Por ano, União e Estados gastam algo como R$ 315 bilhões para
cobrir os déficits do INSS e das previdências públicas. Pouco mais de
R$ 150 bilhões ajudam a pagar 30 milhões de benefícios do INSS, no
sistema privado. No entanto, um valor maior – R$ 164 bilhões – é drenado
para tapar o buraco nas previdências públicas, criado por apenas 3
milhões de servidores civis e militares da União e Estados.
A
diferença de gasto é ainda mais gritante quando avaliada em termos per
capita. Os cofres públicas liberam cerca de R$ 4,4 mil per capita para
cobrir o rombo do INSS, onde estão 29,2 milhões de brasileiros que
pagaram pelo benefício. Cada um dos 2,7 milhões de inativos civis da
União e dos Estados custa R$ 49 mil – praticamente dez vezes mais. Entre
os militares, a proporção sobe: cada um dos quase 300 mil inativos
custa R$ 113 mil. “Há uma enorme disparidade entre público e privado,
porque os servidores têm privilégios que elevam o valor do benefício”,
diz Leonardo Rolim Guimarães, ex-secretário de Políticas de Previdência
Social.
No INSS, ninguém ganha mais que o teto de R$ 5.531,31. A Previdência
pública vive em outro mundo. A regra, desde 2004, permite que o
benefício seja a média de 80% dos salários. A maioria que se aposenta
nos próximos anos, porém, entrou no Estado antes e segue a regra
anterior: se aposenta com o valor integral do último salário.
O
inativo do setor público também tem direito à paridade: o reajuste do
benefício é igual ao do salário de quem está na ativa. Como a política
era dar reajustes aos servidores, os inativos tiveram aumento real de
quase 40% na última década.
Esse efeito perdura se nada for feito.
“Ao longo dos próximos 15 anos, o servidor que se aposentar terá
direito ao valor integral do último salário e a paridade, com sérios
efeitos sobre as contas públicas”, diz Claudio Hamilton dos Santos,
técnico da área macroeconômica do Instituto de Pesquisa Econômica
Aplicada (Ipea).
A reforma, se aprovada, reduzirá as diferenças
entre público e privado: endurece as regras para o cálculo do benefício,
fixa para os servidores o teto do INSS e estabelece reajuste pela
inflação, entre outras medidas.
Mas os defensores da reforma dizem
que ela não se limita à questão financeira. Teria também um componente
de “justiça social”. Os déficits previdenciários são coberto por três
fontes. Parte vem da cobrança de tributos. Outra parte, da transferência
de recursos: aposentadorias e pensões consomem dinheiro que iria para
saúde, educação e, principalmente, investimentos. Entram ainda na conta
recursos amealhados com o aumento da dívida. “Como no Brasil os impostos
recaem mais sobre os mais pobres, o sistema é perverso: tira de quem
tem menos e transfere para a elite do funcionalismo”, diz Paulo Tafner,
pesquisador da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas da
Universidade de São Paulo (Fipe/USP).
Essa questão é considerada
tão séria que o economista Nelson Marconi, da Fundação Getúlio Vargas
(FGV), tem uma proposta mais radical ainda para corrigir as distorções.
“Deveriam aproveitar a reforma para taxar servidores inativos com
aposentadorias elevadas – eles não contribuíram o suficiente para ganhar
tanto”, diz.
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