BRASÍLIA E SÃO PAULO - O Senado Federal aprovou às 13h35 desta
quarta-feira, 31, por 61 votos a 20 o afastamento definitivo da
presidente Dilma Rousseff (PT). Quase dois anos após ser reeleita com
54,5 milhões de voto, ela se tornou o segundo presidente da República da
história do Brasil a sofrer impeachment. Com a destituição, Michel
Temer (PMDB) assumirá o comando do País. Ele já estava como presidente
em exercício desde 12 de maio, quando o Senado tinha aprovado o
afastamento temporário da petista.
O Senado Federal rejeitou,
porém, por 42 votos a 36, a inabilitação da presidente cassada
Dilma para exercer cargos públicos por oito anos. Dessa forma, mesmo
tendo sofrido impeachment, a petista poderá exercer cargos públicos,
como de ministra e secretária estadual. Dilma também não está
inelegível, ou seja, poderá concorrer as eleições novamente, caso
deseje.
A votação em separado ocorreu porque senadores aliados da
presidente cassada apresentaram destaque no plenário, antes do início da
votação, pedindo para que o impeachment e a inabilitação para funções
públicas fossem analisadas em duas etapas diferentes.
A situação
de Dilma será diferente da do ex-presidente da República e atual senador
Fernando Collor de Melo (PTC-AL), que sofreu impeachment em 1992. Na
época, o alagoano chegou a renunciar ao mandato, para tentar salvar sua
habilitação política, mas o Senado ignorou e aprovou tanto a cassação do
mandato como a inelegibilidade e inabilitação política dele por até
oito anos.
Michel Temer tomará posse como presidente efetivo em
sessão do Congresso Nacional marcada para a tarde desta quarta-feira,
31. Logo em seguida, viajará para a China, onde participará da reunião
do G-20. Para isso, terá antes de passar o exercício da presidência da
República ao presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ),
que se tornou o primeiro na linha de sucessão, seguido pelos presidentes
do Senado e do Supremo Tribunal Federal (STF).
Sessão. A sessão
começou às 11h16, com 16 minutos de atraso. Na abertura, o presidente do
Supremo Tribunal Federal (STF), Ricardo Lewandoski, que comandou toda a
fase final do julgamento, leu um resumo do processo com a argumentação
da acusação e da defesa de Dilma. Em seguida, um requerimento de
destaque foi apresentado pelo PT por meio do senador Humberto Costa
(PT-PE) para fatiar a votação. O partido queria que a cassação e a
inegibilidade política de Dilma fossem tratadas separadamente. A
apreciação do destaque foi acatada por Lewandowski, apesar de
contestações de Ronaldo Caiado (DEM-GO) e Cássio Cunha Lima (PSDB-PB).
O
presidente do STF discorreu sobre as normas do Senado que tratam do
assunto, lembrou situações parecidas no Supremo, disse que não poderia
se pronunciar por não estar ali como juiz e deixou que o plenário
decidisse "soberanamente".
Depois, então, chegou o momento da
votação final da perda do mandato de Dilma, por meio eletrônico. Cada
parlamentar votou usando os computadores nas mesas do plenário e o
resultado foi anunciado no painel.
Processo. O pedido de
impeachment de Dilma foi apresentado pelos juristas Hélio Bicudo, Miguel
Reale Júnior e Janaína Paschoal em outubro do ano passado. Eles pediram
a saída de Dilma, sob a acusação de que ela cometeu crime de
responsabilidade ao editar três decretos de crédito suplementar sem
autorização do Congresso Nacional e atrasar o repasse de recursos do
Tesouro a bancos públicos para pagamento de programas sociais, o que
ficou conhecido como “pedaladas fiscais”.
O pedido foi aceito em 2
de dezembro pelo deputado afastado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), então
presidente da Câmara. Ele deflagrou o impeachment no mesmo dia em que a
bancada do PT, partido de Dilma, se recusou a votar contra a abertura de
seu processo de cassação por quebra de decoro parlamentar no Conselho
de Ética da Câmara. Após ser debatido e aprovado em comissão especial,
os deputados aprovaram o prosseguimento do processo no plenário da Casa
em 17 de abril deste ano.
Da Câmara, o pedido seguiu para o
Senado, onde também foi formada comissão especial. Antes de aprovar a
saída definitiva de Dilma, os senadores já tinham feito duas votações
sobre o impeachment. A primeira foi em 12 de maio, quando decidiram pelo
afastamento por até 90 dias da petista. A segunda, em 9 de agosto,
quando votaram a chamada “pronúncia” do impedimento da petista, ou seja,
quando decidiram que ela iria a julgamento pelo plenário da Casa.
O
julgamento final do impeachment no Senado começou na última
quinta-feira, 25 de agosto. Na primeira etapa, que durou até sábado, 27,
foram ouvidas as testemunhas de defesa e de acusação. A segunda fase
aconteceu na segunda-feira, 29, quando Dilma foi pessoalmente ao Senado
prestar depoimento. Nessa terça-feira, 30, defesa e acusação fizeram
suas considerações finais e foram seguidos dos discursos dos senadores
sobre a denúncia contra a presidente.
Durante o julgamento, a
acusação disse que Dilma cometeu crime de responsabilidade, pois feriu a
meta fiscal ao autorizar a abertura de decretos liberando gastos no
Orçamento, de créditos suplementares. Em sua defesa, Dilma negou que
tivesse cometido crime de responsabilidade com esses atos. Sustentou que
estava sendo alvo de um “golpe parlamentar”. Seus opositores, porém,
rechaçaram a tese, afirmando que o processo seguiu o trâmite
estabelecido pelo Supremo.
Dos 63 parlamentares que se
pronunciaram nas 12 horas de sessão da terça-feira, 43 apoiaram a saída
permanente de Dilma. Apenas 18 defenderam a petista. Para o impeachment
se confirmar eram precisos no mínimo 54 votos a favor do processo do
total de 81 senadores, ou dois terços (66,66%).
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