É
a primeira vez que uma decisão de um órgão de fiscalização
responsabiliza diretamente Dilma e demais conselheiros pelos prejuízos
na compra de Pasadena. O assunto veio à tona em 2014 e pautou as
discussões na campanha em que a petista foi reeleita presidente. Dilma
sempre negou qualquer responsabilidade no negócio mal feito, atribuindo a
um "parecer falho", elaborado pelo então diretor da Petrobras Nestor
Cerveró, o aval dado pelo Conselho de Administração à compra da
refinaria.
Conforme a decisão do TCU, os ex-conselheiros devem ser
responsabilizados solidariamente com os diretores e gestores da
Petrobras, entre eles Cerveró, ex-diretor da Área Internacional; Luís
Carlos Moreira da Silva, ex-gerente da Área Internacional; e integrantes
da equipe de negociadores da estatal. Todos eles devem apresentar suas
defesas ou recolher aos cofres da Petrobras uma quantia original de US$
580,4 milhões, valor compreendido como prejuízo no negócio. O valor deve
ter atualização monetária e acréscimo de juros.
Dilma e demais
conselheiros "não cumpriram sua obrigação de acompanhar a gestão da
Diretoria Executiva, por meio da análise devida das bases do negócio que
seria realizado", segundo a decisão aprovada pelo plenário do TCU na
manhã desta quarta-feira. Os integrantes do colegiado também não pediram
"esclarecimentos mais detalhados sobre a operação antes de sua
autorização, violando assim o 'dever de diligência' para com a
companhia, o que causou prejuízo ao patrimônio da Petrobras", conforme o
acórdão aprovado em plenário.
Um laudo de uma empresa de
consultoria especializada apontava um valor de US$ 186 milhões. A compra
de metade da refinaria, em negócio feito com a Astra, e o compromisso
de comprar a outra metade envolveu gastos de US$ 766,4 milhões,
"resultando daí injustificado dano aos cofres da empresa", sustenta o
TCU.
O bloqueio dos bens é necessário para garantir o
ressarcimento do débito apurado, conforme o tribunal. Ficam fora da
medida recursos necessários à subsistência, o que inclui tratamento de
saúde dos ex-conselheiros e de seus familiares. Dilma e demais
investigados poderão designar quais bens entendem como necessário que
não sejam tornados indisponíveis.
Os ex-conselheiros têm 15 dias
para justificar por que foram assinados contratos com "cláusulas
prejudiciais" à Petrobras. A decisão desta quarta será enviada à
força-tarefa da Lava-Jato em Curitiba e ao juiz Sergio Moro, além do
Ministério da Transparência e Controladoria Geral da União (CGU).
Em
decisão anterior, de 30 de agosto, o TCU condenou Gabrielli e Cerveró a
ressarcirem os cofres da Petrobras em US$ 79,89 milhões e a pagarem
multa de R$ 10 milhões em razão de prejuízos na compra de Pasadena. Este
é o primeiro resultado de uma das tomadas de contas especiais abertas
no tribunal para tentar reaver o dinheiro perdido no negócio. Ao todo,
foram instauradas três tomadas de contas – a que resultou na condenação
de Gabrielli e Cerveró diz respeito à aquisição da segunda metade da
refinaria.
O ressarcimento dos US$ 79,89 milhões é solidário, a
ser compartilhado entre Gabrielli e Cerveró. Os dois têm 15 dias,
contados a partir da notificação, para comprovar o depósito do dinheiro à
estatal. Cerveró, segundo a conclusão do TCU, comandou as negociações
da aquisição da segunda metade da refinaria e elaborou uma carta de
intenções sem "delegação do colegiado diretor nem do conselho de
administração". Gabrielli, por sua vez, autorizou as tratativas
comandadas pelo então diretor da Área Internacional, conforme o TCU.
Já
a multa de R$ 10 milhões é individual e deve ser recolhida ao Tesouro
Nacional, também num prazo de 15 dias. As irregularidades foram
consideradas graves e, por essa razão, os dois foram condenados pelo
tribunal a ficar inabilitados para cargos públicos por um período de
oito anos. O TCU também pediu que Advocacia Geral da União (AGU) e
presidência da Petrobras adotem "medidas necessárias ao arresto dos bens
dos responsáveis, tanto quanto bastem para o pagamento do débito".
Outros
investigados, que teriam concordado com o negócio, devem se explicar em
audiência no tribunal. Entre eles está a ex-presidente da Petrobras
Maria das Graças Foster.
Nesta tomada de contas especial, o TCU
eximiu de responsabilidade os conselheiros de administração da
Petrobras, uma vez que o colegiado não deu aval ao negócio, conforme o
tribunal. A ex-presidente Dilma Rousseff presidiu o conselho entre 2003 e
2010. Uma segunda tomada de contas trata especificamente da compra da
primeira metade da refinaria, em 2006. Foi neste processo que o TCU
decidiu bloquear os bens e responsabilizar Dilma e demais conselheiros.
O
TCU chegou a determinou o bloqueio de bens de dez ex-gestores da
Petrobras apontados como responsáveis por um prejuízo de US$ 792 milhões
na compra da refinaria de Pasadena. Entre eles, estavam Gabrielli,
Cerveró, Paulo Roberto Costa e Renato Duque – estes três últimos
investigados na Operação Lava-Jato.
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