Dilma Rousseff tinha “pleno
conhecimento” de como a Odebrecht atuava, em sua campanha, para quitar
dívidas, por meio de caixa dois, ao casal João Santana e Mônica Moura. A
revelação foi feita pela própria Mônica em acordo de delação premiada
no âmbito da Operação Lava-Jato. A petista sempre tentou se desvincular
de irregularidades no sistema de arrecadação nas eleições que disputou,
mas o detalhamento feito por Mônica Moura e as provas que ela apresentou
aos procuradores que atuam na investigação jogam por terra o discurso
de defesa de Dilma.
De acordo com os depoimentos de Mônica
Moura, por ordem de Dilma, cabia ao então ministro Guido Mantega
negociar os valores a serem pagos no marketing da corrida eleitoral de
2014. Mantega, apelidado de “Laticínio” nos registros da delatora – um
trocadilho com “manteiga” – fazia questão que as conversas ocorressem
sempre em sua residência oficial, em Brasília. Em uma das reuniões sobre
o tema, foi acordado que João Santana receberia 105 milhões de reais
pelos serviços da campanha, sendo que 35 milhões de reais deveriam,
necessariamente, ser quitados por meio de caixa dois.
Para
consolidar a transação, Mônica relata, em sua delação, que Mantega a
orientou a procurar a empresa Odebrecht para quitar a parcela de caixa
dois combinada. Os detalhes dos pagamentos irregulares, disse a delatora
e sócia de João Santana, foram negociados com Hilberto Mascarenhas e
Fernando Migliaccio, dois executivos que atuavam no Setor de Operações
Estruturadas da Odebrecht, nome pomposo para o setor de propinas da
empreiteira. Parte dos valores seria repassada no Brasil. Outra, a uma
conta no exterior.
Em hotéis e flats no Brasil, João Santana e
Mônica Moura receberam 10 milhões de reais dos 35 milhões de reais
acordados. O restante, que seria enviado pela Odebrecht ao exterior para
quitar o débito, nunca foi pago. Motivo: a Operação Lava Jato ganhava
corpo e o conglomerado comandado na época por Marcelo Odebrecht temia
que fossem fornecidas informações da Suíça que ligassem a companhia ao
casal de marqueteiros.
Diante do calote de 25 milhões de reais,
João Santana, que usualmente tratava da parte criativa no marketing, e
não de assuntos financeiros, assumiu o papel de “cobrador oficial” do
passivo junto à própria Dilma Rousseff. Mônica Moura também aproveitava
intervalos de gravações para cobrar de Dilma a dívida. A petista sempre
afirmava estar disposta a ajudar e, segundo Mônica, “desde o início,
tinha pleno conhecimento de que a Odebrecht ficara responsável pelo
pagamento não oficial”.
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