Na Câmara, Cunha monta pauta-bomba
Após meses de
crise constante com o Congresso, o governo pode esperar um segundo
semestre ainda mais repleto de obstáculos, ao menos na Câmara. Desde que
foi acusado de cobrar propina de US$ 5 milhões para viabilizar
contratos com a Petrobras, o presidente da Casa, Eduardo Cunha
(PMDB-RJ), reagiu atacando o Executivo e começou a montar uma
pauta-bomba para atingir o Palácio do Planalto.
Cunha
autorizou a criação das CPIs do BNDES e dos Fundos de Pensão e articula
não somente deixar o PT fora do comando dessas comissões como também
entregar a presidência ou a relatoria de uma delas à oposição. Outra
medida de Cunha foi despachar 12 pedidos de impeachment da presidente
Dilma para tê-los prontos para serem analisados pela Câmara.
Além
disso, o peemedebista pautou para agosto a votação de todas as
prestações de contas do governo, para limpar o caminho para as contas de
2014 de Dilma, em análise no Tribunal de Contas da União.
Haverá
ainda, na próxima sessão do Congresso, a votação de vetos a projetos
com potencial de grande impacto nas contas públicas, como o que altera o
fator previdenciário. Semana passada, Cunha disse haver grande
possibilidade deste veto ser derrubado. No Planalto, a maior preocupação
é com o projeto que dobra o reajuste do FGTS.
Segundo
um ministro, se Cunha pautar a matéria, e conseguir aprová-la, "será um
desastre para o governo". Causa preocupação a derrubada de outros
vetos, como o do reajuste do Judiciário. Um deles ainda está sendo
analisado por Dilma, que tem prazo até o dia 30 para decidir: o da
equiparação do aumento do salário mínimo com as aposentadorias.
Cunha
admite que será árida a jornada do governo no segundo semestre, mas
nega que tenha contribuído para isso. Para ele, as dificuldades se devem
mais à baixa popularidade de Dilma e à consequente falta de apoio da
base aliada do que propriamente aos temas que a Câmara irá analisar.
—
Não é pauta-bomba, é a pauta normal que já existe. O que muda é que a
base do governo vai diminuindo à medida que a economia piora e a
popularidade diminui. A dificuldade do governo aumenta na medida em que
diminui o índice de aprovação. Isso faz a real diferença - disse o
presidente da Câmara.
O
ímpeto oposicionista de Cunha está sendo considerado excessivo até por
deputados de partidos de oposição ao governo, como o DEM e o PSDB.
—
Ele vai criar tensões com o governo e mais embaraços. Não vai ter
cerimônias nem limites. A oposição pode até comemorar, mas também se
preocupa com o lado institucional. É preciso buscar equilíbrio, porque
algo de muito grave poderá acontecer nos próximos meses - disse uma
parlamentar da oposição.
Na
primeira semana de recesso, Cunha continuou a preparar o terreno contra o
governo. Condenou a redução da meta do superávit anunciada pelo governo
e previu "dias difíceis" até a aprovação do texto.
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