasil e no exterior. No pedido enviado pela
Procuradoria-Geral da República (PGR) a Teori, Rodrigo Janot aponta o
"relacionamento estreito" entre o banqueiro e o Instituto Lula.
"Embora isoladamente não constitua crime, (a proximidade) indica que o
contexto das doações a que (Delcídio) faz menção é extremamente
relevante para algumas investigações em curso", afirma Janot.
Além de Lula, Delcídio e Esteves, também foram denunciados no mesmo
procedimento o assessor do ex-senador, Diogo Ferreira, o ex-advogado de
Cerveró, Edson Ribeiro, o ruralista José Carlos Bumlai, e seu filho,
Maurício Bumlai. Todos são acusados de tentativa de obstrução à Justiça
ao tentar evitar que Cerveró fizesse delação premiada no âmbito da Lava
Jato.
Na decisão, Teori também juntou o trecho da delação de Delcídio sobre
Lula e Esteves no inquérito da Lava Jato que investiga parlamentares e
operadores do esquema de corrupção por formação de quadrilha. Há um
pedido pendente para que o ex-presidente também seja incluído neste
inquérito.
As informações do ex-senador sobre o caso também foram atreladas às
investigações no Supremo e na 13ª Vara Federal de Curitiba, conduzida
pelo juiz Sergio Moro, sobre o embandeiramento dos postos BR. O caso
envolve, além de Esteves, o empresário Carlos Santiago, investigados na
primeira instância, e o senador Fernando Collor de Mello (PTC-AL), que
tem foro privilegiado.
A equipe econômica do
presidente interino Michel Temer apresentou uma proposta de meta fiscal
com previsão de déficit de 170 bilhões de reais para este ano. O anúncio
foi feito no início da noite desta sexta-feira pelo ministro da Fazenda
Henrique Meirelles.
"Essa é
uma meta realista", disse o ministro. "A receita está superestimada."
Apesar da projeção de déficit em 2016, o Orçamento aprovado para este
ano fixou uma meta de superávit primário (economia para pagamento de
juros da dívida pública) de 24 bilhões de reais. Para 2017, a meta
fiscal ainda não foi definida.
Em
março, a equipe econômica da presidente afastada Dilma Rousseff enviou
ao Congresso Nacional um projeto de lei para mudar a meta fiscal de
2016, de forma a autorizar que o governo registrasse um rombo. Ainda
assim, o déficit previsto era bem menor, de 96,65 bilhões de reais.
O
governo agora vai precisar negociar com o Congresso para acelerar a
votação da nova proposta de meta fiscal. Nesta sexta, o presidente do
Congresso, senador Renan Calheiros (PMDB-AL), decidiu que irá avocar
diretamente para o plenário a votação do projeto de alteração da meta.
A
votação da proposta deverá iniciar em sessão prevista para ser
realizada na próxima terça-feira, a partir das 16h. De acordo com a
assessoria de Renan Calheiros, na ocasião, também será designado em
plenário um relator, conforme prevê o regimento.
O ministro das Cidades, Bruno
Araújo, afirmou nesta sexta-feira, em nota, que o programa Minha Casa,
Minha Vida será mantido e reiterou que os programas sociais são
prioridade do governo do presidente interino Michel Temer. O comunicado
da pasta foi enviado após o jornal O Estado de S. Paulo publicar reportagem, baseada em entrevista com Araújo, afirmando que o governo Temer teria abandonado a meta de contratar 2 milhões de moradias na terceira etapa do Minha Casa, Minha Vida até o fim de 2018, traçada pela presidente afastada Dilma Rousseff.
Em
nota à imprensa, o Ministério das Cidades reafirma "o compromisso não
só com a manutenção do programa Minha Casa, Minha Vida, mas também com a
importância do seu aprimoramento e na medida em que a economia
permitir, sua ampliação, com objetivo justamente de garantir que os
programas sociais possam prosseguir".
Segundo
a reportagem do jornal, o Ministério das Cidades teria suspendido a
terceira etapa do programa, sem permitir novas contratações, para um
processo de aprimoramento.
Na
nota divulgada nesta sexta-feira, Araújo diz que "estamos em um momento
de transição, em hipótese alguma neste momento falaríamos em uma
suspensão do programa Minha Casa, Minha Vida". "O que estamos fazendo é
sendo cautelosos, avaliando o que nos permite prometer para que não
possam ocorrer falsas esperanças." Em sua conta no Facebook, o ministro
já tinha negado mais cedo a suspensão do programa habitacional,
afirmando que essa informação "não corresponde à realidade".
