Às vésperas dos protestos de
domingo, quando as ruas das principais cidades do país serão tomadas por
manifestações contra o governo e contra o ex-presidente Lula, alvo de
investigação na Operação Lava Jato, sindicalistas recorreram nesta
quinta-feira ao Conselho Nacional de Justiça (CNJ) com pedido de
reclamação disciplinar contra o juiz Sergio Moro, responsável pelos
processos do petrolão em Curitiba. A medida foi patrocinada pelo
Sindicato dos Advogados do Estado de São Paulo a mando do compadre de
Lula, Roberto Teixeira. Nesta quarta, um outro pedido de providências
contra Moro já havia sido autuado.
Os
processos apresentados no CNJ são uma tentativa de intimidação contra o
juiz que conduz com mãos de ferro os processos sobre o maior escândalo
de corrupção já descoberto no país e que já condenou grandes empresários
e empreiteiros, antes considerados intocáveis pela Justiça brasileira.
Também foi a partir de uma decisão de Moro que o ex-presidente Lula foi
conduzido coercitivamente na última sexta-feira para prestar
esclarecimentos sobre suspeitas de ter recebido vantagens indevidas de
empresários e empreiteiras enrolados na Operação Lava Jato.
A
reclamação disciplinar contra Sergio Moro apresentada pelo Sindicato
dos Advogados do Estado de São Paulo tem como pretexto a tese de que o
juiz teria insinuado que o compadre do ex-presidente Lula, Roberto
Teixeira, fraudou a escritura do Sítio Santa Bárbara, imóvel reformado
pelas empreiteiras OAS e Odebrecht e pelo pecuarista José Carlos Bumlai
para o petista e sua família. O sítio em Atibaia foi oficialmente
adquirido em outubro de 2010 por Jonas Suassuna e Fernando Bittar, mas
as investigações da Operação Lava Jato apontam que o imóvel pertence, na
realidade, ao ex-presidente Lula.
Em
um dos despachos da 24ª fase da Operação Lava Jato, que tem o petista
como alvo, o juiz Sergio Moro relata que Fabio Luis Lula da Silva, filho
do ex-presidente conhecido como Lulinha, é sócio de Suassuna na empresa
BR4 Participações Ltda e de Fernando Bittar G4 Entretenimento e
Tecnologia Digital Ltda. Moro destacou ainda que "o advogado Roberto
Teixeira, pessoa notoriamente próxima a Luiz Inácio Lula da Silva,
representou Jonas e Fernando na aquisição, inclusive minutando as
escrituras [do sítio] e recolhendo as assinaturas no escritório de
advocacia dele".
Uma das
mensagens em poder do Ministério Público sugere a utilização de Jonas e
Fernando como pessoas interpostas para esconder o real proprietário do
sítio. A mensagem enviada em 28 de outubro de 2010 por Roberto Teixeira
diz: "Conforme solicitado, segue minuta das escrituras de ambas as
áreas. Falei ontem com o Adalton e a área maior está sendo posta em nome
do sócio do Fernando Bittar. Qualquer dúvida, favor retornar".
Na
avaliação do MP, "o fato de o advogado Roberto Teixeira ter participado
da aquisição do sítio, tendo sido inclusive lavrado as escrituras das
compras em seu escritório, somado à circunstância de Roberto Teixeira
ser bastante próximo de Lula e de sua família, e não de Jonas Suassuna e
Fernando Bittar, formais adquirentes do sítio, é mais um sinal de que
esses 'amigos da família' serviram apenas para ocultar o fato de que foi
em favor de Lula que o sítio foi adquirido".
Em
nota, a Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB) disse que "o CNJ
não pode ser encarado como uma instância recursal ou como caminho para
cercear a autonomia da magistratura". "Tal medida evidencia mais uma
forma de intimidação dos juízes em suas atividades estritamente
jurisdicionais e indica possível tentativa de impedimento à atuação do
juiz que está à frente das investigações da Lava Jato".
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