Em meio à maior turbulência política que já enfrentou, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva divulgou uma carta aberta na noite desta quinta-feira (17).
O ministro interrompido critica a conduta da Justiça Federal e da Polícia Federal, por meio da Operação Lava Jato.
Ele
acusa a violação de sua intimidade e de sua família "por meio de
vazamentos ilegais de informações que deveriam estar sob guarda da
Justiça".
Lula denuncia "atos injustificáveis de violência" contra ele e os familiares e diz que se encontra em "situação extrema".
"Me
foram subtraídos direitos fundamentais por agentes do estado, externei
minha inconformidade em conversas pessoais, que jamais teriam
ultrapassado os limites da confidencialidade, se não fossem expostas
publicamente por uma decisão judicial que ofende a lei e o direitos",
escreveu, referindo-se aos áudios interceptados pela PF e divulgados
depois que o juiz Sérgio Moro levantou sigilo sobre o inquérito da 24ª
fase da operação.
"Creio nas instituições
democráticas, na relação independente e harmônica entre os Poderes da
República, conforme estabelecido na Constituição Federal.
Dos
membros do Poder Judiciário espero, como todos os brasileiros, isenção e
firmeza para distribuir a Justiça e garantir o cumprimento da lei e o
respeito inarredável ao estado de direito.
Creio também nos
critérios da impessoalidade, imparcialidade e equilíbrio que norteiam os
magistrados incumbidos desta nobre missão.
Por acreditar nas
instituições e nas pessoas que as encarnam, recorri ao Supremo Tribunal
Federal sempre que necessário, especialmente nestas últimas semanas,
para garantir direitos e prerrogativas que não me alcançam
exclusivamente, mas a cada cidadão e a toda a sociedade.
Nos oito
anos em que exerci a presidência da República, por decisão soberana do
povo – fonte primeira e insubstituível do exercício do poder nas
democracias – tive oportunidade de demonstrar apreço e respeito pelo
Judiciário.
Não o fiz apenas por palavras, mas mantendo uma
relação cotidiana de respeito, diálogo e cooperação; na prática, que é o
critério mais justo da verdade.
Em meu governo, quando o Supremo
Tribunal Federal considerou-se afrontado pela suspeita de que seu então
presidente teria sido vítima de escuta telefônica, não me perdi em
considerações sobre a origem ou a veracidade das evidências
apresentadas.
Naquela ocasião, apresentei de pleno a resposta que
me pareceu adequada para preservar a dignidade da Suprema Corte, e para
que as suspeitas fossem livremente investigadas e se chegasse, assim, à
verdade dos fatos.
Agi daquela forma não apenas porque teriam sido expostas a intimidade e as opiniões dos interlocutores.
Agi
por respeito à instituição do Judiciário e porque me pareceu também a
atitude adequada diante das responsabilidades que me haviam sido
confiadas pelo povo brasileiro.
Nas últimas semanas, como todos
sabem, é a minha intimidade, de minha esposa e meus filhos, dos meus
companheiros de trabalho que tem sido violentada por meio de vazamentos
ilegais de informações que deveriam estar sob a guarda da Justiça.
Sob
o manto de processos conhecidos primeiro pela imprensa e só depois
pelos diretamente e legalmente interessados, foram praticado atos
injustificáveis de violência contra minha pessoa e de minha família.
Nesta
situação extrema, em que me foram subtraídos direitos fundamentais por
agentes do estado, externei minha inconformidade em conversas pessoais,
que jamais teriam ultrapassado os limites da confidencialidade, se não
fossem expostas publicamente por uma decisão judicial que ofende a lei e
o direito.
Não espero que ministros e ministras da Suprema Corte compartilhem minhas posições pessoais e políticas.
Mas
não me conformo que, neste episódio, palavras extraídas ilegalmente de
conversas pessoais, protegidas pelo Artigo 5º da Constituição, tornem-se
objeto de juízos derrogatórios sobre meu caráter.
Não me conformo
que se palavras ditas em particular sejam tratadas como ofensa pública,
antes de se proceder a um exame imparcial, isento e corajoso do
levantamento ilegal do sigilo das informações.
Não me conformo que o juízo personalíssimo de valores se sobreponha ao direito.
Não
tive acesso a grandes estudos formais, como sabem os brasileiros. Não
sou doutor, letrado, jurisconsulto. Mas sei, como todo ser humano,
distinguir o certo do errado; o justo do injusto.
Os tristes e vergonhosos episódios das últimas semanas não me farão descrer da instituição do Poder Judiciário.
Nem
me farão perder a esperança no discernimento, no equilíbrio e no senso
de proporção de ministros e ministras da Suprema Corte.
Justiça, simplesmente justiça, é o que espero, para mim e para todos, na vigência plena do estado de direito democrático."
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