São Paulo - Em pronunciamento à nação nesta quinta-feira (12), após
ter seu mandato suspenso por decisão do Senado no processo de
impeachment, a presidente afastada Dilma Rousseff (PT) reafirmou que não
deixará de lutar por seu mandato.
"Já sofri a dor indizível da
tortura, a dor aflitiva da doença, e, agora, sofro, mais uma vez, a dor
inominável da injustiça. O que mais dói nesse momento é a injustiça, é
perceber que estou sendo vítima de uma farsa jurídica e política. Mas
não esmoreço. Olho para trás e vejo tudo que fizemos. Olho para frente e
vejo tudo que ainda precisamos fazer", afirmou para a imprensa.
"Eu
fui eleita presidenta com 54 milhões de cidadãs e cidadãos brasileiros.
É nesta condição de presidenta eleita pelos 54 milhões que eu me dirijo
a vocês neste momento decisivo para a democracia brasileira e para
nosso futuro como nação", disse.
Veja a íntegra do discurso de Dilma Rousseff:
"Queria
dizer a todos os brasileiros e brasileiras que foi aberto pelo Senado
Federal o processo de impeachment e determinada a suspensão do exercício
do meu mandato pelo prazo máximo de 180 dias.
Eu fui eleita
presidenta com 54 milhões de cidadãs e cidadãos brasileiros. É nesta
condição de presidenta eleita pelos 54 milhões que eu me dirijo a vocês
neste momento decisivo para a democracia brasileira e para nosso futuro
como nação.
O que está em jogo no processo de impeachment não é
apenas o meu mandato, o que está em jogo é o respeito às urnas, à
vontade soberana do povo brasileiro e à Constituição.
O que está
em jogo são as conquistas dos últimos 13 anos, os ganhos das pessoas
mais pobres e da classe média, a proteção às crianças, os jovens
chegando às universidades e às escolas téncicas, a valorização do
salário mínimo, os médicos atendendo a população, a realização do sonho
da casa própria no Minha Casa Minha Vida.
O que está em jogo é
também a grande descoberta do Brasil, o pré-sal. O que está em jogo é o
futuro do país, a oportunidade e a esperança de avançar sempre mais.
Diante
da decisão do Senado, eu quero mais uma vez esclarecer os fatos e
denunciar os riscos para o país de um impeachment fraudulento, um
verdadeiro golpe.
Desde que fui eleita, parte da oposição
inconformada pediu recontagem dos votos, tentou anular as eleições e,
depois, passou a conspirar abertamente pelo meu impeachment. Mergulharam
o país em um estado permanente de instabilidade política, impedindo a
recuperação da economia com um único objetivo: tomar à força o que não
conquistaram nas urnas.
Meu governo tem sido alvo de intensa e
incessante sabotagem. O objetivo evidente vem sendo me impedir de
governar e assim forjar o meio ambiente propício ao golpe. Quando a
presidente eleita é cassada sob a acusação de um crime que não cometeu o
nome que se dá a isso, no mundo democrático, não é impeachment, é
golpe.
Não cometi crime de responsabilidade. Não há razão para o
processo de impeachment, não tenho contas no exterior, nunca recebi
propinas, jamais compactuei com a corrupção, esse processo é um processo
frágil, juridicamente inconsistente, um processo injusto, desencadeado
contra uma pessoa honesta e inocente.
É a maior das brutalidades
que pode ser cometida contra qualquer ser humano: puni-lo por um crime
que não cometeu. Não existe injustiça mais devastadora do que condenar
um inocente, injustiça cometida é mal irreparável.
Essa farsa jurídica de que estou sendo alvo deve-se ao fato de que como presidenta nunca aceitei chantagem de qualquer natureza.
Posso
ter cometido erros, mas não cometi crimes. Estou sendo julgada
injustamente por ter feito tudo o que a lei me autorizava a fazer.
Os
atos que pratiquei foram atos legais, corretos, necessários. Atos de
governo. Atos idênticos foram executados pelos presidentes que me
antecederam. Não era crime na época deles e também não é crime agora.
Acusam-me
de ter editado seis decretos de crédito suplementar e ao fazê-lo ter
cometido crime contra a lei orçamentária. É falso, pois os decretos
seguiram autorizações previstas em lei. Tratam como crime um ato
corriqueiro de gestão.