A
terceira fase do programa foi lançada no fim de março pela presidente
Dilma, prevendo recursos totais de 210,6 bilhões de reais para
construção de 2 milhões de moradias até 2018. Na ocasião, o governo
informou que do total de recursos, 41,2 bilhões de reais seriam do
Orçamento da União, 39,7 bilhões em subsídios do Fundo de Garantia do
Tempo de Serviço (FGTS) e o restante em financiamentos pelo FGTS.
O
Minha Casa Minha Vida é um dos programas que mais têm sofrido com
cortes de verbas pelo governo, em meio à queda na arrecadação diante da
forte recessão econômica. Em fevereiro, os desembolsos com o programa
caíram 32% em comparação com um ano atrás, segundo dados do Tesouro,
após terem despencado 72% em janeiro na mesma base de comparação.
Bovespa afetada
- A notícia sobre a suspensão da terceira fase do programa, tida como
importante para ajudar o setor imobiliário pressionava ações de
construtoras e incorporadoras na Bovespa. As ações da MRV, maior do
setor especializada no Minha Casa, Minha Vida, tinham baixa de 3,7% às
11h09. Na mínima, os papéis da empresa chegaram a cair 7,6%.
Os
papéis da Gafisa, que vem recuperando resultados com apoio da unidade
voltada para baixa renda Tenda, cediam 3,5%. As ações da Gafisa não
integram a carteira teórica do Ibovespa, que subia 0,7%.
O
Tribunal Superior Eleitoral sumiu com os pareceres técnicos que
sugeriam a reprovação das contas do PT na época do mensalão e da
campanha da presidente Dilma em 2010. Documentos revelam que isso
ocorreu por determinação do ministro Ricardo Lewandowski
Por: Rodrigo Rangel - Atualizado em
Ricardo Lewandowski(Cristiano Mariz/VEJA)
Em
outubro do ano passado, o Supremo Tribunal Federal monopolizava as
atenções do país quando alinhavava as últimas sentenças aos responsáveis
pelo escândalo do mensalão. Naquele mesmo mês, só que em outra corte de
Justiça e bem longe dos holofotes, um auditor prestava um surpreendente
depoimento, que jogava luz sobre episódios ainda nebulosos que envolvem
o maior caso de corrupção da história. O depoente contou que, em 2010,
às vésperas da eleição presidencial, foi destacado para analisar as
contas do PT relativas a 2003 - o ano em que se acionou a
superengrenagem de corrupção. Foi nessa época que Delúbio Soares, Marcos
Valério, José Genoino e o restante da quadrilha comandada pelo
ex-ministro José Dirceu passaram a subornar com dinheiro público
parlamentares e partidos aliados. Havia farto material que demonstrava
que a contabilidade do partido era similar à de uma organização
criminosa. Munido de documentos que atestavam as fraudes, o auditor
elaborou seu parecer recomendando ao tribunal a rejeição das contas. O
parecer, porém, sumiu - e as contas do mensalão foram aprovadas.
Menos de dois meses depois, ocorreu um caso semelhante, tão estranho
quanto o dos mensaleiros, mas dessa vez envolvendo as contas da última
campanha presidencial do PT. O mesmo auditor foi encarregado de analisar
o processo. Ao conferir as planilhas de gastos, descobriu diversas
irregularidades, algumas formais, outras nem tanto. Faltavam
comprovantes para justificar despesas da campanha. A recomendação do
técnico: rejeitar as contas eleitorais, o que, na prática, significava
impedir a diplomação da presidente Dilma Rousseff, como determina a lei.
Ocorre que, de novo, o parecer nem sequer foi incluído no processo - e
as contas de campanha foram aprovadas. As duas histórias foram narradas
em detalhes pelo auditor do Tribunal Superior Eleitoral, Rodrigo Aranha
Lacombe, em depoimento ao qual VEJA teve acesso. Ambas cristalizam a
suspeita de que a Justiça Eleitoral manipula pareceres técnicos para
atender a interesses políticos - o que já seria um escândalo. Mas há uma
acusação ainda mais grave. A manipulação que permitiu a aprovação das
contas do mensalão e da campanha de Dilma Rousseff teria sido conduzida
pessoalmente pelo então presidente do TSE, o ministro Ricardo
Lewandowski.
