O senador Delcício Amaral
(ex-PT/MS) afirmou à Procuradoria-Geral da República que o ex-ministro
Paulo Bernardo (Planejamento, Orçamento e Gestão do governo Lula, depois
Comunicações de Dilma) atuava como 'operador' da mulher, a senadora
Gleisi Hoffmann (PT/PR), voz quase solitária contra o impeachment da
presidente.Em depoimento no âmbito de sua delação premiada, no dia 11 de
abril, o ex-líder do Governo no Senado disse que Paulo Bernardo 'sempre
foi, desde a época que passou pelo Mato Crosso do Sul e até mesmo
antes, considerado um 'operador' de Gleisi Hoffmann'. Segundo ele,
'Paulo Bernardo sempre foi visto como um operador de muita competência'.
Questionado
sobre o que quer dizer com a expressão 'operador', Delcídio respondeu.
"Ele (Bernardo) tinha uma capacidade forte de alavancar recursos para a
campanha (de Gleisi)'."Que diz isto porque acredita que em 2010 Paulo
Bernardo já captava recursos para Gleisi Hoffmann; que não há
incompatibilidade entre Paulo Bernardo ser ministro do Planejamento à
época (2010) e ser operador de Gleisi; que, ao contrário, por ser Paulo
Bernardo ministro, ele tinha bastante força para captação de recursos,
até porque uma das responsabilidades dele, como ministro do
Planejamento, era gestionar o orçamento da União e, como tal, tinha
muita força."Esses trechos da delação de Delcídio foram transcritos na
longa denúncia - 47 páginas - que o procurador-geral da República
Rodrigo Janot apresentou ao Supremo Tribunal Federal contra Gleisi e
Paulo Bernardo por corrupção passiva e lavagem de dinheiro.
Ao
final da denúncia, Janot pede ao STF que cobre do casal R$ 2 milhões a
título de indenização pelo dano ao Tesouro.A Procuradoria e a Polícia
Federal afirmam que a senadora foi beneficiária de repasse de R$ 1
milhão do esquema de propinas instalado na Petrobrás que a Operação Lava
Jato desmontou. O dinheiro chegou à campanha da petista em quatro
parcelas de R$ 250 mil cada, sustenta a Procuradoria.
"Os
denunciados tinham plena ciência do esquema criminoso e da origem das
quantias ilícitas, tendo atuado concertadamente, em divisão de tarefas",
descreve Janot.Além do ex-ministro de Lula e Dilma e de Gleisi foi
denunciado o empresáro Ernesto Kugler Rodrigues, de Curitiba.O ponto de
partida da investigação foi a delação de outro personagem emblemático da
Lava Jato, o ex-diretor da Petrobrás Paulo Roberto Costa
(Abastecimento). Ele revelou a entrega daquele valor a pedido de Paulo
Bernardo.Na agenda de Paulo Roberto, apreendida pela PF, foram
identificadas anotações que, segundo o ex-diretor da estatal
petrolífera, são a pista da propina de R$ 1 milhão. Ao lado das iniciais
PB - que, segundo o delator, significam Paulo Bernardo - aparece o
número 1,0, referência àquela soma.
"Paulo
Bernardo encarregou-se de transmitir a solicitação da vantagem indevida a
Paulo Roberto Costa, no início de 2010, em local não precisamente
identificado, e de comandar o seu recebimento, enquanto Ernesto Kugler
Rodrigues encarregou-se de receber materialmente a propina, ao longo de
2010, em Curitiba, a qual se destinava a custear a campanha eleitoral de
Gleisi Helena Hoffmann, em favor de quem ambos atuavam", descreve o
procurador-geral.Janot reforça o papel de Paulo Bernardo. "À época, era
ministro do Planejamento, Orçamento e Gestão, função ocupada desde o
início de 2005, figurando como forte quadro do PT, com três mandatos de
deputado federal, agremiação partidária que comandava o Governo Federal e
que tinha perspectivas concretas de continuar a fazê-lo, com a eleição
presidencial. Tanto é assim que Paulo Bernardo, ao deixar o Ministério
do Planejamento, Orçamento e Gestão, passou a ocupar o Ministério das
Comunicações, do início de 2011 até o início de 2015 - ambas funções com
poder de influência no círculo decisório do Governo Federal."Depois, o
procurador aponta para a senadora. "O mesmo se diga de Gleisi Hoffmann,
esposa de Paulo Bernardo. Em 2010, Gleisi já sobressaía como figura
expoente do PT, tendo-se lançado como forte candidata ao Senado. Tanto é
assim que Gleisi foi de fato eleita senadora e, em meados de 2011, foi
nomeada ministra-chefe da Casa Civil, função na qual permaneceu até
2014, o que ilustra o seu potencial à época, para além da eleição para o
cargo de senadora, de ocupar funções com poder de influência no círculo
decisório do Governo Federal.
"Janot
considera que Paulo Roberto, então um dos mais importantes dirigentes da
Petrobrás, cedeu ao pedido de Paulo Bernardo porque precisava de 'apoio
político', inclusive do PT, para se manter na estatal. "Paulo Roberto
anuiu com o pagamento da vantagem indevida solicitada por Paulo Bernardo
em favor de Gleisi, dada a importância do PT e de ambos para a sua
manutenção no cargo de diretor de Abastecimento da Petrobrás, levando em
conta o respectivo exercício de funções de relevo no Governo Federal,
inclusive em perspectiva para o mandato presidencial que se iniciaria no
ano seguinte.
