BRASÍLIA. O presidente da
Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), empreende uma nova manobra para atrasar
os trabalhos do Conselho de Ética. O objetivo é suspender,
temporariamente, o andamento do processo de cassação. O presidente
deverá contar, novamente, com a ajuda de um de seus aliados, o
vice-presidente da Câmara, Waldir Maranhão (PP-MA), o mesmo que já
trocou o relator e obrigou o Conselho a votar novamente a abertura de
processo contra Cunha. Desta vez, Maranhão deverá mandar para a Comissão
de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara recurso feito por Cunha e
determinar a suspensão das atividades do Conselho até que a outra
comissão decida sobre o tema. A CCJ, aliás, ainda não foi instalada em
2016 por decisão do próprio Cunha.
O
presidente da Câmara recorreu contra a decisão do Conselho de Ética,
tomada na semana passada, de dar andamento ao processo por quebra de
decoro. Cunha pediu efeito suspensivo com o argumento que sua defesa
está sendo cerceada. Como no recurso o pedido é que ele seja acolhido
com efeito suspensivo, basta um despacho de Maranhão nestes termos para
que a CCJ tenha de acatá-lo dessa forma. A decisão, no entanto, é
controversa e poderá ser questionada no Supremo Tribunal Federal (STF).
O
secretário-geral da Mesa, Silvio Avelino, que está no cargo por
indicação de Cunha, diz que o recurso pode ter, em si mesmo, o efeito
suspensivo porque há questionamento sobre o procedimento adotado pelo
Conselho de Ética. Segundo ele, se o recurso já chegar à CCJ com efeito
suspensivo, não é necessário nem mesmo que o atual presidente, Artur
Lira (PP-AL), também aliado de Cunha, decida neste sentido.
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O próprio recurso já tem o efeito suspensivo. Os prazos serão
interrompidos até que a CCJ vote o recurso _ disse Avelino ao GLOBO.
Na
CCJ, normalmente quando um deputado que responde a processo no Conselho
recorre da decisão, o presidente escolhe um relator, para fazer o
parecer e submetê-lo à votação pelo plenário da Comissão. O regimento só
prevê esse tipo de recurso ao final do processo. Um outro artigo até
previa o recurso durante o trâmite, mas nesse caso a previsão era
expressa de que não haveria efeito suspensivo. O recurso de Cunha toma
por base artigo do Código de Ética e Decoro sustenta que a não previsão
de recurso antes do fim do processo submete o representado a
"constrangimento ilegal". Justifica que por isso é possível, por
analogia, recorrer a esse artigo.
No
recurso, de 54 páginas, além de pedir a anulação da votação do parecer
de Marcos Rogério (PDT-RO), Cunha também pede que o presidente do
Conselho de Ética, José Carlos Araújo (PR-BA), seja declarado impedido
de atuar no processo contra ele. Cunha pede ainda que Araújo se abstenha
de praticar qualquer ato processual relativo ao processo até que sejam
decididos questionamentos apresentados por deputados, que alegam
suspeição dele, sejam decididos.
Entre
outros pontos, Cunha sustenta que houve erros no processo de escolha do
novo relator, Marcos Rogério, diz que houve cerceamento de defesa
preliminar quando o novo relator foi escolhido, que seja anulada a
tramitação do processo porque não incluíram votos em separado
apresentados pelos deputados Wellington Roberto (PR-PB) e Erivelton
Santana (PSC-BA), além da anulação da manifestação do PSOL que foi
recebida como aditamento no dia 2 de fevereiro deste ano
A
manobra em andamento já foi criticada pelos adversários de Cunha no
Conselho. O líder do PSOL, Chico Alencar (RJ), defendeu que o colegiado
não aceita a eventual decisão de Maranhão.
– É um escândalo absoluto. Nós temos que nos preparar para não aceitar decisão da mesa – disse Alencar.
O
relator do processo, Marcos Rogério (PDT-RO), ressaltou que só há
previsão de recurso à CCJ com efeito suspensivo ao final do processo.
– Estão criando um regimento novo a partir dessa interpretação – disse.
O
presidente do colegiado, José Carlos Araújo (PR-BA), ironizou,
lembrando o fato de Cunha ter se tornado réu na semana passada em
votação unânime do Supremo Tribunal Federal (STF).
– Ele não pode fazer isso lá no STF, então faz no Conselho de Ética – disse Araújo.
Todas
as comissões da Câmara estão paralisadas porque Cunha argumenta que a
decisão do STF sobre a Comissão do Impeachment pode interferir na
eleição das comissões permanentes da Casa. A expectativa é de que
somente na Semana Santa os partidos passem a indicar os membros das
comissões.
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