SÃO PAULO. Seis dias depois de o ex-presidente Luiz Inácio Lula da
Silva ter dito ao juiz Sergio Moro que não sente responsável pela
corrupção na Petrobras porque o governo não participa da administração
da estatal, os procuradores da Lava-Jato anexaram ao processo que
discute o tríplex do Guarujá uma agenda que mostra as reuniões de Lula
com representantes da empresa. Entre 2003 e 2010, foram pelo menos 27
encontros para discutir projetos da estatal, dentro e fora do Brasil -
em média, três reuniões por ano.
Os temas discutidos foram de
investimentos em refinarias a projetos incluídos no Programa de
Aceleração do Crescimento. Os procuradores querem mostrar que Lula
acompanhava de perto os projetos da estatal e discutia diretamente com a
diretoria da empresa.
Durante o depoimento, Moro quis saber se o
ex-presidente teve algum envolvimento com o projeto da refinaria Abreu e
Lima, em Pernambuco, cujo valor ultrapassou mais de 10 vezes o
planejado. Lula disse que esteve em Pernambuco com o presidente da
Venezuela Hugo Chavez, que tinha intenção de se associar ao Brasil no
projeto da refinaria, foi ao lançamento da pedra fundamental em, em 2007
esteve acompanhando as obras de terraplanagem. Chegou a reclamar não
ter sido convidado para a inauguração.
- Esteve na Petrobras para discutir? - perguntou Moro.
-
Não para discutir. Fui em Pernambuco para visitar a terraplanagem.
Havia fascinação com a quantidade de luzes acesas, a implantação de uma
refinaria no nordeste era quase como se fosse um milagre. Fui com muito
orgulho - respondeu Lula.
Lula se esqueceu de incluir a reunião
de 30 setembro de 2008, em Manaus, quando se reuniu com Hugo Chaves.
Naquele dia, a diretoria da Petrobras assinou termo de compromisso com a
PDSA, a estatal venezuelana de petróleo. Participaram o presidente da
Petrobras, José Sérgio Gabrielli e os diretores Paulo Roberto Costa e
Jorge Zelada.
Em 4 de junho de 2008, por exemplo, consta também
uma reunião de Lula com Gabrielli e o ex-ministro das Minas e Energia
Edison Lobão, organizada por Paulo Roberto Costa. O tema para discussão
era "novas refinarias", incluindo Comperj, Refinaria do Nordeste,
Premium e Refinaria 2. Um mês depois, em 3 de julho de 2008, a agenda
mostra um segundo encontro de Costa com Lula, também no Palácio do
Palácio, para falar sobre biodiesel.
Também ao depor em Brasília,
em março passado, Lula afirmou que não conheceu pessoalmente Nestor
Cerveró, ex-diretor da área internacional. No processo, ele é acusado de
tentar obstruir as investigações da Lava-Jato e comprar o silêncio de
Cerveró.
Na agenda anexada ao processo de Curitiba, consta que
Cerveró acompanhou Gabrielli em fevereiro de 2008 numa viagem de Lula à
Argentina, quando o presidente discutiu com Cristina Kirschner e Evo
Morales a crise no fornecimento do gás boliviano. Também estiveram em
Buenos Aires Graça Foster, que era diretora da área de gás da estatal e
Andre Ghirardi, que foi assessor da presidência da estatal entre 2005 e
2015. Apesar das ameaças de retaliação da Argentina e das duras
negociações com a Bolívia, os diretores da estatal estavam na comitiva
oficial: a agenda registra a viagem e o retorno deles em voo comercial.
A
Petrobras foi ouvida por Lula também em 2010. Ele teve duas reuniões
com representantes da empresa no Centro Cultural Banco do Brasil, no
Rio, em março e agosto. Na primeira, o assunto foram os projetos de óleo
e gás do Programa de Aceleração de Crescimento (PAC 2). Na segunda, em
agosto, o tema não consta na agenda, que registra apenas a participação
de Gabrielli, Costa, Graça Foster e Guilherme Estrella, diretor de
exploração.
Encontros com Duque e Costa
As
reuniões entre Costa e Lula eram frequentes. O então diretor da
Petrobras acompanhou Lula em uma viagem à Arabia Saudita e China, em
maio de 2009. Na agenda de Costa consta jantares com Lula no dia 16 de
maio, quando a comitiva estava em Riad, capital da Arábia Saudita, e em
Beijing, a capital chinesa.
Logo depois de retornar ao Brasil,
Costa falou ao GLOBO sobre o projeto de construção de uma fábrica de
coque calcinado em parceria com a estatal saudita Modern Mining Holding
Company Limited. A participação da construtora Andrade Gutierrez na
planta saudita foi alvo de acareação entre Costa e Fernando Soares, o
Fernando Baiano. Os dois delatores negaram ter recebido propina.
A
agenda revela ainda almoço de Lula com Renato Duque, então diretor de
Serviços da Petrobras no dia 8 de novembro de 2007, na sede da empresa.
Nesta data, o presidente Lula participou de uma reunião do Conselho
Nacional de Política Energética (CNPE), na sede da Petrobras, no Rio,
antes de embarcar para o Chile.
A proximidade da diretoria da
Petrobras com o governo é revelada também com as menções na agenda ao
ex-ministro José Dirceu. Renato Duque, por exemplo, chegou a organizar o
encontro de José Eduardo Dutra, que presidiu a Petrobras, com o dono de
uma empresa de comunicação com a anotação "amigo de José Dirceu". O
então diretor da estatal também recebeu Marcelo Sereno, assessor de
Dirceu. Ainda em 2003, Silvio Pereira, secretário geral do PT, foi
recebido na Petrobras com a indicação "ministro José Dirceu".
Em
fevereiro de 2004, Dutra chegou a se reunir duas vezes em menos de uma
semana com José Dirceu. Uma delas na suíte 900 do Hotel Glória, no Rio, e
outra na Casa Civil, em Brasília, com a participação também da então
ministra Dilma Rousseff. Dois meses depois, em abril, Dutra também
esteve com Dirceu num café da manhã no Mar Hotel Recife.
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