Divididos em relação às declarações da presidenta afastada Dilma
Rousseff, depois de um intervalo de uma hora para almoço, senadores
favoráveis e contrários ao impeachment retomaram a sessão de
julgamento do processo contra a Dilma com a manifestação do tucano Aécio
Neves (MG), um dos maiores opositores de Dilma.
Ao tentar
desqualificar a presidenta desde a campanha, o senador mineiro resgatou
falas usadas por Dilma Rousseff desde a disputa eleitoral e criticou o
argumento usado pela defesa de que o processo é um golpe e a petista foi
eleita legitimamente em 2014 com 54 milhões de votos.
“Vossa
Excelência recorre aos votos que recebeu como justificativa. Não é
salvo-conduto. É delegação que pressupõe deveres e direitos. O maior dos
deveres de quem recebe votos é o respeito a leis e à Constituição",
provocou o tucano.
Aécio lembrou que, em setembro de 2014, em um
debate televisivo, Dilma disse que a inflação estava próximo de zero,
mas sempre tinham os pessimistas de plantão. “Não foi o que 2015
mostrou”, afirmou.
Em tom duro, o tucano criticou Dilma por
“apontar” o PSDB e “esquecer” que são as contas de sua campanha que
estão sendo investigadas pela Justiça. Segundo ele, a perda de uma
eleição não desonra uma legenda, enquanto causa desonra vencer “as
eleições faltando com a verdade”.
Em resposta às declarações de
Aécio Neves, Dilma lembrou que, após sua reeleição, uma série de medidas
para desestabilizar seu governo foram adotadas. Como exemplo, citou o
pedido do PSDB ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para que houvesse
auditoria nas urnas eletrônicas e nas contas da campanha petista.
Questionada
sobre a situação da economia do país, com a inflação que ultrapassou os
10%, a presidente afastada atribuiu a crise à queda no preço das commodities – como petróleo e minério de ferro – que impactaram na queda de arrecadação.
Ela
também destacou o cenário internacional afetado, pouco depois de sua
reeleição, pela decisão norte-americana de abandonar a politica de
expansão fiscal, levando à elevação dos juros americanos e do valor das
moedas. “Não foi só o real. Todas as moedas foram atingidas”, afirmou.
Além
de Aécio, outros 38 senadores se inscreveram para fazer perguntas. Cada
parlamentar tem cinco minutos para se manifestar e Dilma não tem limite
de tempo para as respostas. Até o intervalo, dez senadores haviam usado
a palavra, sendo duas manifestações de apoio vindas de parlamentares do
mesmo partido de Temer. O primeiro apoio veio da senadora Kátia Abreu
(TO), que foi ministra da Agricultura no governo Dilma, e o segundo de
Roberto Requião (PR).
Na primeira parte da sessão (das 9h40 às
13h), a petista respondeu perguntas de dez senadores. Dilma não trouxe
novidades e, em quase todas as respostas, reforçou os argumentos de que é
vítima de um “golpe parlamentar”, rechaçando a tese da acusação de que
ela cometeu crime de responsabilidade fiscal.
"Se me julgarem sem
crime de responsabilidade, senador, é golpe. Um golpe integral", afirmou
Dilma em resposta ao senador tucano Aloysio Nunes (SP).
Sobre o
fato de não ter recorrido ao STF (Supremo Tribunal Federal) até o
momento, ela disse que não o fez porque ainda não esgotou a participação
no Senado. "Eu não recorri porque respeito essa instituição. Eu disse
na minha fala que respeito meus julgadores porque chegaram aqui com os
mesmos votos que me elegeram nas urnas."
Regime de exceção
Ainda
segundo a presidenta afastada, quando qualquer sistema político aceita
condenar um inocente é criado um nível de exceção com consequências
políticas.
"Não estou aqui dizendo que hoje está tendo um golpe de
Estado. Estou dizendo 'me condenem que este golpe será irreversível'. E
aí uma das maiores instituições do país, o Senado da República, terá
cometido um crime contra uma pessoa inocente”, concluiu.
Nenhum comentário:
Postar um comentário