Taiguara
Rodrigues dos Santos é filho de Lambari, irmão da primeira mulher do
ex-presidente. De pequeno empresário de Santos, ele se tornou milionário
graças a privilégios obtidos na agência do governo para o comércio
exterior
Por: Daniel Pereira e Hugo Marques - Atualizado em
O empresário Taiguara Rodrigues: para funcionários do governo e executivos de empreiteiras, ele é ‘o sobrinho do Lula’(VEJA.com/Reprodução)
O personagem ao lado, com ar de Che Guevara playboy, se chama Taiguara
Rodrigues dos Santos. É figura conhecida na rede de negócios de empresas
brasileiras em Cuba, na África e na Europa. Até 2009, ele ganhava a
vida em Santos, no litoral de São Paulo, onde se estabelecera como
pequeno empresário, dono de 50% de uma firma especializada em fechar
varandas de apartamentos. Taiguara tinha uma rotina compatível com seus
rendimentos. Seu apartamento era um quarto e sala. Na garagem, um carro
velho. A partir de 2009 a vida dele começou a mudar para melhor — muito
melhor. De pequeno empresário do ramo de fechamento de varandas, ele se
reinventou como desbravador de fronteiras de negócios no exterior. Abriu
duas empresas de engenharia e, em questão de meses, fechou negócios em
Angola. O primeiro contrato no país africano destinava-se a construir
casas pré-moldadas e tinha o valor de 1 milhão de dólares, conforme
registro no Ministério das Relações Exteriores. No segundo, de 750 000
dólares, comprometia-se a construir uma casa de alto padrão. Até aqui o
que se tem é um empreendedor ambicioso que vislumbrou oportunidades de
mudar de patamar vendendo seus serviços em países com os quais o governo
Lula estabelecera inéditos laços de cooperação comercial. Mas a
história de Taiguara é, digamos, bem mais complexa.
Conta o advogado Rafael Campos, representante da proprietária de um
imóvel alugado por Taiguara: “Ele me falou que estava indo para a África
no vácuo das grandes empreiteiras que expandiam negócios por aquele
continente”. A vida além-mar, pelo jeito, ofereceu a Taiguara grandes
dificuldades práticas. Tendo recebido o dinheiro, as obras não saíram.
Seus clientes angolanos acionaram a Justiça brasileira em busca de
reparação, o que combinou com um inferno astral em que ele teve dezenove
títulos protestados e passou 25 cheques sem fundos. Se 2009 foi de
esperança, os anos seguintes, 2010 e 2011, foram de amargura com o
fracasso na África, e Taiguara teve o desgosto adicional de ver seu nome
no Serviço de Proteção ao Crédito. Mas a maré mudou, e mais tarde
Taiguara reemergiu em glória. Havia comprado uma cobertura dúplex de 255
metros quadrados em Santos, dirigia um Land Rover Discovery de 200 000
reais e tomou gosto por viagens pelas capitais do mundo, hospedando-se
sempre em hotéis de alto luxo. VEJA perguntou a Taiguara como ele
explica a reviravolta em sua vida empresarial. Não obteve resposta.
Taiguara é filho de Jacinto Ribeiro dos Santos, o Lambari, amigo de
Lula na juventude e irmão da primeira mulher do ex-presidente.
Funcionários do governo e executivos de empreiteiras costumam
identificá-lo como “o sobrinho do Lula”. Em 2012, uma de suas empresas
de engenharia, a Exergia Brasil, foi contratada pela Odebrecht para
trabalhar na obra de ampliação e modernização da hidrelétrica de
Cambambe, em Angola. O acerto entre as partes foi formalizado no mesmo
ano em que a Odebrecht conseguiu no Banco Nacional de Desenvolvimento
Econômico e Social (BNDES) um financiamento para realizar esse projeto
na África. Uma coincidência, certamente. Orgulhoso, Taiguara postou
fotos das obras na hidrelétrica de Cambambe numa rede social. “E tome
água! Vamos gerar energia!”, escreveu. A Odebrecht não quis informar o
valor do contrato com a Exergia Brasil, que vigorou em 2012 e 2013. Em
nota, disse que segue “padrões rigorosos de contratação de fornecedores,
levando em conta sua capacidade técnica, financeira e de execução”.
