O marqueteiro do PT, João
Santana, e a mulher dele, Monica Moura, ficaram calados nesta
quinta-feira em depoimento à Polícia Federal. O casal está preso desde
22 de fevereiro, quando foi deflagrada a Operação Acarajé, 23ª fase da
Lava Jato. Santana e Mônica teriam recebido por meio de uma offshore não
declarada no Panamá, a Shelbill Finance, 3 milhões de dólares de duas
offshores da Odebrecht, a Klienfeld e a Innovation, e outros 4,5 milhões
de dólares de Zwi Skornicki, apontado pelos investigadores como
operador de propinas do estaleiro Keppel Fels na Petrobras. Na semana
passada, o juz Sergio Moro converteu a prisão deles em preventiva - e
agora a dupla não tem mais data para deixar a cadeia. De acordo com a
defesa do casal, com a conversão da prisão já não há mais o que ser
esclarecido à autoridade polícial. Os dois agora só falarão diante do
juiz.
De acordo com o juiz
federal, as prisões preventivas foram necessárias porque há indícios de
"participação prolongada na prática de crimes de corrupção e lavagem de
dinheiro, com recebimento, sub-reptício e doloso, de recursos de
natureza criminosa do esquema criminoso que vitimou a Petrobras, isso em
um quadro de corrupção sistêmica".
Moro
atendeu aos pedidos da Polícia Federal e do Ministério Público Federal
(MPF), que pediram a conversão das prisões temporárias, que tem prazos
para expirar, em preventivas, que não têm prazo definido. Para a PF, o
fato de João Santana ter excluído, no dia 22 de fevereiro, data
deflagração da Acarajé, uma conta que tinha no Dropbox,
apagando dados de celulares e computadores antes armazenados em
arquivos em nuvem, foi uma "clara tentativa de eliminar eventuais
elementos probatórios relevantes que ali pudessem ser encontrados". Na
decisão de hoje, Moro afirma que "apagar os arquivos em nuvem equivale a
destruir documentos que podem interessar à investigação".
No pedido do MPF, os procuradores citam, além dos 7,5 milhões de dólares recebidos por Santana e sua esposa na Shelbill, 21,5 milhões de reais recebidos por Santana da Odebrecht
entre outubro de 2014, durante as eleições presidenciais que terminaram
com a reeleição de Dilma, e maio de 2015. Segundo o MPF, o recebimento
oculto do dinheiro "revela claramente que sabiam da origem ilícita dos
recursos e que participaram da empreitada para que os valores fossem
recebidos à margem da lei, provavelmente em remessas feitas em espécie,
controladas apenas a partir da contabilidade paralela armazenada de
forma aparentemente segura na residência da secretária do Grupo
Odebrecht".
Em
seus depoimentos à força-tarefa da Lava Jato em Curitiba, Santana e
Mônica Moura atribuíram os pagamentos da Odebrecht no exterior à prática
de caixa dois na campanha do ex-presidente venezuelano Hugo Chávez em
2012 e, no caso de Zwi Skornicki, à campanha do presidente angolano José
Eduardo dos Santos, em 2012.
Na
tentativa de desqualificar as acusações de lavagem de dinheiro, o
publicitário declarou que não sabia a origem dos milhões de dólares
repassados às suas contas - dinheiro que, diz o Ministério Público, foi
desviado do esquema de corrupção instalado na Petrobras. Para os
investigadores, não há dúvida: João Santana e a mulher, Mônica Moura,
sabiam da "origem espúria" do dinheiro que escondiam no exterior.
Santana também negou qualquer relação com o apelido Feira, encontrado na
agenda de Marcelo Odebrecht.
Sem descer do salto: Mônica Moura (à frente do marido, João Santana) sorri ao se apresentar à PF em Curitiba
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