Advogados e professores
de direito divergem sobre a legalidade e a legitimidade das decisões
tomadas nesta segunda-feira (9) pelo presidente da Câmara, Waldir
Maranhão (PP-MA), e pelo presidente do Senado, Renan Calheiros
(PMDB-AL).
Pela manhã, Maranhão decidiu anular a sessão da Câmara
que aprovou a admissibilidade do impeachment de Dilma, mas Calheiros
ignorou tal despacho e manteve a votação sobre o afastamento da
presidente do cargo para esta quarta (11). No final da noite, Maranhão
revogou a sua própria decisão de anular a sessão.
Para o advogado e
professor Ives Gandra da Silva Martins, especialista em direito
constitucional, a decisão de Waldir Maranhão foi nula. "Não se trata
sequer de ato anulável, porque nesse caso valeria até ser anulado. Ele é
nulo desde o início e não produz efeitos. Tanto é assim que o Renan
Calheiros manteve o calendário de votação normal, corretamente."
O
especialista se ampara em três pontos para essa avaliação: a Câmara já
não tinha competência sobre o processo de impeachment no momento em que
Maranhão tomou a decisão, o Supremo Tribunal Federal já tinha se
manifestado sobre o rito do afastamento de Dilma -inclusive negando
pedidos de governistas no próprio dia de votação naquela Casa.
Por
fim, o advogado menciona a impossibilidade de decisão que retroaja para
alterar um ato jurídico perfeito e acabado, que fora conduzido segundo
as regras daquele tempo.
"Maranhão está criando conflito entre os
Poderes Executivo e Legislativo, e corre o risco de ser punido pela
Câmara por ir contra decisão tomada em plenário por mais de dois terços
dos deputados em um ato individual", diz Ives Gandra.
Já André
Ramos Tavares, professor titular de direito da USP, avalia que os
acontecimentos desta segunda mostram que "a política está precedendo o
direito. O que vale não é a previsibilidade do direito, é o poder de
quem tem a caneta", afirma.
Para Tavares, "existe, sim, do ponto
de vista jurídico, uma possível nulidade no processo de impeachment,
pois a lei que trata do tema impede que haja indicação do partido nessa
votação". Esse foi um dos argumentos de Maranhão em sua decisão.
"É
um ato de alguém que estava exercendo legitimamente a presidência -como
Eduardo Cunha anteriormente-, mas vale a maioria do dia ou vale o que
está nas leis? Estamos discutindo questões procedimentais do
impeachment, e o Supremo precisará se manifestar sobre o assunto", diz
Tavares.
Na opinião de Tavares, esse imbróglio poderia ter sido
evitado se, na semana que antecedeu o julgamento do impeachment na
Câmara, o Supremo tivesse sido mais detalhista, "ainda que impopular",
ao definir o rito do processo e as possibilidades de sua anulação. Com
informações da Folhapress.
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