A Procuradoria-Geral da
República denunciou ao STF ( Supremo Tribunal Federal) a senadora Gleisi
Hoffmann e o ex-ministro Paulo Bernardo, seu marido, por corrupção e
lavagem de dinheiro.
A acusação é que a campanha de Gleisi ao Senado, em 2010, teria recebido R$ 1 milhão do esquema de corrupção da Petrobras.
O
ministro Teori Zavascki, relator da Lava-Jato no STF, analisará a
denúncia e levará o caso para a segunda turma do tribunal, composta por
cinco integrantes.
Se os ministros aceitarem a denúncia, os dois serão transformados em réus. Não há data prevista para essa análise acontecer.
Gleisi
é uma das principais lideranças do PT no Senado e foi chefe da Casa
Civil no governo da presidente Dilma Rousseff entre junho de 2011,
quando Antonio Palocci deixou o cargo, e fevereiro de 2014 -ela deixou o
cargo para concorrer ao governo do Paraná e ficou em 3º lugar na
disputa.
Advogado da senadora e do ministro, Rodrigo Mudrovitsch
afirmou à Folha que a denúncia traz uma narrativa completamente
inverossímil e não se funda em elementos sólidos de prova.
"Declarações
desencontradas de delatores não devem permitir a instauração de uma
ação penal. Acredito que isso será reconhecido pelo STF", disse.A
denúncia também envolve o empresário Ernesto Kugler Rodrigues.
A
participação da senadora e do ex-ministro no esquema foi apontada pelo
ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa e também pelo doleiro
Alberto Youssef, em suas colaborações premiadas.
A acusação da
Procuradoria surge após a delação premiada do advogado Antonio Carlos
Brasil Fioravante Pieruccin, que confirmou repasses de dinheiro para a
campanha da petista.
Segundo Pieruccini, em 2010, ele foi
orientado por Youssef a fazer quatro viagens de São Paulo a Curitiba
(PR) para entregar dinheiro à campanha de Gleisi, ex-ministra da Casa
Civil (2011-2014).
Ele contou ter ouvido de Youssef que os valores
"tinham sido acertados com Paulo Bernardo", marido de Gleisi e
ex-ministro do Planejamento (2005-2011) e das Comunicações (2011-2015), e
se destinavam à campanha eleitoral da candidata ao Senado.
Pieruccini
disse que as entregas ocorreram em uma sala no PolloShop, localizado na
rua Camões, em Curitiba, pertencente ao empresário Ernesto Kugler
Rodrigues. Pieruccini levou uma caixa lacrada com a inscrição
"P.B./Gleisi".
Na sua frente, segundo o advogado, Kugler contou as
notas, em um total de R$ 250 mil, mas fez duas reclamações: o primeiro
valor "não dava nem para o cheiro" e a etiqueta da caixa não deveria
mais aparecer nas próximas entregas -houve mais três, de mesmo valor, de
acordo com ele.
Em relação a Gleisi, a Polícia Federal indiciou a
senadora, mas o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, pediu ao
STF para anular o ato.
Ele alega que, em 2007, o Supremo proibiu a
PF de fazer, por conta própria, o indiciamento de autoridades com foro
privilegiado, como o presidente da República, ministros de Estado,
senadores e deputados.
OUTRO LADO
Em nota, a defesa da senadora afirmou que recebeu o oferecimento da denúncia com "inconformismo".
"Todas
as provas que constam no inquérito comprovam que não houve solicitação,
entrega ou recebimento de nenhum valor por parte da Senadora. A
denúncia sequer aponta qualquer ato concreto cometido. Baseia-se apenas
em especulações que não são compatíveis com o que se espera de uma
acusação penal", diz o texto assinado pelos advogados Rodrigo
Mudrovitsch e Veronica Abdala Sterman.
"São inúmeras as
contradições nos depoimentos dos delatores que embasam a denúncia, as
quais tiram toda a credibilidade das supostas delações. Um deles
apresentou, nada mais, nada menos, do que seis versões diferentes para
esses fatos, o que comprova ainda mais que eles não existiram".
Segundo
os advogados, a delação de Pieruccini demonstra a fragilidade das
acusações."Ao apagar das luzes, depois de um ano e meio da abertura do
inquérito, uma terceira pessoa aparece oudisposta a dizer que teria
realizado a suposta entrega de valores, numa nova versão que foge de
qualquer raciocínio lógico. Vale lembrar que esta pessoa é amigo/sócio/
funcionário de Alberto Youssef, o que comprova ainda mais a fragilidade
das provas e se vale do mesmo advogado de Alberto Youssef para fazer sua
delação."
Sobre o ex-ministro, os advogados afirmam que "as
referências ao ex-ministro Paulo Bernardo na denúncia baseiam-se em
declarações contraditórias e inverossímeis. Não houve qualquer
envolvimento dele com os fatos narrados na denúncia. Demonstraremos isso
com veemência e acreditamos que a denúncia não pode ser recebida".
Em
depoimentos prestados à Polícia Federal, Gleisi Hoffmann e Paulo
Bernardo negaram quaisquer irregularidades na campanha de Gleisi em 2010
ao Senado.
Bernardo disse que o empresário Ernesto Kugler já
atuou, no passado, na "mobilização do empresariado para participar de
reuniões no período eleitoral", mas não teve "nenhuma participação
direta na campanha".
Gleisi afirmou à PF que conhece Kugler há
"cerca de dez anos", que ele "participou de alguns eventos da campanha
de 2010, mas não atuou na captação de recursos".
Kugler afirmou à
PF que "nunca obteve" de Youssef "ou de emissário dele algum valor
destinado à campanha" de Gleisi. Ele diz que não arrecadou recursos para
a campanha de 2010. Com informações da Folhapress.
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