BRASÍLIA — O Tribunal de Contas da União (TCU) determinou o bloqueio de bens por um ano da ex-presidente Dilma Rousseff em razão dos prejuízos na compra da refinaria de Pasadena,
no Texas. Dilma, na ocasião do negócio, efetivado em 2006, era ministra
da Casa Civil do primeiro governo Lula e presidente do Conselho de
Administração da Petrobras. O bloqueio de bens se estende aos demais
integrantes do conselho naquele momento: Antônio Palocci, preso em Curitiba na Lava-Jato; Claudio Luis Haddad; Fabio Colletti Barbosa; Gleuber Vieira; e José Sergio Gabrielli, ex-presidente da estatal.
É
a primeira vez que uma decisão de um órgão de fiscalização
responsabiliza diretamente Dilma e demais conselheiros pelos prejuízos
na compra de Pasadena. O assunto veio à tona em 2014 e pautou as
discussões na campanha em que a petista foi reeleita presidente. Dilma
sempre negou qualquer responsabilidade no negócio mal feito, atribuindo a
um "parecer falho", elaborado pelo então diretor da Petrobras Nestor
Cerveró, o aval dado pelo Conselho de Administração à compra da
refinaria.
Conforme a decisão do TCU, os ex-conselheiros devem ser
responsabilizados solidariamente com os diretores e gestores da
Petrobras, entre eles Cerveró, ex-diretor da Área Internacional; Luís
Carlos Moreira da Silva, ex-gerente da Área Internacional; e integrantes
da equipe de negociadores da estatal. Todos eles devem apresentar suas
defesas ou recolher aos cofres da Petrobras uma quantia original de US$
580,4 milhões, valor compreendido como prejuízo no negócio. O valor deve
ter atualização monetária e acréscimo de juros.
Dilma e demais
conselheiros "não cumpriram sua obrigação de acompanhar a gestão da
Diretoria Executiva, por meio da análise devida das bases do negócio que
seria realizado", segundo a decisão aprovada pelo plenário do TCU na
manhã desta quarta-feira. Os integrantes do colegiado também não pediram
"esclarecimentos mais detalhados sobre a operação antes de sua
autorização, violando assim o 'dever de diligência' para com a
companhia, o que causou prejuízo ao patrimônio da Petrobras", conforme o
acórdão aprovado em plenário.
Um laudo de uma empresa de
consultoria especializada apontava um valor de US$ 186 milhões. A compra
de metade da refinaria, em negócio feito com a Astra, e o compromisso
de comprar a outra metade envolveu gastos de US$ 766,4 milhões,
"resultando daí injustificado dano aos cofres da empresa", sustenta o
TCU.
O bloqueio dos bens é necessário para garantir o
ressarcimento do débito apurado, conforme o tribunal. Ficam fora da
medida recursos necessários à subsistência, o que inclui tratamento de
saúde dos ex-conselheiros e de seus familiares. Dilma e demais
investigados poderão designar quais bens entendem como necessário que
não sejam tornados indisponíveis.
Os ex-conselheiros têm 15 dias
para justificar por que foram assinados contratos com "cláusulas
prejudiciais" à Petrobras. A decisão desta quarta será enviada à
força-tarefa da Lava-Jato em Curitiba e ao juiz Sergio Moro, além do
Ministério da Transparência e Controladoria Geral da União (CGU).
Em
decisão anterior, de 30 de agosto, o TCU condenou Gabrielli e Cerveró a
ressarcirem os cofres da Petrobras em US$ 79,89 milhões e a pagarem
multa de R$ 10 milhões em razão de prejuízos na compra de Pasadena. Este
é o primeiro resultado de uma das tomadas de contas especiais abertas
no tribunal para tentar reaver o dinheiro perdido no negócio. Ao todo,
foram instauradas três tomadas de contas – a que resultou na condenação
de Gabrielli e Cerveró diz respeito à aquisição da segunda metade da
refinaria.
O ressarcimento dos US$ 79,89 milhões é solidário, a
ser compartilhado entre Gabrielli e Cerveró. Os dois têm 15 dias,
contados a partir da notificação, para comprovar o depósito do dinheiro à
estatal. Cerveró, segundo a conclusão do TCU, comandou as negociações
da aquisição da segunda metade da refinaria e elaborou uma carta de
intenções sem "delegação do colegiado diretor nem do conselho de
administração". Gabrielli, por sua vez, autorizou as tratativas
comandadas pelo então diretor da Área Internacional, conforme o TCU.
Já
a multa de R$ 10 milhões é individual e deve ser recolhida ao Tesouro
Nacional, também num prazo de 15 dias. As irregularidades foram
consideradas graves e, por essa razão, os dois foram condenados pelo
tribunal a ficar inabilitados para cargos públicos por um período de
oito anos. O TCU também pediu que Advocacia Geral da União (AGU) e
presidência da Petrobras adotem "medidas necessárias ao arresto dos bens
dos responsáveis, tanto quanto bastem para o pagamento do débito".
Outros
investigados, que teriam concordado com o negócio, devem se explicar em
audiência no tribunal. Entre eles está a ex-presidente da Petrobras
Maria das Graças Foster.
Nesta tomada de contas especial, o TCU
eximiu de responsabilidade os conselheiros de administração da
Petrobras, uma vez que o colegiado não deu aval ao negócio, conforme o
tribunal. A ex-presidente Dilma Rousseff presidiu o conselho entre 2003 e
2010. Uma segunda tomada de contas trata especificamente da compra da
primeira metade da refinaria, em 2006. Foi neste processo que o TCU
decidiu bloquear os bens e responsabilizar Dilma e demais conselheiros.
O
TCU chegou a determinou o bloqueio de bens de dez ex-gestores da
Petrobras apontados como responsáveis por um prejuízo de US$ 792 milhões
na compra da refinaria de Pasadena. Entre eles, estavam Gabrielli,
Cerveró, Paulo Roberto Costa e Renato Duque – estes três últimos
investigados na Operação Lava-Jato.