A manobra para tentar evitar o
processo de cassação do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ),
envolveu até a falsificação de uma assinatura. Dois especialistas,
técnicos em graftocnia ouvidos pelo jornal Folha de S. Paulo, disseram que a renúncia do deputado Vinícius Gurgel (PR-AP) do Conselho de Ética, na sessão que aprovou
a abertura de investigação contra Cunha, foi forjada. Segundo eles, a
falsificação é "grosseira" e "primária". A denúncia está na edição desta
quarta-feira do jornal.
Aliado
e voto declarado a favor de Cunha, Gurgel não estava em Brasília na
noite de 1º de março e na madrugada do dia 2, quando o Conselho de Ética
decidiu investigar se o peemedebista ocultou contas bancárias secretas
na Suíça e se ele mentiu sobre a existência delas em depoimento à CPI da
Petrobras, no ano passado. Para evitar que o suplente de Gurgel, um
deputado do PT e contrário a Cunha, votasse, era preciso que Gurgel
renunciasse.
A
fim de atrasar a votação no Conselho - que só poderia ocorrer após o
plenário encerrar as atividades - até que a renúncia chegasse, Cunha
esticou a sessão, de forma atípica, até depois das 23 horas. A carta de
renúncia de Gurgel chegou ao Conselho às 22h40. Segundo o jornal, a
indicação para a vaga, do líder da bancada Maurício Quintella Lessa
(AL), que votou a favor de Cunha, chegou seis minutos depois, às 22h46. A
votação do processo que pode culminar na cassação do mandato de Cunha
foi apertada e terminou com 11 votos a 10.
Uma
cópia da carta de renúncia de Gurgel e três assinaturas do deputado
apresentadas anteriormente ao Conselho de Ética e reconhecidamente
autênticas, foram encaminhadas pela Folha à perícia. O
Instituto Del Picchia, de São Paulo, emitiu laudo afirmando que a
assinatura da carta de renúncia tem características "peculiares às
falsificações produzidas por processo de imitação lenta, quais seja,
imitação servil ou decalque", com "inequívocos índices primários das
falsificações gráficas".
Os
peritos Maria Regina Hellmeister e Orlando Garcia - que integrou,
oficialmente, a CPI que investigou o esquema PC Faria, em 1990 - afirmam
que os exames comparativos mostram variados antagonistas gráficos, que
levam à conclusão de que a assinatura é "produto de falsificação
grosseira".
Ao jornal, o
deputado Vinícius Gurgel disse que a falsificação apontada pode decorrer
de uma ressaca. "Se eu assinei com pressa, se eu tava [de] porre, se eu
tava de ressaca, se eu assinei com letra diferente, não vou ficar me
batendo por isso", afirmou. "Não tô, assim, justificando nem tirando a
coisa. Eu bebo. Podia estar de ressaca. Quando a pessoa está de ressaca,
não escreve do mesmo jeito, fica tremendo, acho que tinha bebido um dia
antes, assinei com pressa no aeroporto, pode não ter sido igual,
rabisquei lá."
"A assinatura
realmente era minha, acho que tinha bebido muito no dia anterior, estava
de ressaca, assinei com pressa, e não posso fazer nada se eles acham
que não é minha", concluiu. O deputado também disse que informou ao PR
por telefone sua intenção de renúncia e que deixou diversas cartas de
renúncia assinadas em seu gabinete. Sobre isso, ele justificou que era
para impedir que o suplente do PT assumisse e votasse contra Cunha.
Já Maurício Quintella Lessa afirmou que recebeu a carta da assessoria de Gurgel e negou interferência de Cunha.
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