O procurador-geral da República,
Rodrigo Janot, enviou ao Supremo Tribunal Federal (STF) um segundo
pedido de abertura de inquérito contra o senador Aécio Neves (PSDB-MG),
que inclui também o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes (PMDB), e o
deputado federal Carlos Sampaio (PSDB). Janot quer investigá-los com
base no termo 18 da delação premiada do senador Delcídio do Amaral (sem
partido-MS), em que o ex-líder do governo no Senado denuncia uma manobra
para maquiar dados do Banco Rural apresentados à CPI dos Correios, em
2005.
Segundo Delcídio, que
presidiu a CPI, o senador tucano, então governador de Minas Gerais,
ficou "incomodado" com a quebra dos sigilos fiscal e bancário do Rural,
envolvido no mensalão, e enviou emissários para convencer o ex-petista a
aumentar o prazo para a entrega dos dados pelo banco. O responsável por
negociar o adiamento teria sido Eduardo Paes, então deputado federal
pelo PSDB e secretário-geral do partido, que acabou persuadindo
Delcídio, de acordo com o relato do senador, ao argumentar que "não
haveria tempo hábil para preparar essas respostas".
Delcídio
afirma ter ouvido depois, de Paes e do próprio Aécio, que o tempo
adicional foi usado pelo banco para maquiar os dados, excluindo os que
comprometessem o então governador, seu vice, Clésio Andrade, a
Assembleia Legislativa mineira e o operador do mensalão Marcos Valério. O
senador disse ter compreendido "a existência da maquiagem pelo fato de
que a gênese do mensalão teria ocorrido em Minas Gerais", mas "não tomou
nenhuma providência ao saber que os dados estavam maquiados". Carlos
Sampaio teria sido, além de Paes, outro deputado tucano a saber do
suposto artifício.
Caso
o relator da Operação Lava Jato no STF, ministro Teori Zavascki,
autorize a abertura do inquérito, a Procuradoria-Geral da República pode
solicitar os dados ao banco que, segundo Delcídio, teria, ainda hoje,
"condições de apontar a maquiagem". De acordo com o senador, ele e Aécio
se reuniram em Belo Horizonte para tratar do tema e, após o encontro, o
tucano lhe emprestou um avião do estado para que o ex-petista seguisse
ao Rio de Janeiro. Dados sobre o uso dos aviões do governo mineiro,
divulgados pela gestão de Fernando Pimentel (PT) em março, confirmam a
versão de Delcídio do Amaral.
Este
é o segundo pedido de investigação contra o presidente do PSDB enviado
por Janot ao STF nesta semana. Na segunda-feira, o procurador-geral da
República solicitou abertura de inquérito para apurar a suposta
participação de Aécio Neves em um esquema de corrupção em Furnas.
Por
meio de nota, Aécio classifica as menções de Delcídio como
"improcedentes, caluniosas e sem qualquer tipo de comprovação na
realidade" e diz estar convicto "de que as investigações deixarão clara a
falsidade das citações feitas".
Eduardo
Paes se colocou "à disposição da Justiça para prestar esclarecimentos" e
afirmou que "em nenhum momento o então governador Aécio Neves solicitou
qualquer tipo de benefício" na CPI dos Correios.
Também
em nota divulgada nesta quarta-feira, o deputado Carlos Sampaio pondera
que o pedido de abertura de inquérito "é um procedimento corriqueiro da
PGR" e diz aguardar "com tranquilidade o desfecho deste caso".
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