"Segundo a denúncia, o
pagamento do R$ 1 milhão foi 'operacionalizado' pelo doleiro Alberto
Youssef, ooutro delator da Lava Jato e então parceiro de Paulo Roberto
Costa. "O pagamento da vantagem indevida, por ordem de Paulo Roberto,
foi operacionalizado por Alberto Youssef, que era o responsável, na
estrutura da organização criminosa subjacente, por receber as propinas
das empresas que contratavam na área da Diretoria de Abastecimento da
Petrobrás e por repassá-las a agentes políticos, tudo mediante
estratégias de lavagem de dinheiro.
"Youssef
encarregou o advogado Antonio Carlos Brasil Fioravante Pieruccini de
'dissimuladamente' transportar a quantia destinada à senadora de São
Paulo para Curitiba e entregá-las a Ernesto Kugler Rodrigues, 'terceiro
que não possuía vínculos formais com a campanha de Gleisi tendo sido
realizadas quatro entregas de R$ 250 mil cada, em espécie, em quatro
locais identificados, uma delas no dia 3 de setembro de 2010 e as demais
em datas não precisamente identificadas, mas perfeitamente situadas no
período compreendido entre o início de 2010 e as eleições daquele ano'.
"O montante, após recebido, foi utilizado na campanha de Gleisi, sem contabilização ou qualquer registro", acusa Janot.
"Toda
essa sistemática de pagamento e fruiçãq dos valores foi concebida por
todos os envolvidos para ocultar e dissimular a natureza, origem,
movimentação e propriedade das quantias ilícitas, consubstanciadas em
propina (corrupção passiva), a qual foi disponibilizada por intermédio
de organização criminosa."
"Os denunciados
tinham plena ciência do esquema criminoso e da origem das quantias
ilícitas, tendo atuado concertadamente, em divisão de tarefas."Janot
observa que à Polícia Federal, Gleisi e Paulo Bernardo 'foram incisivos
ao negar qualquer participação daquele (Paulo Bernardo) na arrecadação
de recursos para a campanha em 2010'.
"Todavia,
o desempenho dessa função por Paulo Bernardo, como um verdadeiro
'operador' de sua esposa, inclusive valendo-se da importância do
Ministério então por ele ocupado, exatamente como dito por Paulo Roberto
Costa e Alberto Youssef, que o apontaram como solicitante da vantagem
indevida em favor da denunciada, além de ter vindo à tona em outra
investigação, foi corroborado por Delcídio Amaral e Ricardo Pessoa.
"Ricardo
Pessoa, empreiteiro da UTC Engenharia, é outro delator do mundo da Lava
Jato. Ele declarou. "Que recebeu solicitação para contribuir
financeiramente com a campanha de Gleisi ao Senado, em 2010, por parte
do marido dela, Paulo Bernardo, então ministro de Estado; Que, salvo
engano, os valores foram encaminhados parte para a conta da campanha
eleitoral dela e parte para o Diretório Nacional do PT, tudo a pedido de
Paulo Bernardo.
"Na semana passada, quando a
denúncia do procurador-geral foi tornada pública, a defesa de Gleisi
divulgou nota subscrita pelos advogados Rodrigo Mudrovitsch e Veronica
Abdala Sterman."
É com inconformismo que
recebemos a notícia de que o PGR apresentou denúncia em desfavor da
senadora Gleisi Hoffmann.Todas as provas que constam no inquérito
comprovam que não houve solicitação, entrega ou recebimento de nenhum
valor por parte da Senadora. A denúncia sequer aponta qualquer ato
concreto cometido. Baseia-se apenas em especulações que não são
compatíveis com o que se espera de uma acusação penal.
São
inúmeras as contradições nos depoimentos dos delatores que embasam a
denúncia, as quais tiram toda a credibilidade das supostas delações. Um
deles apresentou, nada mais, nada menos, do que seis versões diferentes
para esses fatos, o que comprova ainda mais que eles não existiram.Ao
apagar das luzes, depois de um ano e meio da abertura do inquérito, uma
terceira pessoa aparece disposta a dizer que teria realizado a suposta
entrega de valores, numa nova versão que foge de qualquer raciocínio
lógico. Vale lembrar que esta pessoa é amigo/sócio/ funcionário de
Alberto Youssef, o que comprova ainda mais a fragilidade das provas e se
vale do mesmo advogado de Alberto Youssef para fazer sua delação."Os
advogados Rodrigo Mudrovitsch e Veronica Abdala Sterman também falaram
pelo ex-ministro Paulo Bernardo. "As referências ao ex-ministro Paulo
Bernardo na denúncia baseiam-se em declarações contraditórias e
inverossímeis. Não houve qualquer envolvimento dele com os fatos
narrados na denúncia. Demonstraremos isso com veemência e acreditamos
que a denúncia não pode ser recebida".
Nenhum comentário:
Postar um comentário