Crise faz procura por estagiários disparar
Com a estagnação da economia, está cada vez mais difícil encontrar trabalho - a não ser que você ainda esteja estudando.
Apesar
do cenário econômico desanimador, muitos sites de oferta de emprego têm
assistido a um aumento surpreendente da demanda por estagiários.
A
Catho, por exemplo, diz que o número de vagas de estágio anunciadas nos
primeiros cinco meses deste ano pela empresa teria passado de 30.382
para 41.215 - um aumento de 35,6%. Para se ter uma ideia, no mesmo
período, a abertura de vagas na economia caiu 14,2% segundo cálculos de
Raone Costa, economista da Catho-Fipe.
Na
Cia de Talentos, o volume de vagas de estágio também teria crescido
25%. Já a Webestágios, agência online ligada ao Banco Nacional de
Empregos (BNE), diz ter registrado um aumento da busca por estagiários
de 15% a 20% no primeiro semestre deste ano.
Segundo
Eraldo Vieira, especialista em recrutamento e seleção da Webestágio, o
ponto alto da procura foi janeiro, quando houve um aumento de 216% sobre
o mesmo período de 2014.
"Podemos
dizer que as empresas estão fazendo um investimento no futuro, já que,
no presente, a situação econômica está complicada", diz Vieira,
acrescentando que o custo também contribui com o quadro.
Segundo
dados do IBGE, divulgados nesta quinta-feira, o desemprego nas
principais regiões metropolitanas brasileiras (medido pela Pesquisa
Mensal de Emprego) subiu para 6,9% em junho. Em maio, a taxa foi de 6,7%
e, no mesmo período do ano passado, de 4,8%. Foi o maior índice para um
mês de junho desde 2010.
Salários mais baixos
Para
Costa, da Catho-Fipe, a maior procura por estagiários faz parte de uma
tendência mais ampla no mercado de trabalho ditada pelo imperativo da
redução de custos: o achatamento dos salários.
"Os diretores estão sendo substituídos por gerentes, ou diretores que ganham menos, por exemplo", diz ele.
"No
geral, não acho que as empresas estejam demitindo profissionais
efetivos para contratar estagiários - até porque há regras sobre o
programa de estágio que impedem essa substituição. Essa seria uma visão
muito simplista. Mas, de fato, há uma tendência geral para a contratação
de pessoas com salários mais baixos que parece estar favorecendo a
entrada de estagiários nas empresas."
O economista lembra que o salário médio dos profissionais admitidos está caindo de forma significativa nos últimos meses.
"Só
em junho, a queda no salário dos que foram contratados foi de 2%", diz
ele. "Já o salário médio dos demitidos vinha subindo nos últimos meses,
apesar de, em junho, ter apresentado uma ligeira queda, ficando próximo
da estabilidade."
Paula
Esteves, diretora da Cia de Talentos acredita que a necessidade das
empresas se reestruturarem também faz com que vejam com bons olhos a
possibilidade de incorporar em seus quadros jovens com ideias novas. "O
estágio também pode ser uma porta para a oxigenação e inovação das
empresas", diz ela.
É verdade que nem todos os recrutadores têm registrado essa tendência de maior procura por estagiários.
A
Page Talent, unidade de negócio da Page Personnel especializada em
atração, seleção e desenvolvimento de estagiários, por exemplo, diz ter
tido uma redução no número de vagas para estagiários no primeiro
semestre.
"Mas, certamente, o
impacto da crise neste segmento foi muito menor do que entre
profissionais mais experientes. Acho que é importante dizer que ainda há
ótimas vagas para os jovens que estão começando a carreira tanto em
trainee quanto em estágio", diz Manoela Costa, gerente executiva da Page
Talent.
Os recrutadores negam que a crise aumente o risco que os estagiários sejam usados pelas empresas como mão de obra barata.
"É
claro que pode haver abusos em casos específicos, de empresários
'malandros'. Mas no geral as empresas sabem que estagiário não é mão de
obra barata. Há uma lei sobre o tema que garante que o estagiário está
lá para aprender, tem uma carga horária reduzida e precisa de um
acompanhamento. Não dá para colocar um estudante de direito no
telemarketing, por exemplo", diz Vieira.
"Na
realidade, mesmo com a crise temos um aumento do investimento e da
qualidade (dos programas de estágio), do desenvolvimento e
acompanhamento destes estagiários", concorda Esteves. "Nas empresas que
desenvolvem esses programas estruturados, o estagiário está longe de ser
mão de obra barata", defende.
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