A Exergia contratada pela Odebrecht é uma empresa portuguesa com
extenso portfólio de clientes em Portugal e na África. Filiado ao PT,
Taiguara tornou-se sócio da empresa portuguesa no que veio a se chamar
Exergia Brasil. A Exergia Brasil ocupa o 8º andar de um prédio antigo
localizado no centro de Santos e tem apenas cinco funcionários. Desde a
sua fundação, informa o Conselho Regional de Engenharia de São Paulo,
ela jamais realizou uma obra no estado. São desconhecidas as razões
pelas quais a Exergia de Portugal precisou de um sócio brasileiro, sem
nenhuma experiência ou capacidade técnica para ter o gigante Odebrecht
como cliente. O desafio de engenharia na África é grande. O projeto
prevê a ampliação em cinco vezes da capacidade de geração de energia da
hidrelétrica de Cambambe, localizada no Rio Kwanza, o maior de Angola.
Taiguara não quis dizer o que sua empresa agregou ao projeto nem como
sua expertise chamou a atenção da Odebrecht. Disse que as perguntas eram
“caluniosas” e “desrespeitosas”.
Publicidade
Em março do ano passado, o governo brasileiro organizou uma missão
empresarial a Cuba, que foi precedida por uma visita do ex-presidente
Lula aos irmãos Fidel e Raúl Castro. A programação oficial previa que os
empresários passariam três dias na ilha. O ponto alto seria uma
incursão ao Porto de Mariel, cuja obra de modernização é realizada pela
Odebrecht, que, como no caso de Angola, conta com financiamento sigiloso
do BNDES. Taiguara vislumbrou uma nova oportunidade — e foi
bem-sucedido, graças à ajuda de amigos e amigos de amigos no Ministério
do Desenvolvimento. Entre eles, Mônica Zerbinato. Secretária particular
de Lula durante mais de uma década e mulher de Osvaldo Bargas, também
assessor do ex-presidente, Mônica abriu para Taiguara as portas da
Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex), o
órgão oficial que organizou a missão empresarial a Cuba. Servidora da
Apex, ela intercedeu junto aos colegas para que incluíssem o dono da
Exergia Brasil na missão. Foi uma costura rápida e indolor. “Como já
havia explicado a Mônica, tenho uma empresa de engenharia no Brasil, e
nossa área de atuação está focada na África. Estamos principalmente em
Angola e Moçambique”, escreveu Taiguara na mensagem em que apresentou
suas credenciais.
Na sequência, ele deixou claro a força de seus apoios: “Devido a várias
circunstâncias, temos como principal cliente em Angola a Odebrecht. Na
semana passada, fui convidado pelo doutor Alexandrino, da Odebrecht,
para ir a Cuba visitar suas obras e, claro, prospectar o mercado como um
todo”. O doutor mencionado é Alexandrino Alencar, diretor da Odebrecht
com atuação reconhecida em mercados externos. Alencar foi apontado por
um dos delatores do esquema de corrupção na Petrobras como o elo da
empreiteira com os operadores do esquema de pagamento de suborno a
políticos e funcionários públicos. Antes disso, o executivo aparecera
como coadjuvante num enredo protagonizado por Lula. Foi em 2011, quando o
ex-presidente representou o governo brasileiro numa viagem à Guiné
Equatorial. Lula levou o “doutor Alexandrino” na comitiva oficial e,
depois de uma conversa com o ditador Teodoro Obiang Mbasogo, credenciou a
Odebrecht a fazer negócios naquele país, que, coincidência
extraordinária, foi tema da escola de samba Beija-Flor, ganhadora do
Carnaval carioca neste ano. Só pode ser mesmo coincidência que, entre os
193 países do planeta Terra, a fabulosa tirania de Obiang, amigo de
Lula, tenha sido escolhida como tema da Beija-Flor.
Coube ao próprio chefe do escritório da Apex em Cuba, Hipólito Rocha
Gaspar, confirmar a inclusão do empresário na excursão. “Taiguara, bom
dia. Na missão, consta seu nome como integrante da comitiva da
Odebrecht. Chegando, favor entrar em contato com o nosso escritório”,
escreveu o servidor. Segundo a Odebrecht, Taiguara nunca prestou serviço
à empreiteira em Cuba. Ao contrário do que revela a troca de mensagens,
a Odebrecht afirmou que Taiguara nem sequer figurava na relação de seus
representantes oficiais. Em novembro de 2012, a Camargo Corrêa
patrocinou uma viagem de Lula a Moçambique. O ex-presidente, depois de
encerrar seu mandato, em 2010, disse que dedicaria parte de seu tempo “a
vender o Brasil lá fora”. Em outras palavras, empregaria sua influência
e seus conhecimentos para ajudar as empresas nacionais a expandir seus
mercados no exterior. A empreiteira queria ajuda para destravar negócios
no país africano. Quem também estava lá? O onipresente Taiguara, que
posou todo prosa para registrar como era majestoso o hotel em que estava
hospedado. A Camargo Corrêa informou que nunca teve relação contratual
com a Exergia Brasil.
