Em sessão extraordinária, a
Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) aprovou a constitucionalidade
do processo que recomendou a cassação do mandato do ex-líder do governo
Delcídio do Amaral (ex-PT-MS). Preso em 25 de novembro por ordem do
Supremo Tribunal Federal (STF), Delcídio foi formalmente acusado de
atrapalhar as investigações da Operação Lava Jato ao tentar comprar o
silêncio de uma testemunha crucial: o ex-diretor da Petrobras Nestor
Cerveró, que sabe como poucos como funcionou o processo de aparelhamento
político na petroleira e de distribuição de propina a políticos do PT,
PMDB e PP.
Com a
constitucionalidade atestada pela CCJ, o mérito do processo de perda de
mandato de Delcídio está pautado em plenário para esta terça-feira. A
articulação de senadores como Renan Calheiros (PMDB-AL) e Romero Jucá
(PMDB-RR) é para que o ex-petista seja banido o mais rápido possível.
Renan e Jucá foram citados como destinatários de propina no acordo de
delação premiada celebrado pelo próprio Delcídio.
Hoje,
o senador apresentou defesa na CCJ. "Eu não roubei, não desviei
dinheiro, não tenho conta no exterior. Estou sendo acusado de obstrução
de Justiça", lembrou Delcídio, que se emocionou ao citar a família e
reclamou da velocidade com que o processo correu no Conselho de Ética do
Senado. Apesar de ter citado o ex-presidente Lula como o mandante da
negociação, em entrevista a VEJA, o senador não mencionou o petista em sua fala na CCJ nesta segunda.
Escanteado
por ex-aliados, o ex-líder do PT já havia afirmado que pretendia votar
no processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff nas sessões
agendadas para quarta e quinta-feiras. Uma manobra encabeçada pelo PSDB,
exposta hoje na CCJ, tentava atrasar o processo contra Delcídio até que
o aditamento da denúncia em que ele figura como alvo fosse mandado para
o colegiado. A alegação dos tucanos, endossada pela maioria da
comissão, era a de que o processo não poderia ter seguimento se os novos
fatos não fossem trazidos à tona. Esse aditamento se refere à denúncia
apresentada pelo procurador-geral da República Rodrigo Janot contra o
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, contra o empresário José Carlos
Bumlai e contra o filho dele Maurício Bumlai por indícios de que
atuaram para atrapalhar as investigações da Lava Jato.
O
problema detectado pelos senadores, no entanto, é que essas suspeitas
contra Lula e a família Bumlai estão sob segredo de justiça e não
poderiam ser compartilhadas com a CCJ, atrasando ainda mais o processo
de cassação de Delcídio. Por isso, uma proposta alternativa foi
apresentada: a de que o caso fosse tratado com urgência para se
suprimirem prazos regimentais e abrir caminho para a votação do mérito
da cassação em si.
A
discussão regimental para encurtar prazos ocorreu depois de o presidente
do Senado Renan Calheiros acusar políticos de estarem promovendo uma
manobra procrastinatória para garantir sobrevida a Delcídio e de
anunciar que não pautaria o processo de impeachment contra a presidente
Dilma Rousseff enquanto a situação de Delcídio não fosse finalizada.
"Terei
muita dificuldade de convocar uma sessão de afastamento da presidente
antes do julgamento do senador Delcídio. Não podemos deixar o processo
legislativo se procrastinar", disse Renan, que comparou o ineditismo de
um voto de Delcídio no impeachment à esdrúxula decisão do presidente em
exercício da Câmara dos Deputados Waldir Maranhão (PP-MA), que anulou
hoje sessões do impeachment de Dilma. "O espetáculo de colocar aqui o
senador Delcídio para votar o afastamento da presidente da República é
tão grande quanto esse do presidente interino da Câmara", alegou.
© Beto Barata
O senador Delcídio do Amaral, durante reunião do Conselho de Ética, em Brasília (DF) - 09/05/2016
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