Ministro pondera que, se provocada, corte pode analisar o caso. E lembra que jurisprudência pesa contra manobra do Planalto
"É
como nomear um empreiteiro para o Ministério dos Transportes." Foi com
essa metáfora que o ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal
(STF), criticou nesta quarta-feira a escolha do ex-presidente Luiz
Inácio Lula da Silva como ministro da Casa Civil. Segundo ele, o
tribunal já tem jurisprudência para rever o foro privilegiado em caso de
tentativa de burla à Justiça. Em outubro de 2010, às vésperas de ser
julgado pelo plenário, o então deputado Natan Donadon renunciou ao
mandato parlamentar para retirar a tramitação de seu caso do STF. Na
época, porém, o Supremo reconheceu a clara tentativa do então
parlamentar de enganar a Justiça e atrasar a conclusão do caso e manteve
o processo no tribunal.
Na avaliação de Gilmar Mendes, o STF deve ser provocado para
deliberar se a investigação contra o ex-presidente Lula na Operação Lava
Jato pode ser mantida na primeira instância e sob responsabilidade do
juiz Sergio Moro, mesmo com a nomeação de Lula para a Casa Civil. "Se o
tribunal, numa questão de ordem, puder chegar à conclusão de que, para
esses fins, a nomeação não é válida, mantém-se o processo no âmbito do
primeiro grau", disse o ministro do STF.
"Acho que é um assunto digno de preocupação para o tribunal. Imaginem
os senhores que daqui a pouco a presidente da República decida nomear
um desses empreiteiros que estão presos em Curitiba como ministro do
Transporte ou da Infraestrutura. Nós passamos a ter uma interferência
muito grave no processo judicial. Precisamos meditar sobre isso",
completou Mendes. "Se amanhã houvesse a designação de um empreiteiro
como ministro do Transporte, um empreiteiro preso, teríamos a cessação
da competência do juiz Moro? Essa é a pergunta que nós temos que nos
fazer."
E prosseguiu: "[Lula] Vem para fugir da investigação que se faz em
Curitiba, deixando este tribunal muito mal no contexto geral. É preciso
muita desfaçatez para manobrar dessa forma as instituições. É preciso
ter perdido aquele limite que distingue civilização de barbárie".
Tutor - No julgamento que a corte faz nesta
quarta-feira, de recursos que contestam o rito de impeachment a ser
seguido no processo contra a presidente Dilma Rousseff, Gilmar Mendes
voltou a condenar, desta vez em plenário, a escolha do ex-presidente
para o primeiro escalão do governo e disse que, com o agravamento da
crise política no país, Dilma teve de recorrer a um "tutor" para
governar em seu lugar.
Segundo o ministro, desde que o Supremo definiu, em dezembro, as
regras para o rito de impeachment de Dilma, "a crise política só piorou"
e "se agravou a ponto de a presidente buscar agora um tutor para
colocar no seu lugar de presidente". "Ela assume aí outro papel. Eu
disse naquele momento [no julgamento do rito de impeachment] que não se
salva quem não merece ser salvo. [Lula] É um tutor que vem com problemas
criminais muitos sérios, mudando inclusive a competência do Supremo
Tribunal Federal, tema que vamos ter que discutir", declarou.
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