Atualmente, Cuba é o mercado prioritário do empresário Taiguara. “Viva
la revolución”, festejou numa rede social. Em novembro passado, ele
participou da Feira Internacional de Havana, na qual se mostrou ao lado
de Fábio Luís da Silva, o Lulinha. Taiguara e o filho do ex-presidente
são amigos. O site da Exergia Brasil foi, inclusive, criado por uma
empresa do primogênito do petista. Em Havana, os dois receberam um
tratamento especial de Hipólito Gaspar (veja o quadro ao lado), que
reservou dois Mercedes para eles. O custo do aluguel dos carros, segundo
o servidor, teria ficado a cargo dos dois convidados. Hipólito também
pediu autorização à presidência da Apex no Brasil para reservar um
espaço, dentro do estande brasileiro na feira, para que Taiguara e
Lulinha se reunissem reservadamente com representantes do governo
cubano, o principal comprador no evento. A direção da agência negou o
pedido. Nem Taiguara nem a Exergia Brasil constam da lista oficial de
participantes da feira elaborada pela Apex. Mônica Zerbinato, amiga da
família, disse que apenas encaminhou os pedidos. A agência não soube
dizer quem o empresário representou no evento nem se ele fechou
negócios. Taiguara também se negou a fazê-lo. Ele esclareceu que Lulinha
estava de férias em Cuba e, ao acompanhá-lo, lhe fazia uma gentileza. A
proximidade com o poder em qualquer governo traz vantagens a
empresários. Mas, com frequência, traz também problemas. Taiguara e sua
Exergia Brasil encarnam as duas faces dessa moeda.
O empresário Taiguara Rodrigues: para funcionários do governo e executivos de empreiteiras, ele é ‘o sobrinho do Lula’
Na manhã desta sexta-feira, a
Polícia Federal e o Ministério Público Federal deflagraram a operação
Janus baseada em um inquérito que investiga o ex-presidente Luiz Inácio
Lula da Silva por crime de tráfico de influência internacional em favor
da construtora Odebrecht. O principal alvo das buscas e apreensões desta
manhã é o sobrinho de Lula, Taiguara Rodrigues dos Santos, que foi
conduzido coercitivamente para prestar esclarecimentos. Na representação
que embasa os mandados, a procuradoria afirma que há "fortes indícios
de irregularidades e de condutas, em tese delituosas, no sentido de, no
mínimo, dissimular e ocultar valores de origem ilícita". Além da
condução obrigatória de Taiguara, houve quebra de sigilos bancário,
fiscal e telefônico dos envolvidos no esquema.
Taiguara
é filho de Jacinto Ribeiro dos Santos, o Lambari, amigo de Lula na
juventude e irmão da primeira mulher do ex-presidente, Maria de Lourdes.
Funcionários do governo e executivos de empreiteiras costumam
identificá-lo como "o sobrinho do Lula". Em 2012, uma de suas empresas
de engenharia, a Exergia Brasil, foi contratada pela Odebrecht por 3,5
milhões de reais para trabalhar na obra de ampliação e modernização da
hidrelétrica de Cambambe, em Angola. O acerto entre as partes foi
formalizado no mesmo ano em que a Odebrecht conseguiu no Banco Nacional
de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) um financiamento de 464
milhões de dólares para realizar esse projeto na África.
A
investigação do MPF tem como objeto principal a suspeita de que Lula,
após deixar a presidência em 2011, tornou-se uma espécie de operador da
Odebrecht. As apurações apontam que ele usava sua influência política
para agir em duas frentes: ajudando a liberar financiamentos do BNDES e
na interlocução com presidentes amigos que contratavam os serviços da
empreiteira. Apesar de ser investigado no inquérito, o ex-presidente
Lula não foi alvo de mandados nesta sexta-feira. Ao todo, a PF cumpriu 2
mandados de condução coercitiva e quatro de busca e apreensão em
Santos, no litoral paulista.
As
apurações, iniciadas no ano passado, ganharam robustez neste ano após o
recolhimento de documentos das empresas de Lula, da Odebrecht e do
BNDES. Alguns deles foram compartilhados pela força-tarefa da Lava Jato.
O nome da operação se refere ao deus romano Janus, cuja representação é
um homem de duas faces, uma de ancião e outra de jovem.
