BRASÍLIA - Levantamento feito pelo Estado
mostra que sete dos 21 deputados do Conselho de Ética da Câmara dos
Deputados são alvo de ações no Supremo Tribunal Federal. Entre eles,
três já foram formalmente denunciados e respondem como réus a ações
penais no tribunal. Os procedimentos podem influir na definição de um
nome para relatar eventual processo de cassação do mandato do presidente
da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ).
O colegiado é quem vai
analisar o pedido de cassação do peemedebista apresentado pelo PSOL e a
Rede por quebra de decoro parlamentar. Cunha é acusado de envolvimento
com o esquema de corrupção na Petrobrás e suspeito de manter contas
secretas na Suíça com recursos provenientes de atividades criminosas,
segundo a Procuradoria-Geral da República. O presidente da Câmara disse
em depoimento à CPI da Petrobrás que não tinha contas no exterior. Se
for cassado, Cunha perde foro privilegiado e poderá responder em ação na
primeira instância, conduzida pelo juiz federal Sérgio Moro.
Réus. Três deputados do Conselho de
Ética são réus em ações penais no Supremo. Fausto Pinato (PRB-SP) é
acusado por falso testemunho contra um suposto inimigo do pai dele num
processo que subiu para o STF depois que ele foi eleito; Wladmir Costa
(SD-PA) é réu por nomear funcionários fantasmas na Câmara (contra ele há
mais dois inquéritos em curso por difamação); e Washington Reis
(PMDB-RJ), por crime ambiental. Todos negam as acusações.
Reis
é um dos principais aliados de Cunha no conselho. Recai justamente
sobre ele o maior número de procedimentos no STF: seis no total. Além da
ação penal, o deputado é investigado por lavagem de dinheiro por
suposta variação de patrimônio incompatível com os bens declarados à
Justiça Eleitoral. O relator, ministro Celso de Mello, pediu, no
entanto, o arquivamento do caso.
Mais três inquéritos contra Reis o
investigam por suposto envolvimento em um esquema de fraudes em
licitações. Os crimes teriam ocorrido quando Reis era prefeito de Duque
de Caxias. Em outra ação, testemunhas o acusam de ter usado maquinário
da prefeitura do município em obras de um condomínio particular às
vésperas das eleições de 2008, quando o então prefeito tentava a
reeleição.
O deputado diz que os processos fazem parte da vida
política. “Se você for prefeito de uma cidade de mil habitantes vai
responder a 50 inquéritos no Brasil. Isso não quer dizer nada, eu sou o
político mais arrumado do mundo.”
Os outros deputados do Conselho
de Ética da Câmara que são investigados pelo Supremo são Vinícius Gurgel
(PR-AP), por crimes eleitorais e contra a ordem tributária, Betinho
Gomes (PSDB-PE), por crime eleitoral, e Nelson Marchezan Jr. (PSDB-RS),
por difamação. Todos negam irregularidades.
Além deles, quatro
outros parlamentares já foram alvo de ações na Corte, mas elas foram
arquivadas. Os dez restantes não são citados em procedimentos.Contra Cunha. O
deputado Júlio Delgado (PSB-MG), um dos principais opositores de
Eduardo Cunha (PMDB-RJ) na Comissão de Ética, também é suspeito de
integrar o esquema investigado pela Operação Lava Jato. Isso não o
impede de ser um dos responsáveis pelo parecer sobre o futuro do
presidente da Câmara.
O deputado mineiro garantiu que, caso o nome
dele seja sorteado, poderá recusar a incumbência. Mas rechaçou a
possibilidade de que o processo contra ele no Supremo desmereça as
decisões do colegiado. “Tenho plena convicção que a investigação que eu
respondo não vai dar em nada”, afirmou Delgado.
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