A equipe de procuradores da operação Lava Jato não tem dúvidas de que
o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva pode ser condenado por
recebimento de propina no caso do apartamento tríplex e considera que o
depoimento de quarta-feira, comemorado pelos advogados como uma vitória
do ex-presidente, ajudou a acusação, disse à Reuters uma fonte próxima
ao assunto.
Um dos principais pontos que os procuradores
acreditam ter ajudado a acusação é o fato de que Lula confirmou a
conversa com ex-diretor de Serviços da Petrobras Renato Duque, que teria
ocorrido em um hangar de uma companhia aérea no aeroporto de Congonhas.
Em
sua delação premiada, Duque diz que Lula perguntou a ele se tinha
contas no exterior e o havia orientado a não ter nada em nome dele.
"Nos
pegou de surpresa que ele confirmasse. Não faz sentido um presidente
que alegava não saber de nada o que acontecia na Petrobras ter chamado
um diretor para perguntar disso", explicou a fonte.
No
depoimento a Moro, o ex-presidente confirma que encontrou Duque no
aeroporto em São Paulo e o questionou, mas porque havia reportagens
falando em contas no exterior.
"A pergunta que eu fiz para o
Duque foi simples: 'Tem matéria nos jornais, tem denúncias de que você
tem dinheiro no exterior, está pegando da Petrobras'. Eu falei: 'Você
tem conta no exterior?' Ele falou: 'Não tenho'. Eu falei: Acabou'. Se
não tem, não mentiu para mim. Mentiu para ele mesmo", disse Lula no
depoimento.
Os procuradores também estranharam o fato de Lula
simplesmente atribuir fatos a sua esposa, Marisa Letícia, morta no
início deste ano, ou dizer que desconhecia o que lhe era perguntado,
mesmo quando se tratava de documentos que foram encontrados em sua casa
durante uma das fases da operação Lava Jato, em 2016 --quando o
ex-presidente também foi levado a depor coercitivamente.
"Normalmente
as pessoas vêm e dão uma versão, mesmo que fantasiosa sobre os fatos.
Ele nem mesmo isso fez, não tentou construir uma versão para os
documentos, nada. O que ele fez lá não faz o menor sentido.", disse a
fonte.
Lula é acusado de corrupção passiva e lavagem de dinheiro
no caso do apartamento tríplex no Guarujá (SP). Os procuradores o acusam
de ter recebido o imóvel como propina da construtora OAS.
Segundo
a acusação, Lula e Marisa Letícia nunca assinaram a desistência do
direito ao imóvel que tinham pela cooperativa dos bancários, Bancoop,
quando a obra foi assumida pela OAS, e nem pagaram a diferença que os
demais condôminos que optaram por continuar tiveram que pagar. Ainda
assim, mantiveram a opção de compra de um apartamento ainda maior do que
previsto originalmente, o hoje famoso tríplex.
A defesa de Lula
alega que Marisa --a proprietária original-- desistiu sim do apartamento
porque Lula não quis ficar e que todos os documentos relativos ao
imóvel comprovam que ele sempre pertenceu à OAS.
Lula disse ao
juiz Sergio Moro, no depoimento, que as negociações relativas ao
apartamento foram feitas por Marisa, que era a proprietária das cotas da
Bancoop, e ele mesmo só foi ao apartamento uma vez e não sabia das
negociações.
"Isso foi um processo que se desenrolou por quatro,
cinco anos. Dona Marisa escondeu isso tudo dele durante todo esse
tempo?", questionou a fonte.
Lula é alvo de cinco ações penais,
três delas pela operação Lava Jato. A relativa ao apartamento no Guarujá
é a que está em fase mais adiantada e a sentença pode sair até o meio
do ano.
Nesta quarta-feira se encerrou o prazo para a
Procuradoria apresentar pedidos de diligências complementares. Esta
tarde, o MPF pediu para acrescentar ao processo o depoimento de uma
testemunha, Érica Monteiro Malzone, ex-funcionária da OAS
empreendimentos, que havia prestado esclarecimentos em abril.
Em
seu depoimento, Érica fala do projeto de reforma para uma cobertura no
edifício Solaris da qual tratou e de que há indícios de que seria a
destinada ao ex-presidente. Érica disse nunca ter sabido o nome da
pessoa para quem o projeto estava sendo feito, só que era um cliente
especial.
De acordo com a fonte ouvida pela Reuters, entre 50 e 60
dias o processo deve estar pronto para ir à sentença de Sérgio Moro, e o
MP irá pedir sua condenação.
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