A
operação visa esclarecer os motivos que levaram a Odebrecht a contratar
a Exergia Brasil, empresa de Taiguara, entre os anos de 2012 e 2015,
para realizar obras na hidrelétrica de Angola. Segundo reportagem de VEJA
de março do ano passado, a empresa surgiu após ele virar sócio da
companhia portuguesa Exergia, que tem um extenso portfólio de clientes
em Portugal e na África. Na época, a Exergia Brasil, sediada em Santos,
tinha apenas cinco funcionários e não havia feito nenhuma obra no Estado
de São Paulo, de acordo com o Conselho Regional de Engenharia do
Estado.
Em outubro do ano passado, convocado na CPI do BNDES,
Taiguara Rodrigues afirmou aos parlamentares que recebeu de 1,8 a 2
milhões de dólares em contratos com a Odebrecht. Na ocasião, ele negou
que Lula teve influência em seus negócios, mas não conseguiu comprovar
as credenciais que lhe aproximaram dos contratos milionários com a
empreiteira. Ao detalhar o seu currículo, o empresário afirmou ser
vendedor desde os 14 anos e não ter formação acadêmica. "Com o passar
dos anos, foram aparecendo oportunidades, como a que me fez chegar aqui,
a de trabalhar em Angola", disse ao colegiado.
Dilma Rousseff discursa para simpatizantes na parte exterior do Palácio do Planalto
O presidente interino Michel
Temer determinou nesta quinta-feira a suspensão do patrocínio de
empresas estatais para um evento de blogueiros ligados ao governo Dilma
Rousseff. O encontro entre os ditos "blogueiros progressistas" contaria
com patrocínio de 100.000 reais da Caixa Econômica Federal.
Segundo
assessores do Planalto, o alvo da ação é o 5º Encontro Nacional de
Blogueiros e Ativistas Digitais, que será realizado entre esta sexta e
domingo em Belo Horizonte. A presidente afastada prometeu comparecer à
abertura do evento amanhã. A programação do encontro - que, vale
ressaltar, contaria com patrocínio estatal - propõe discutir a "luta
contra o golpismo midiático" e a "democratização da comunicação". Temas
caros aos petistas, mas não necessariamente à democracia.
Além
da suspensão do patrocínio ao encontro, integrantes do governo Temer
também deverão reavaliar o desembolso previsto para outros eventos
realizados por setores alinhados ao petismo. As medidas ocorrem em meio à
solicitação por parte do Planalto para que os ministérios enviem os
planos de comunicação para uma análise para se tomar o conhecimento de
como, quanto e onde estão sendo aplicados os recursos de publicidade do
governo.
Organizadores - Os organizadores do encontro em Belo Horizonte informaram ao jornal O Estado de S. Paulo
que não foram notificados da decisão tomada pelo governo Temer. Segundo
Altamiro Borges, um dos participantes do evento, o encontro não será
impactado pela medida. "Está tudo certo, o encontro vai ocorrer
normalmente", disse. Borges afirmou que, caso a Caixa acate a decisão, a
organização do evento vai processar o banco. "Se cancelarem vamos
processar o banco por quebra de contrato", disse. Como é praxe, os
pagamentos de patrocínios firmados acontecem sempre após o evento.
A Presidência da República confirmou nesta quinta-feira, 19, o
nome de Pedro Parente como o novo presidente da Petrobrás. Parente
aceitou o cargo em reunião com o presidente em exercício Michel Temer
(PMDB) e substituirá Aldemir Bendine.
Ex-presidente do Banco do
Brasil, Bendine assumiu o cargo em fevereiro do ano passado em meio ao
escândalo de corrupção envolvendo a estatal - investigada na Operação
Lava Jato - como uma alternativa para recuperar a imagem da companhia.
Bendine já havia sido avisado por Temer que deixaria o cargo na semana
passada e deve participar de um processo de transição com Parente.
O
novo presidente da Petrobrás é atualmente presidente do conselho de
administração da BM&FBovespa. Ele iniciou a carreira no setor
público no Banco do Brasil, em 1971. Dois anos depois, foi transferido
para o Banco Central (BC). Parente foi ainda consultor do Fundo
Monetário Internacional (FMI) e de instituições públicas brasileiras,
bem como da Assembleia Nacional Constituinte, em 1988.
Ele foi
ministro durante todo o segundo mandato do ex-presidente Fernando
Henrique Cardoso (1999-2002). No governo FHC, atuou como chefe da Casa
Civil até 2001, quando assumiu o cargo batizado de "ministro do apagão",
para coordenar a equipe temporária que as cuidou das ações governo
contra a crise de energia que atingiu o País naquele ano.
