O sensor acusa problemas vasculares conforme a temperatura do corpo
postado em 31/10/2015 08:05
Saber
em que velocidade o sangue percorre os vasos do corpo ajuda a monitorar
e prevenir crises de cardíacas, além de checar a eficácia de
medicamentos. Para simplificar essa tarefa primordial, pesquisadores dos
Estados Unidos desenvolveram um dispositivo menos invasivo e mais
prático que aparelhos utilizados atualmente. A nova ferramenta funciona
por meio de pequenos sensores térmicos metálicos que, ao serem aplicados
na pele como um adesivo, conseguem monitorar o fluxo sanguíneo a partir
de alterações na temperatura do paciente. O dispositivo, detalhado na
revista Science Advances de hoje, foi testado com sucesso em humanos e
poderá até ser usado em órgãos internos.
A ideia de monitorar o
fluxo sanguíneo por meio de um aparelho semelhante a uma tatuagem surgiu
durante pesquisa anterior conduzida pela mesma equipe, quando os
cientistas criaram sensores eletrônicos finos a fim de mapear a
temperatura da superfície da pele. “A principal motivação, naquele caso,
era criar um dispositivo que fosse imperceptível ao usuário e
facilitasse esse tipo de avaliação”, destacou ao Correio Chad Webb,
autor do estudo e pesquisador da Universidade de Illinois.
Durante
o desenvolvimento do projeto, os especialistas notaram que a mesma
tecnologia poderia ser usada para monitorar a saúde vascular. “Mais
tarde, percebemos que um problema similar existe com os sistemas de
imagens médicas utilizados para mapear o fluxo de sangue perto da
superfície da pele. Eles são extremamente sensíveis ao movimento e
exigem que o paciente permaneça completamente imóvel para que os dados
sejam obtidos”, explica Webb.
O dispositivo criado para resolver
essa limitação é formado por uma película elástica flexível e colado na
pele. Grava o movimento de calor por meio dos sensores, sem a
necessidade de pressão aplicada externamente. As variações de
temperatura são indicadas por alterações de cores da película,
funcionando como uma espécie de termômetro colorido. “Qualquer fluxo de
sangue perto do dispositivo resulta em mudanças mensuráveis na
propagação espacial dos sinais. Com o aparelho, nós conseguimos
monitorar essas alterações ao longo do tempo”, diz Webb.
Os
autores testaram o equipamento na ponta dos dedos e no antebraços de
homens saudáveis e conseguiram medir o fluxo sanguíneo em diferentes
vasos. O sucesso dos exames iniciais deixou a equipe otimista quanto ao
futuro do projeto. “Mais e mais empresas estão focadas nos desafios
associados à construção de eletrônicos vestíveis em escala industrial. O
nosso dispositivo fornece um método para a monitorização de um
parâmetro de importância crítica para a saúde humana, o fluxo de sangue,
com uma construção bem alinhada com a produção eficaz de dispositivos
vestíveis em grande escala”, destaca o autor.
Menos internações
Roberto
Candia, cardiologista do Laboratório Exame de Brasília, acredita que o
dispositivo possa, no futuro, reduzir internações para a observação do
fluxo sanguíneo. “Muitas vezes, na clínica, são necessários
procedimentos mais invasivos para fazer esse monitoramento. Só assim,
conseguimos observar a resposta de um medicamento e saber como anda a
pressão arterial de um paciente cardiopata, por exemplo. Com um
dispositivo mais simples, essas serão tarefas muito mais fáceis de serem
realizadas”, detalha.
Candia destaca que as ferramentas
disponíveis para medir o fluxo sanguíneo não têm a mesma praticidade que
o dispositivo criado pelos cientistas da Universidade de Illinois. A
sensibilidade, por exemplo, deixa a desejar. “Os aparelhos de pressão
eletrônicos não possuem a mesma eficácia. Tecnologias como essa nos
fornecem uma análise muito mais refinada”, destaca.
Rogério de
Moura, cardiologista e chefe do Setor de Cateterismo Cardíaco do
Hospital Balbino, no Rio de Janeiro, faz outro comparativo com os
procedimentos atuais. Segundo ele, o dispositivo norte-americano utiliza
uma metodologia mais simples, sem a necessidade, por exemplo, de
emissão da luz para fazer a medição. “Pela temperatura e pela mudança
das cores dessa espécie de adesivo, temos um modo mais eficaz e com um
sistema menos complicado. Acredito também que qualquer método que ajude
pacientes em terapia intensiva e que sirva como um auxiliar ao
tratamento é um grande ganho”, destaca o especialista.
Preocupação global
Segundo
a Organização Mundial da Saúde (OMS), as doenças cardiovasculares são a
principal causa de morte do mundo. Em 2008, os óbitos ligados a essas
complicações equivaleram a 80% do total registrado no planeta. A
estimativa é de que, a cada ano, 17,3 milhões de pessoas percam a vida
em função dessas enfermidades. E a previsão é de que o cenário fique
ainda pior: a agência das Nações Unidas calcula que o número suba para
23,6 milhões em 15 anos.
Também dentro do corpo
O
dispositivo ultrafino para o monitoramento do fluxo sanguíneo é uma
esperança para auxiliar no controle e na prevenção de várias
enfermidades médicas, como a aterosclerose (o acúmulo de placas de
gordura na parede das artérias), a anemia falciforme e o diabetes. A
última enfermidade acomete 382 milhões no mundo, cerca de 12 milhões no
Brasil. Estima-se que, em 2035, a quantidade de pessoas com o mal
metabólico chegue a 471 milhões. Se mal tratado, o diabetes pode levar à
cegueira, a complicações renais e a danos neurológicos.
Os
pesquisadores da Universidade de Illinois também têm como objetivo
incorporar a película em dispositivos implantáveis para que eles possam
funcionar diretamente em órgãos internos. Chad Webb, autor do estudo,
conta que novas parcerias permitiram a continuidade do estudo. “Nós
temos colaborações em andamento com instituições médicas e indústrias ao
redor do mundo. Continuamos a aperfeiçoar a utilização desses
dispositivos em importantes aplicações práticas.”