SÃO PAULO – O mercado tomou um balde de água fria com a notícia de que a lista da Odebrecht com
políticos que receberam dinheiro irregularmente envolve, também,
caciques da oposição. Surge, agora, uma grande dúvida: isso enterra o impeachment da presidente Dilma Rousseff?
Afinal, pesos-pesados do movimento pró-impeachment constam da relação
da empreiteira: do senador tucano Aécio Neves, que disputou a eleição
presidencial com Dilma em 2014, ao deputado Paulo Pereira da Silva
(Solidariedade-São Paulo), um dos fundadores da frente parlamentar que
exige a saída antecipada da petista.
A resposta mais sincera, por enquanto, é não. A lista da Odebrecht, que envolve 200 políticos de 18 partidos,
não reduz as elevadas chances de impedimento de Dilma. É preciso
lembrar duas coisas. Uma: o principal argumento do pedido que tramita na
Câmara é que Dilma praticou pedaladas fiscais, o que fere a Lei de Responsabilidade Fiscal.
Duas: todo processo de impeachment não se restringe a analisar os
aspectos jurídicos do pedido. Os parlamentares avaliam, também, aspectos
políticos, para determinar se é conveniente afastar o presidente em
questão. Por isso, o destino de Dilma depende, muito mais, de como se
comportará o PMDB. O principal partido da base aliada dá sinais de que
pode abandonar o governo nas próximas semanas.
“O
impeachment depende muito mais dos peemedebistas, do que da Lava Jato”,
diz Antônio Augusto de Queiroz, diretor do Diap (Departamento
Intersindical de Assessoria Parlamentar). Um elemento a favor do
desembarque do PMDB é que a lista da Odebrecht não cita o
vice-presidente Michel Temer, que presidente o partido. Por isso, para
Queiroz, por enquanto, esse continua o cenário mais provável.
Sem parar
Além
disso, o impeachment é o tipo de assunto que não se pode deixar pela
metade. Não é possível, simplesmente, que o Congresso pare com tudo e
finja que nunca cogitou uma troca antecipada de governo. “Os políticos
são práticos e continuarão com a tramitação; isso precisa ser votado e
decidido”, diz o cientista político Lucas de Aragão, sócio da Arko
Advice.
Para ele, o que pode ocorrer, no máximo, é que a cassação
da chapa Dilma-Temer, eleita em 2014, ganhe força no TSE como
alternativa para encaminhar a crise política. De qualquer modo, por
enquanto, a Arko mantém a estimativa de 70% de chance de impeachment de
Dilma, divulgada em 18 de março. A probabilidade anterior era de 60%.
Na
ocasião, a Arko também informou que uma enquete própria mostrou que 62%
dos 100 deputados entrevistados acreditam que o impedimento será
aprovado. No mês passado, o grupo representava apenas 24% dos
parlamentares.
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