A
dois dias de ser afastada do cargo, a presidente Dilma Rousseff já
limpou a mesa e as prateleiras do seu gabinete no terceiro andar do
Palácio do Planalto, em um sinal claro de que seu governo já se prepara
para descer a rampa no dia 12, acompanhada dos auxiliares mais fiéis e
para ser recebida nas ruas por representantes de movimentos sociais,
assim que for notificada oficialmente pelo Senado.
Em
uma de suas últimas audiências como presidente, nesta terça-feira, a
presidente recebeu o secretário-geral da Organização dos Estados
Americanos (OEA), Luis Almagro, em uma sala já sem objetos pessoais e
uma mesa vazia. Seguranças da Presidência tentavam evitar que os
fotógrafos, chamados para registrar o encontro, vissem os sinais da
saída iminente de Dilma do Planalto.
A
presidente deve receber a notificação de seu afastamento na
quinta-feira, dia seguinte à votação da admissibilidade do impeachment
pelo plenário do Senado. A expectativa no Planalto é que a sessão vá até
a madrugada –ou pelo menos tarde da noite de quinta-feira. Dilma deve
ser informada pelo presidente da Casa, Renan Calheiros (PMDB-AL), do
horário em que emissários do Congresso irão entregar a notificação.
De
acordo com uma fonte palaciana, a presidente ainda não decidiu se
receberá a notificação em uma cerimônia aberta, para marcar sua saída,
ou em seu gabinete. Está acertado, no entanto, que Dilma desce a rampa
do Palácio do Planalto –a mesma que subiu por duas vezes, ao tomar posse
em janeiro de 2011 e de 2015.
Ao
seu lado, estarão alguns de seus principais auxiliares –entre eles, o
ministro-chefe de Gabinete, Jaques Wagner, os ministros Ricardo Berzoini
(Secretaria de Governo), Edinho Silva (Secretaria de Comunicação da
Presidência), e o advogado-geral da União, José Eduardo Cardozo, entre
outros. Não está certo ainda se o ex-presidente Luiz Inácio Lula da
Silva, que chegou na noite desta segunda-feira a Brasília, irá
acompanhá-la na saída do Palácio do Planalto.
Movimentos
sociais alinhados com o governo –entre eles a Central Única dos
Trabalhadores, o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra e a Frente
Nacional dos Movimentos Populares– organizam uma mobilização para
esperar Dilma ao pé da rampa.
São
esperadas cerca de 10 mil pessoas, segundo a fonte, e chegou-se a
cogitar uma caminhada de Dilma e seus ministros entre o Planalto e o
Palácio da Alvorada –uma distância de pouco menos de 5 quilômetros. De
acordo com a fonte palaciana, é pouco provável que isso ocorra, mas se
imagina que os movimentos sociais irão até o Alvorada.
O
Planalto ainda negocia com o Senado qual estrutura Dilma terá a sua
disposição durante os até 180 dias que ficará afastada, durante o
período de julgamento pelo Senado.
A presidente terá o uso do
Palácio da Alvorada e o staff que o mantém, cerca de 300 pessoas entre
seguranças, manutenção, e outros funcionários de serviços domésticos.
O
pedido é que também lhe seja permitido manter entre 15 e 20 servidores
de cargos de confiança. Entre eles, o assessor especial da Presidência,
Giles Azevedo, seu assessor pessoal, o jornalista Bruno Monteiro, além
de outros assessores particulares, que cuidam da agenda de produção de
informação para a presidente.
Ainda
não houve uma resposta definitiva por parte do Senado. Um dos pedidos
–que devem ser concedidos– é o de uso de um avião da Força Aérea
Brasileira para possíveis deslocamentos. A alegação é que Dilma, apesar
de afastada, ainda se mantém presidente e não poderia se deslocar sem
pessoal de segurança, o que inviabiliza o transporte comum.
MELANCOLIA
Nos
corredores do Palácio do Planalto, o clima é de melancolia. De acordo
com assessores próximos, Dilma continua trabalhando como se seus dias no
cargo não estivessem contados. Há alguns dias, segundo a fonte,
questionada se manteria uma das recentes viagens que fez, respondeu:
“Vou fazer o quê? Parar de governar? Ainda sou presidente.”
Entre
seus auxiliares, no entanto, o tempo é de arrumar gavetas, separar
documentos e reunir objetos pessoais, assim como já fez a chefe. As
salas já têm bem menos gente do que há algumas semanas, e a preocupação
de onde cada um vai estar a partir da próxima semana é visível.
“O que eu mais faço nas últimas semanas é rasgar papel”, disse outra fonte palaciana.
Dilma,
no entanto, tenta manter a rotina. Nas últimas semanas, fez pelo menos
quatro viagens para inaugurar obras, mandou anunciar iniciativas do
governo, e é possível que na quarta-feira, enquanto o Senado vota seu
afastamento, ainda faça mais um evento, com estudantes, para marcar sua
despedida.
(Reportagem adicional de Adriano Machado)
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