© Evaristo Sa
A presidente Dilma Rousseff participa de cerimônia no Palácio do Planalto - 06/05/2016
Depois de ver fracassar a
artimanha protagonizada pelo presidente em exercício da Câmara dos
Deputados Waldir Maranhão (PP-MA), o governo tenta nesta terça-feira a
última cartada para barrar o processo de impeachment contra a presidente
Dilma Rousseff. Um dia antes de o plenário do Senado levar à votação o
parecer favorável à continuidade do pedido de impedimento da petista e
decretar seu afastamento por até 180 dias, o advogado-geral da União,
José Eduardo Cardozo, ingressou no Supremo Tribunal Federal (STF) com um
novo mandado de segurança pedindo a anulação do impeachment.
Desta
vez, a principal base da argumentação do governo é a suposta
ilegitimidade do então presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ) de
ter dado seguimento ao impeachment da petista. Na avaliação da AGU, como
o Supremo atestou que Cunha utilizou o mandato parlamentar em benefício
próprio, qualquer ato feito pelo parlamentar em relação ao impeachment
estaria comprometido e deve ser anulado. "Se recorre a esse Supremo
Tribunal Federal para que firme posicionamento quanto à nulidade
absoluta, não passível de convalidação, do procedimento ocorrido no
âmbito da Câmara dos Deputados, eivado de vícios decorrentes da prática
de atos com desvio de finalidade pelo então Presidente Eduardo Cunha,
que culminou na decisão do plenário da Câmara de autorização de
instauração de processo de crime de responsabilidade contra a senhora
Presidenta da República", diz a AGU.
No
pedido enviado ao STF, o governo coloca em xeque o ato de recebimento
da denúncia contra Dilma, todos os passos praticados em sequência ao
recebimento da denúncia e a decisão do plenário da Câmara de aprovar a
admissibilidade do impeachment em 17 de abril. "Urge que esse Supremo
Tribunal Federal reconheça a prática contumaz de atos com desvio de
finalidade, pelo então presidente da Câmara dos Deputados, também em
outras esferas, como é o caso do processo de admissibilidade da denúncia
por crime de responsabilidade contra a Presidenta da República. Caso
tais atos não sejam prontamente anulados como é devido, poderão
acarretar consequências seríssimas que conduzirão ao impeachment de uma
presidenta da República democraticamente eleita", diz o governo.
A
AGU argumenta que foram nove meses de atos supostamente contaminados
por Eduardo Cunha e exagera ao afirmar que os desdobramentos do processo
contra a presidente Dilma foram motivados por "interesse pessoal" do
então presidente da Câmara, alvo da Operação Lava Jato e de processo por
quebra de decoro no Conselho de Ética. O governo cita como exemplos
ofícios enviados por Cunha aos autores dos pedidos de impeachment para
que complementassem as denúncias com requisitos legais e a redação de um
manual do impeachment para o processo tramitar na Câmara. "O deputado
Eduardo Cunha, ao receber parcialmente a denúncia de crime de
responsabilidade subscrita por cidadãos, não pretendeu dar início a um
processo com a finalidade legal para a qual este foi criado pela nossa
ordem jurídica. Não teve por intenção dar início a um processo de
impeachment para atender ao interesse público. O propósito do seu ato
foi outro. Agiu, sem qualquer pudor, para retaliar a sra. Presidenta da
República seu governo e o seu partido (Partido dos Trabalhadores).
Procedeu, ao praticar esse ato, a uma clara vingança", afirma a
advocacia-geral.
"Onde há
desvio de poder há ilegalidade, e onde há ilegalidade há nulidade. O
presente processo de impeachment teve no seu ato inaugural uma manifesta
ilegalidade. Todos os seus atos posteriores são, por conseguinte,
completamente viciados. São nulos de pleno direito, não passíveis de
convalidação", resume o governo, que contesta ainda o fato de
determinados partidos políticos terem fechado questão nos votos que
dariam no processo de impeachment na Câmara e de as legendas terem
ameaçado expulsar seus filiados em caso de desobediência.
Câmara -
Às vésperas da votação do impedimento de Dilma na Câmara, Cardozo
também havia apelado ao Supremo com pedido para que fosse anulado o
processo de impeachment. Na época, a tese do governo tinha por base
argumentos procedimentais e a tese de que "diversos atos praticados pela
Câmara dos Deputados revelaram frontais agressões às garantias devidas
aos acusados em qualquer âmbito de apuração, (...) causando concretos e
inaceitáveis prejuízos à participação e defesa da impetrante". Naquele
recurso, segundo a AGU, havia "evidentes violações" praticadas pela
comissão especial do impeachment, que aprovara o parecer do relator
Jovair Arantes (PTB-GO) pela admissibilidade do processo de deposição de
Dilma.
Entre as supostas
violações, a advocacia-geral alegou na ocasião que os debates antes da
apreciação do texto de Arantes trouxeram à tona "diversos argumentos de
índole política" e extrapolaram a denúncia propriamente dita, com a
citação, por exemplo, de depoimentos de delação premiada do ex-líder do
governo Delcídio do Amaral (ex-PT-MS). "Foram indicadas, no parecer
elaborado pelo relator da Comissão Especial, diversas imputações e
considerações de cunho persuasivo, totalmente desconectadas do teor da
denúncia, em flagrante e inconstitucional ampliação do espectro das
imputações das quais foi a ora impetrante intimada para se defender, o
que redunda na construção de um processo em que se inviabiliza a
construção de uma defesa substancialmente adequada", diz a AGU.
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