A presidenta Dilma Rousseff não é oficialmente investigada ainda pela Lava Jato,
que não encontrou nenhum indício contra ela nestes últimos dois anos de
investigação. Mas se do ponto de vista legal a petista ainda não
respira por aparelhos, a situação política do Governo, que atravessa
grave crise política,
é a cada dia mais delicada. Além de um Congresso arredio, cada nova
fase da operação que investiga a corrupção na Petrobras tem sido um tiro
a mais em direção ao Planalto. Nas últimas semanas foram ao menos três
duros golpes contra a petista desferidos pelas canetas do juiz federal
Sérgio Moro e de sua força-tarefa. Primeiro com a prisão preventiva do
marqueteiro da mandatária, João Santana. Depois o vazamento da suposta
delação premiada do senador Delcídio do Amaral,
que implicaria Dilma e ameaça sacudir o Governo. Mas foi a última etapa
da investigação, realizada em 4 de março, a mais dolorosa para Dilma,
com a condução coercitiva do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para depor.
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Com
cacife político cada vez mais reduzido, a presidenta tem investido na
defesa do seu Governo e do ex-presidente Lula e começa a questionar
abertamente as ações do juiz Sergio Moro. Nesta segunda-feira, ela
voltou a defender o ex-presidente, coisa que ela já havia feito na
sexta-feira e no sábado. A presidenta disse que não faz sentido
"conduzir [Lula] sob vara, se ele jamais se recusou a ir", referindo-se à
condução coercitiva que levou Lula a depor na Polícia Federal. “Nunca o
presidente Lula, justiça seja feita, nunca se julgou melhor do que
ninguém (...) sempre aceitou, convidado para prestar esclarecimento,
sempre foi”, afirmou a mandatária durante evento de entrega de unidades
do programa Minha Casa Minha Vida. A petista também aproveitou a ocasião
para criticar a oposição, que segundo ela ainda está inconformada com a
derrota no pleito de 2014: “O Brasil está passando por um momento de
dificuldades. Uma parte desse momento de dificuldades é devido também à
sistemática crise política que [a oposição] provoca no país”.
A
expectativa de que a oposição volte com carga total na defesa do
afastamento da mandatária, e a possibilidade de que novos delatores
citem irregularidades na campanha da presidenta em 2014, limitam ainda
mais o oxigênio que mantém o Governo de pé. No campo jurídico, ela
enfrenta processo de cassação no Tribunal Superior Eleitoral, e Moro tem
trabalhado com a corte repassando informações sobre propinas pagas para
a campanha da presidenta. Em despacho para o TSE, o magistrado disse
que está “comprovado o direcionamento de propinas acertadas no esquema
criminoso da Petrobras para doações eleitorais registradas”. Ao menos
quatro pedidos de cassação protocolados pelo PSDB tramitam no tribunal.
Nesta segunda o Supremo Tribunal Federal publicou um acórdão com o rito a ser seguido para o impeachment de Dilma
na Câmara, o que, ao menos em teoria, coloca seu mandato nas mãos de
seu maior inimigo, Eduardo Cunha, que é réu no STF por seu envolvimento
na Lava Jato.
Por ironia do destino, embora o ambiente político
esteja cada dia mais tóxico para ela, legalmente não há nenhum indício
contra Dilma investigado pela força-tarefa. Em entrevista coletiva logo
após a deflagração da nova etapa da operação na sexta-feira passada, o
procurador Carlos Fernando dos Santos Lima afirmou que “não há nenhum
dado ou indício de participação da Dilma [no esquema de corrupção da Petrobras]
sendo investigado pela Lava Jato em Curitiba”. De acordo com ele, “se
aparecer algo aqui, como ela tem foro [privilegiado] será remetido ao
procurador-geral da Republica Rodrigo Janot”.
No
ano passado Janot já havia anunciado que as citações à presidenta
feitas por ao menos quatro delatores do esquema de corrupção não seriam
investigadas, tendo em vista que são referentes a eventuais
irregularidades cometidas no mandato anterior. É o caso do depoimento de
11 executivos da Andrade Gutierrez, segunda maior empreiteira do país,
que afirmaram no início da semana passada que a construtora pagou
despesas da campanha eleitoral de Dilma em 2010. Estes pagamentos
ilícitos que somariam mais de 5 milhões de reais foram feitos com a
utilização de contratos fictícios de prestação de serviço envolvendo uma
agência de comunicação, a Pepper.
Mas existem rumores de que
executivos da Andrade Gutierrez cogitem falar sobre pagamentos
irregulares feitos para a reeleição da presidenta em 2014, o que, caso
seja provado, poderia ser desastroso para a mandatária. E existe a
possibilidade de que Marcelo Odebrecht, preso desde junho do ano
passado, também escolha contar o que sabe. Apesar de ter criticado
delatores, a nova resolução do Supremo Tribunal Federal
que obriga condenados em segunda instância a começar a cumprir pena
antes do último recurso, coloca o empreiteiro sob pressão: até o momento
Moro condenou 75% dos réus da Lava Jato.
Também não se sabe em que medida a suposta delação de Delcídio do Amaral
pode desequilibrar a balança contra o Governo, e colocar a presidenta
na mira da Lava Jato: até o momento o parlamentar e seus advogados
negaram conhecer o conteúdo apresentado pela revista IstoÉ. Mas
essa tem sido uma prática comum quando o conteúdo dos depoimentos de
colaboradores da Justiça vaza. Para garantir os benefícios do acordo,
até que as autoridades homologuem o conteúdo do acerto os investigados
evitam comentar os fatos apresentados.\A agência de risco Eurasia,
geralmente comedida em suas análises do cenário político brasileiro – na
sexta-feira elevou para 50% a chance de Dilma não terminar o mandato.
Outro
ponto que pode dificultar ainda mais a vida de Dilma são os protestos
pró-impeachment convocados para o dia 13 deste mês. Na avaliação do
Planalto, caso os atos atraiam multidões para as ruas, como ocorreu em
uma série de atos em março de 2015 que contaram com a participação de
centenas de milhares de pessoas, a tendência é que o afastamento da
presidenta volte com toda a força à pauta do Congresso.
Mas não é apenas a direita que promete ir às ruas contra o Governo. O Movimento dos Trabalhadores Sem Teto
divulgou nesta segunda um manifesto no qual promete "intensificar suas
ações nos próximos meses (...) em todo o país e de grandes mobilizações
contra os ataques aos direitos sociais promovidos pelo Governo Dilma". O
Movimento critica "iniciativas como a reforma da Previdência, a reforma
fiscal, o acordo com o PSDB em relação ao pré-sal e a lei
antiterrorismo", e afirma que o atual Governo "parece não ter mais
limites na entrega de direitos sociais". O calvário de Dilma continua em
2016.
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