Acusam-me de atrasar pagamentos do plano
Safra. É falso, nada determinei a respeito. A lei não exige minha
participação na execução deste plano. Meus acusadores sequer conseguem
dizer que ato eu teria praticado. Além disso, nada restou para ser pago,
nem dívida há.
Jamais em uma democracia o mandato legítimo de um
presidente eleito poderá ser interrompido por causa de atos legítimos de
gestão orçamentária. O Brasil não pode ser o primeiro a fazer isso.
Queria
me dirigir a toda a população do meu país dizendo que o golpe não visa a
apenas me destituir. Destituir uma presidente eleita pelo voto de
milhões de brasileiros. Voto direto, em uma eleição justa. Ao destituir o
meu governo querem na verdade impedir a execução do programa que foi
escolhido pelos votos majoritários dos 54 milhões de brasileiros e
brasileiras.
O golpe ameaça levar no condão (?), não só a
democracia, mas as conquistas que a população alcançou nas últimas
décadas. Durante todo esse tempo, tenho sido também uma fiadora zelosa
do Estado Democrático de Direito. Meu governo não cometeu nenhum ato
repressivo contra movimentos sociais, movimentos reivindicatórios ou
manifestantes de qualquer posição politica.
O risco para o país
nesse momento é ser dirigido pelo governo dos sem voto, que não foi
eleito pelo voto direto da população brasileira. um governo que não terá
a legitimidade para propor e implementar soluções para os desafios do
Brasil.
Um governo que pode ser ver tentado a reprimir os que
protestam contra ele. Um governo que nasce do golpe, de um impeachment
fraudulento, que nasce de um espécie de eleição indireta. Um governo que
será ele próprio a grande razão para a continuidade da crise política
no nosso país.
Quero dizer a todos vocês que tenho orgulho de ser a
primeira mulher eleita presidenta do Brasil. Nesses anos, exerci meu
mandato de forma digna e honesta. Honrei os votos que recebi. Em nome
desses votos e de todo o povo desse país, vou lutar com todos os
instrumentos legais que disponho para exercer meu mandato até o fim. Até
o dia 31 de dezembro de 2018.
O destino sempre me reservou muitos
desafios. Muitos e grandes desafios. Alguns pareceram a mim
intransponíveis. Mas eu consegui vencê-los.
Já sofri a dor
indizível da tortura, a dor aflitiva da doença. Agora sofro, mais uma
vez, a dor igualmente inominável da injustiça. O que mais dói nesse
momento é a injustiça. O que mais dói é perceber que estou sendo vítima
de uma farsa jurídica e política.
Mas não esmoreço. Olho para trás
e vejo tudo o que fizemos. Olho para frente e vejo tudo o que
precisamos e podemos fazer. O mais importante é que posso olhar para mim
mesma e ver a face de alguém que, mesmo marcada pelo tempo, tem forças
para defender suas ideias e seus direitos.
Lutei a minha vida
inteira pela democracia. Aprendi a confiar na capacidade de luta do
nosso povo. Já vivi muitas derrotas e vivi grandes vitórias. Confesso
que nunca imaginei que seria necessário lutar, de novo, contra o golpe
no meu país.
Nossa democracia jovem, feita de lutas, feita de
sacrifícios, feita de mortes, não merece isso. Nos últimos meses, nosso
povo foi a rua em defesa de mais direitos, de mais avanços. É por isso
que tenho certeza que a população saberá dizer não ao golpe. Nosso povo é
sábio e tem experiência sólida.
Aos brasileiros que se opõe ao
golpe, independentemente de posições partidárias, faço um chamado:
mantenham-se mobilizados, unidos e em paz.
A luta pela democracia
não tem data para terminar, é luta permanente que exige de nós dedicação
constante. A luta contra o golpe é longa. É uma luta que pode ser
vencida e nós vamos vencer.
Esta vitória depende de todos nós.
Vamos mostrar ao mundo que há milhões de defensores da democracia em
nosso país. Eu sei e muitos aqui sabem, sobretudo nosso povo sabe, que a
história é feita de luta. E sempre vale lutar pela democracia.
A democracia é o lado certo da história. Jamais vamos desistir. Jamais vou desistir de lutar.
Muito obrigado a todos."
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