Esse é justamente o discurso que Temer tem adotado em sua defesa, ao
acusar Janot de atuar politicamente, com objetivo de derrubá-lo.
"O
freio existe, bem ou mal, para impedir um outro tipo de crise, que
seria uma instituição não eleita (o Ministério Público) perseguindo um
presidente eleito", observa.
"Se não é isso que está acontecendo,
e não me parece que seja, o ônus que os deputados teriam caso não
autorizem o prosseguimento de uma eventual denúncia é explicar sua
decisão para a população. A Câmara é formada por deputados eleitos, o
que se imagina é que eles sejam responsivos ao que os cidadãos
consideram de tudo isso", ressalta Pereira.
A professora de
Direito Constitucional da Universidade Federal do Paraná (UFPR)
Estefânia Barboza lembra que um presidente no Brasil é eleito com mais
de cinquenta milhões de votos, o que confere muita legitimidade a seu
mandato.
"É diferente de um deputado, por exemplo, que é eleito
com milhares de votos. Por isso, a Constituição dá maior proteção ao
cargo de Presidente da República, dividindo a responsabilidade do
julgamento entre a Câmara e o Supremo", afirma.
Além disso,
destaca a professora, quando o presidente vira réu, ele fica afastado do
cargo por até 180 dias, enquanto ocorre o julgamento. "É algo grave,
também por isso é preciso dividir a responsabilidade".
4) E se denúncia chegar ao STF?
Caso
a Câmara autorize o STF a julgar Temer, o processo não é aberto
automaticamente. Nesse caso, o plenário do Supremo, formado por onze
ministros, analisará conjuntamente se aceita a denúncia de Janot.
Quem
marca esse julgamento sobre o recebimento da denúncia é a presidente da
corte, Cármen Lúcia, depois que o relator do caso, Edson Fachin,
concluir seu voto.
"Tendo autorização da Câmara, assim que o
Fachin liberar a denúncia, imagino que seria pautada automaticamente
pela presidente. Acho que não existe nada no comportamento do ministro
Fachin que indique que ele demoraria com isso", afirma Pereira.
Se
a maioria decidir tornar Temer réu, ele ficaria afastado por até seis
meses do cargo, período no qual o presidente da Câmara, Rodrigo Maia,
assumiria interinamente o comando do país.
Um processo criminal
no STF costuma durar em média mais de cinco anos, segundo dados da FGV,
mas um processo contra o presidente, por sua gravidade, tenderia a ser
mais rápido.
"Como ele ficaria afastado por até seis meses,
acredito que o Supremo daria prioridade absoluta a esse processo, porque
cria uma instabilidade muito grande no país", afirma Estefânia Barboza.
Se Temer vier a ser condenado pelo STF, como já se passou
metade do atual mandato presidencial, a Constituição determina que sejam
convocadas eleições indiretas para que o Congresso escolha um
presidente e um vice para concluir o mandato até 2018.
Se ele for absolvido em eventual processo, retomaria o comando do país.
5) E se a denúncia for barrada na Câmara?
Se
de fato, como o governo espera, a Câmara barrar o andamento da
denúncia, Pereira acredita que Temer continuaria enfraquecido pelas
acusações da Lava Jato, com baixa condição de governabilidade.
"É
claro que, no prazo imediato, o governo ficará aliviado. No entanto, no
médio e no longo prazo, a opinião pública conta, os eleitores contam.
Ele pode até concluir o mandato, mas em que condições vai governar? E em
2018, como isso vai se refletir nas urnas em relação aos partidos que
estão dando sustentação para esse governo nessa situação?", questiona.
"Se
o presidente tem tanta certeza de que não há elementos para esse
processo ir à frente, seria melhor para todo mundo, inclusive para ele,
que, se essa denúncia não for à frente, que não vá por uma decisão
substantiva do Supremo Tribunal Federal, que é a instituição com maior
competência jurídica para fazer essa análise", disse também.
Para
Antonio Lavareda, professor de Ciência Política da Universidade Federal
de Pernambuco (UFPE), se a Câmara barrar o andamento de uma eventual
denúncia, o país continuará a assistir nos próximos meses "a queda de
braço" entre Temer e Janot, cujo mandato termina em setembro.
"Há
claramente uma disposição da Procuradoria de dificultar sua permanência
e sua agenda, e de outro lado há um esforço do presidente e da sua
equipe para manterem a agenda e as condições de governabilidade",
afirmou.
"O Ministério Público é um quarto poder que não está
submetido a nenhum dos três outros (Executivo, Legislativo e
Judiciário). E esse quarto poder, na aliança que fez com a Polícia
Federal e elementos da magistratura (juízes) de primeiro grau, encampou a
tarefa de por fim ao governo Temer, e está fazendo o possível com esse
objetivo", acrescentou.