Investigado pela Operação Lava Jato por suspeita de
recebimento de propina no esquema da Petrobras, o advogado Tiago Cedraz é
um dos setes advogados que aparecem como responsáveis pelo texto do
mandado de segurança impetrado no Supremo Tribunal Federal (STF) por
partidos que apoiaram o impeachment de Dilma Rousseff no Congresso
(PSDB, DEM, PMDB e Solidariedade).
O advogado afirmou à
reportagem, por meio de sua assessoria, que apenas encaminhou uma
procuração ao PSDB, 'responsável pela coordenação' do documento e negou
ter participado da produção do mandado. Após ter sido procurada pela
reportagem, a assessoria cogitou 'retirar o nome do advogado' dos autos.
Os
partidos pedem que o STF suspenda a habilitação de Dilma para o
exercício de função pública, direito que havia sido concedido pelo
plenário no Senado em votação nesta quarta-feira (31) na mesma sessão do
julgamento do impeachment que decidiu pela perda do mandato da então
presidente afastada.
O texto do mandado de 17 páginas em que Tiago
Cedraz consta como subscritor foi distribuído à imprensa pela
assessoria de imprensa do PSDB na tarde desta sexta-feira (2). Em site
do partido Solidariedade na internet, Tiago aparece como 'secretário de
Assunto de Jurídico'. Ele também foi defensor, no STF, do deputado
federal Paulo Pereira da Silva, o Paulinho da Força (SD-SP), principal
nome do Solidariedade.
Tiago é filho do ministro do TCU (Tribunal
de Contas da União) Aroldo Cedraz. O advogado foi acusado em delação
premiada do empreiteiro Ricardo Pessoa, da UTC Engenharia, em
desdobramento da Operação Lava Jato como parte de acordo de colaboração
fechado com a PGR (Procuradoria-Geral da República).
O delator
disse que fazia pagamentos a Tiago 'em razão de o mesmo apresentar ao
declarante informações privilegiadas, por antecipadas, notadamente
registros da área técnica do TCU', o Tribunal de Contas da União.
Além
do depoimento, Pessoa entregou à PGR uma tabela que aponta pagamentos
totais de R$ 2,2 milhões a Tiago, parte dos quais teria sido entregue em
espécie. A tabela registra repasses de R$ 50 mil entre 2012 e 2014 e
uma parcela de R$ 1 milhão em fevereiro de 2014.
Os valores
aparecem ao lado da inscrição 'Thiago/Luciano'. De acordo com o
depoimento do delator, Luciano é uma referência ao primo de Tiago,
Luciano Araújo, que ocupava o cargo de tesoureiro do partido
Solidariedade, comandado pelo deputado federal Paulo Pereira da Silva
(SD), o Paulinho da Força.
Pessoa também forneceu uma relação de
registros de 51 entradas de Tiago em prédios da empresa entre 2012 e
2014 e outras 80 de Luciano entre 2013 e 2014.Tiago Cedraz é investigado
no inquérito que tramita no STF tendo como outros investigados os
senadores Edison Lobão (PMDB-MA), o presidente do Senado, Renan
Calheiros (PMDB-AL), o senador Romero Jucá (PMDB-RR) e o ministro do TCU
Raimundo Carreiro.
O inquérito apura supostas irregularidades na
licitação da usina nuclear de Angra 3 e também se Carreiro foi o
destinatário de recursos captados por Tiago do empreiteiro Ricardo
Pessoa.
Em depoimento, Pessoa disse que Tiago havia lhe afirmado
'que tinha contato com Raimundo Carreiro e por meio dele iria resolver o
julgamento acerca das impropriedades ditas como existentes no contrato
de Angra 3'. Carreiro, na época, era relator de um processo que
tramitava no TCU sobre irregularidades na usina nuclear.
Em diversas manifestações ao longo dos meses, tanto Tiago Cedraz quanto Raimundo Carreiro negaram quaisquer irregularidades.
EDUARDO CUNHA
Além
de Tiago, também subscreve como parte do mandado de segurança dos
partidos contra a habilitação de Dilma o advogado Renato Oliveira Ramos,
profissional de confiança do ex-presidente da Câmara, Eduardo Cunha
(PMDB-RJ). Ramos atuou em defesa do parlamentar em vários processos de
interesse particular do parlamentar.
Como integrante do escritório
de advocacia que atende ao PMDB, Ramos ocupou um cargo na presidência
da Câmara em dezembro passado. Desde então, assinou as principais ações
movidas por Cunha no STF a propósito do processo de impeachment na
Câmara, como o recurso pelo qual Cunha fez questionamentos acerca do
rito processual definido pelos ministros do Supremo.
Em abril
passado, a Folha de S.Paulo revelou que Ramos também atuou ao lado com o
relator do impeachment, o deputado federal Jovair Arantes (PTB-GO).
Ramos
sentou-se ao lado de Jovair Arantes durante a leitura do relatório
final sobre o pedido que apoiou o impeachment de Dilma. Em diversos
momentos da sessão, Arantes consultou Ramos sobre supostas dúvidas no
texto. Com informações da Folhapress.
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