Quatro dias após a maior
manifestação da história do país e com as ruas tomadas por protestos
contra a acomodação do ex-presidente Lula na Casa Civil, a Câmara dos
Deputados deu a largada nesta quinta-feira à tramitação do processo de
impeachment da presidente Dilma Rousseff. O primeiro passo foi a eleição
dos membros da comissão especial que vai elaborar um parecer sobre a
continuidade ou não da ação contra Dilma. O colegiado é composto por 65
deputados de todos os partidos na Casa.
Os
congressistas vão avaliar se Dilma cometeu crime de responsabilidade ao
incidir na prática das chamadas pedaladas fiscais, condenadas pelo
Tribunal de Contas da União (TCU), e ao editar decretos com aumento de
despesa sem o aval do Congresso Nacional, o que é vetado por lei. Novas
denúncias contra a petista, como a delação do ex-senador Delcídio do
Amaral e os aúdios que mostram que a presidente agiu para salvar Lula da
Operação Lava Jato, podem ser incluídas para investigação do colegiado.
Essa
é a segunda vez que o plenário da Câmara monta a comissão do
impeachment. Em dezembro do ano passado, em uma dura derrota do governo,
os parlamentares elegeram uma chapa articulada pela oposição e por
dissidentes, contrariando o esforço do Planalto em alocar apenas membros
governistas. A chapa alternativa, no entanto, acabou vetada pelo
Supremo Tribunal Federal (STF), o que motivou a realização de uma nova
eleição.
Partidos que
oficialmente apoiam o impeachment ocupam apenas dezoito cadeiras do
colegiado. Entretanto, movidas pela pressão popular, legendas
independentes ou governistas também têm representantes favoráveis à
derrubada da petista. A expectativa da oposição é de que a insatisfação
das ruas faça com que deputados aliados do Planalto acabem se rebelando e
unindo-se contra Dilma. Nesta quarta-feira, o PRB deu início à
debandada na base do governo e rompeu a aliança com Dilma. No fim deste
mês, o PMDB vai deliberar se segue o mesmo caminho.
Trâmite -
Depois de eleita a comissão especial, abre-se prazo de 48 horas para a
eleição do presidente e do relator do colegiado responsável pelo parecer
prévio do impeachment. A proposta, no entanto, é que o comando do
colegiado seja definido ainda nesta quinta-feira. A ideia da cúpula da
Câmara é notificar a presidente Dilma Rousseff logo em seguida para que
possa começar a contar o prazo de até 10 sessões para a apresentação de
defesa pela petista.
A
comissão especial tem prazo máximo de cinco sessões, contados a partir
da manifestação da presidente ou do término das dez sessões, para
apresentar um parecer a favor ou contrário ao pedido de derrubada de
Dilma. Depois de o parecer lido no plenário da Câmara dos Deputados e
publicado, o mesmo plenário tem 48 horas para pautar o tema para
votação. O processo de impeachment é admitido se tiver apoio de pelo
menos 342 votos.
Encerrada a
fase de tramitação do processo de impeachment na Câmara, o caso é
encaminhado em até duas sessões para o Senado Federal. É nesta Casa,
segundo o Supremo Tribunal Federal, que é definida a abertura da ação de
impedimento e decretado, como consequência, o afastamento da
presidente. O Artigo 86 da Constituição estabelece que, "admitida a
acusação contra o Presidente da República, por dois terços da Câmara dos
Deputados, será ele submetido a julgamento (...) perante o Senado
Federal, nos crimes de responsabilidade".
Mesmo
com o governo em crise permanente, o Palácio do Planalto ainda
considera sua base aliada no Senado mais confiável do que na Câmara dos
Deputados.
Confira abaixo quem são os integrantes da comissão do impeachment:
PMDB:
João Marcelo Souza (MA), Leonardo Quintão (MG), Leonardo Picciani (RJ),
Lúcio Vieira Lima (BA), Mauro Mariani (SC), Osmar Terra (RS), Valtenir
Pereira (MT), Washington Reis (RJ)
PT:
Arlindo Chinaglia (SP), Henrique Fontana (RS), José Mentor (SP), Paulo
Teixeira (SP), Pepe Vargas (RS), Vicente Cândido (SP), Wadih Damous
(RJ), Zé Geraldo (PA)
PSDB: Bruno Covas (SP), Carlos Sampaio (SP), Jutahy Junior (BA), Nilson Leitão (MT), Paulo Abi-Ackel (MG), Shéridan (RR)
PP: Aguinaldo Ribeiro (PB), Jerônimo Goergen (RS), Julio Lopes (RJ), Paulo Maluf (SP), Roberto Brito (BA)
PR: Edio Lopes (RR), José Rocha (BA), Maurício Quintella Lessa (AL), Zenaide Maia RN)
PTB: Benito Gama (BA), Jovair Arantes (GO), Luiz Carlos Busato (RS)
DEM: Elmar Nascimento (BA), Mendonça Filho (PE), Rodrigo Maia (RJ)
PRB: Jhonatan de Jesus (PRB), Marcelo Squassoni (SP)
PSC: Eduardo Bolsonaro (SP), Marco Feliciano (SP)
SD: Fernando Francischini (PR), Paulo Pereira da Silva (SP)
PEN: Junior Marreca (MA)
PHS: Marcelo Aro (MG)
PTN: Bacelar (BA)
PSD: Rogério Rosso (DF), Júlio César (PI), Paulo Magalhães (BA), Marcos Montes (MG)
PROS: Eros Biondini (MG), Ronaldo Fonseca (DF)
PCdoB: Jandira Feghali (RJ)
PSB: Bebeto (BA), Danilo Forte (CE), Fernando Coelho Filho (PE), Thadeu Alencar (PE)
PDT: Weverton Rocha (MA), Flávio Nogueira (PI)
PPS: Alex Manente (SP)
PSOL: Chico Alencar (RJ)
PV: Evair de Melo (ES)
PTdoB: Silvio Costa (PE)
PMB: Weliton Prado (MG)
Rede: Aliel Machado (PR)
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