Já como
ministro do Planejamento, Parente coordenou ainda, em 2002, a equipe de
Transição entre o governo FHC e o do ex-presidente Luiz Inácio Lula da
Silva. Após deixar o governo, de 2003 até 2009 foi vice-presidente
Executivo (COO) do Grupo RBS. De janeiro de 2010 a abril de 2014
presidiu a Bunge Brasil e ainda o conselho da União da Indústria de
Cana-de-açúcar (Unica) entre 2011 e 2014.Além de ser presidente do
conselho da BM&FBovespa, Parente é membro dos conselhos da
SBR-Global e do Grupo ABC, do qual é presidente, além de ser
sócio-diretor do grupo de empresas Prada de consultoria e assessoria
financeira
Durante sua defesa no Conselho de Ética, o presidente afastado da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ) disse que enfrenta os adversários nas urnas.
"Eu
não quero a extinção dos meus adversários que não seja pela disputa
eleitoral", disse, sem se referir diretamente à presidente afastada Dilma Rousseff. O peemedebista aceitou o pedido de impeachment horas após o PT anunciar que votaria contra ele no colegiado.
Ele defendeu a legalidade no afastamento da petista e negou envolvimento em esquemas de corrupção
com participação do PT. "Não é possível ter qualquer tipo de relação
com o governo ao qual eu estava fazendo oposição ferrenha", disse. Ele
voltou a dizer que sofre perseguição do procurador-geral da República,
Rodrigo Janot.
É a primeira
vez que o parlamentar vai à Câmara após o Supremo Tribunal Federal (STF)
decidir, por unanimidade, o seu afastamento.
Defesa técnica
Cunha negou repetidamente ter contas no exterior e sugeriu que o colegiado entrevistasse uma de suas contas na Suíça. Ele rebateu todos os argumentos técnicos da acusação.
“Vossa excelência devia ter tido a oportunidade de ouvir o trust”, disse Cunha em resposta ao relator, Marcos Rogério (DEM-RO). O trust é um tipo de investimento ao qual o peemedebista é considerado beneficiário.
“Não
há elementos de prova que seja titular, dono da conta, que possa
movimentar a conta. Não escondi nada. O que efetivamente existe é um
trust, ao qual o patrimônio não me pertence, não fui autorizado a
movimentar a conta, não tenho titularidade”, afirmou.
“Considerar
isso como conta bancária igual a uma conta que qualquer um assina um
cheque e saca o dinheiro é uma comparação absurda”, completou.
Réu por corrupção e lavagem de dinheiro no âmbito da Lava Jato, Cunha é acusado de mentir à CPI da Petrobras ao negar ter contas no exterior. As contas foram comprovadas pelas investigações.
Cunha se recursou a responder a questionamentos sobre fatos como recebimento de propina, apontados por delatores da Lava Jato, o que foi criticado pelo deputado Chico Alencar (PSOL-RJ).
“O
trust não tem dono, não é conta, não é investimento. É uma benção. É
uma expectativa divina. Esse dinheiro. nasce. Pena que não para todos
brasileiros", emendou o deputado Sandro Alex (PSD-PR).
Mulher bonita
O
deputado Nelson Marchezan (PSDB-RS) ironizou a confiança de Cunha na
administração do trust pelo banco suíço. “Se essa trust fosse uma
mulher, ela deveria ser maravilhosa porque é tanta paixão cega a ponto e
colocar tantos recuros e não ter curiosidade de saber o que foi feito
com esses recursos”, disse.
“Efetivamente o trust não é uma mulher bonita porque ele foi criado pela Convenção de Haya”, rebateu o acusado.
Nulidade
Na avaliação de Cunha, o processo será anulado posteriormente porque há irregularidades. Ele entende que Marcos Rogério não poderia ser relator por ter se filiado ao DEM, partido do mesmo bloco do representado.
Também contesta a oitiva de testemunhas que relataram fatos que não estavam na representação original,
como o recebimento de propina. Os questionamentos serão apresentados na
Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) após o fim do processo no
Conselho.
O relator entrega
o parecer pela cassação até 31 de maio. No colegiado, o texto precisa
de maioria simples, no caso, 11 votos, para ser aprovado. Se aprovado no
colegiado, o relatório vai para o Plenário, onde precisa de 257 votos
para passar.
Se arquivado, o Conselho precisa votar um novo texto. Aliados de Cunha articulam um parecer alternativo com uma punição mais leve.
Impedimento
No
início da sessão, o vice-presidente do Conselho, deputado Sandro Alex,
negou quatro questões de ordem de aliados de Cunha que pediam o
impedimento do presidente, deputado José Carlos Araújo (PR-BA). Alex
considerou que os pedidos tem como objetivo “mudar o objeto da
representação e de postergar a apreciação por este órgão”.
Representantes dos Estados
Unidos e da Alemanha se manifestaram nesta quarta-feira (18/05) sobre o
processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff, afastada
temporariamente do cargo pelo Senado, afirmando que não houve um golpe
de Estado no Brasil.
"Não
acreditamos que seja um golpe de Estado brando ou de outro tipo. O que
ocorreu no Brasil foi feito seguindo um processo legal constitucional e
respeitando completamente a democracia", disse à agência de notícias Efe
o representante interino dos EUA na Organização dos Estados Americanos
(OEA), Michael Fitzpatrick.
No conselho permanente da
instituição, o diplomata americano foi o único a rechaçar abertamente a
noção de que o processo de destituição de Dilma, afastada da Presidência
por até 180 dias, seja um golpe de Estado, como defenderam os
representantes da Bolívia, da Nicarágua e da Venezuela.
Fitzpatrick
sustentou que, agora, o foco da OEA é a Venezuela. "No Brasil há um
claro respeito às instituições democráticas, há uma clara separação de
poderes, rege o Estado de Direito e há uma solução pacífica para as
disputas. Nada disso parece ser o caso na Venezuela hoje, e essa é a
preocupação", declarou o diplomata.
O
embaixador brasileiro na OEA, José Luiz Machado e Costa, defendeu que
foi seguido "o devido processo legal estabelecido" na Constituição e
assegurou que "os direitos sociais e as conquistas da sociedade
brasileira estão plenamente garantidos".
"Brasil vai superar a crise"
Em
Berlim, a crise política no Brasil foi tema na coletiva de imprensa
diária do governo federal alemão desta quarta-feira. Ao ser questionado
por um repórter se houve um golpe de Estado no Brasil, Martin Schäfer,
porta-voz do Ministério do Exterior da Alemanha, afirmou que não e
acrescentou que o governo não se deixa levar por "jogos de palavra e
formulações simples desse tipo".
Ele
reiterou que tudo ocorreu de forma constitucional e afirmou que, após o
ex-vice-presidente Michel Temer assumir a Presidência interina, tudo
precisa continuar caminhando de acordo com a Constituição, destacando
que o processo de impeachment ainda não foi concluído.
"O
que se pode dizer é que é lamentável ver que um país tão grande e
forte, que ainda tem um importante evento diante de si neste ano, os
Jogos Olímpicos no Rio, passe por um período política e economicamente
difícil", declarou o porta-voz. "Temos certeza de que um país forte, uma
democracia como o Brasil, conseguirá superar essa crise."
Questionados
sobre a suposta colaboração de Temer com a CIA, os porta-vozes disseram
que o governo alemão continuará cooperando normalmente com o governo
brasileiro.
Steffen Seibert,
porta-voz da chanceler federal Angela Merkel, destacou que Temer ocupará
a Presidência interina por no máximo 180 dias ou até que acabe o
processo de impeachment. Ele reiterou que o Brasil é um importante
parceiro estratégico da Alemanha, "o mais importante da América Latina",
com o qual o país europeu mantém relações econômicas e políticas "muito
próximas".
"Mantemos relações diplomáticas com o Brasil e é claro que também vamos cooperar com esse governo [interino]", concluiu Schäfer.
4. Quais os argumentos contrários à aceitação da denúncia?
Aliados
de Temer têm argumentado que ele não pode ser responsabilizado por
decretos assinados quando estava substituindo Dilma na Presidência da
República.
Segundo eles, o peemedebista não teria participado da
elaboração dos decretos nem da formulação da política econômica do
governo. Dessa forma, afirmam, Temer estava apenas cumprindo o ato
burocrático de assinar decretos que seriam assinados por Dilma, caso a
presidente não estivesse fora do país em viagens oficiais.
Outra questão levantada por Cunha ao rejeitar a denúncia é a diferença nas datas de assinaturas dos decretos.
No
caso de Temer, Marra aponta irregularidades na assinatura de quatro
decretos entre 26 de maio e 7 de julho do ano passado. Já a denúncia
contra a Dilma aceita pelo Congresso aponta problemas em seis decretos
assinados entre 27 de julho e 20 de agosto.