Após três meses e 19 dias ocupando o cargo de presidente interino,
Michel Temer assume hoje (31) em definitivo o posto mais alto da
República. Com a conclusão do julgamento do processo do impeachment que
tirou do cargo Dilma Rousseff, Temer tem pela frente mais dois anos e
quatro meses de mandato como comandante do Executivo federal.
Durante
o período em que ficou na interinidade, Temer afirmou que sua
prioridade é a melhoria da economia brasileira e eficiência da máquina
pública. Para tanto enviou ao Congresso Nacional uma Proposta de Emenda
Constitucional que limita os gastos públicos. “É urgente fazermos um
governo de salvação nacional”, disse no discurso, ao assumir a
Presidência da República como interino.
Por duas vezes vice da
chapa PT-PMDB para a Presidência, Temer é paulista de Tietê e começou a
carreira na política na década de 60. Michel Miguel Elias Temer Lulia
nasceu em Tietê (SP) no dia 23 de setembro de 1940 e é o caçula de oito
irmãos.
Trajetória política
Foi como
oficial de gabinete de Ataliba Nogueira, secretário de Educação do
governo de São Paulo, em 1964, que Michel Temer iniciou a carreira
política. Sua filiação partidária ocorreu décadas depois, em 1981, ao
assinar a ficha do PMDB, partido do qual nunca se afastou. Em 1983, foi
nomeado procurador-geral do Estado de São Paulo no governo do
correligionário Franco Montoro. No ano seguinte, assumiu a Secretaria de
Segurança Pública de São Paulo, cargo que também ocupou no início dos
anos 90.
Sua atuação como secretário de Segurança foi marcada por
ações inovadoras. Temer criou os conselhos comunitários de Segurança
(Conensegs) e, após receber uma comissão que denunciava o espancamento
de mulheres e o descaso de autoridades com os crimes, instituiu a
primeira Delegacia da Mulher no Brasil. Também criou a Delegacia de
Proteção aos Direitos Autorais, instrumento de combate à pirataria, e a
Delegacia de Apuração de Crimes Raciais.
Em 1986, foi candidato a
deputado federal pelo PMDB de São Paulo, mas, com os 43.747 votos
obtidos, ficou como suplente. Em 16 de março de 1987, assumiu o primeiro
mandato na Câmara, com a licença do deputado Tidei de Lima, e se tornou
constituinte. Na segunda eleição, em 1990, Michel Temer também ficou
como suplente, registrando 32. 024 votos.
Em 1992, no governo de
Luiz Antônio Fleury em São Paulo, voltou à Secretaria de Segurança seis
dias após o Massacre do Carandiru. Naquela ocasião, uma intervenção da
Polícia Militar no Pavilhão 9 da Casa de Detenção, para conter uma
rebelião, provocou a morte de 111 detentos.
Presidente interino
Vice-presidente
de Dilma desde o primeiro mandato, Temer foi responsável pela
articulação política do governo, com a saída de Pepe Vargas da
Secretaria de Relações Institucionais, no início de abril de 2015.
Apesar de fazer parte do governo, nos últimos meses, viveu uma relação
conturbada com Dilma. Em agosto, anunciou a saída da coordenação
política.
Em dezembro, Temer escreveu uma carta em que se dizia
“vice decorativo” e que não era ouvido pela então presidenta. À época,
Dilma disse não ver motivos para desconfiar “um milímetro” de Michel
Temer. Ela destacou ainda que não só confia como sempre confiou nele e
que o vice-presidente sempre teve um comportamento “bastante correto”.
Em
março deste ano, o PMDB decidiu deixar a base do governo para apoiar o
processo de impeachment que tramitava na Câmara dos Deputados.
Já
em abril, na mesma semana da votação no plenário da Câmara da
admissibilidade do processo de impeachment de Dilma, Temer enviou uma
mensagem de voz a parlamentares do PMDB em que falava como se estivesse
prestes a assumir o governo após o afastamento de Dilma. O áudio, de
cerca de 14 minutos, dá a impressão de ser um comunicado dele ao “povo
brasileiro” sobre como pretende conduzir o país, de forma transitória ou
não. Depois das primeiras repercussões da mensagem nas redes sociais, a
assessoria de Temer informou que o áudio foi enviado por engano a um
grupo de deputados do partido.
No dia seguinte, Dilma disse que
havia um golpe em curso contra o seu governo e, sem citar nomes, fala em
"chefe e vice-chefe do golpe", referindo-se a Michel Temer e Eduardo
Cunha (PMDB-RJ), até então presidente da Câmara dos Deputados.
Influência política
Temer
exerceu seis mandatos como deputado federal. No pleito de 2006, com
99.046 votos, foi eleito com o menor número de votos entre os três
parlamentares do PMDB que conquistaram vaga na Câmara. Antonio Bulhões
obteve 109.978 votos e Francisco Rossi de Almeida, 106.272.
Em
2009, foi apontado pelo Departamento Intersindical de Assessoria
Parlamentar (Diap) como parlamentar mais influente do Congresso
Nacional. “Michel Temer é um político experiente, de boa formação,
habilidoso na articulação com os agentes públicos de modo geral e com os
demais poderes quando exerce a função de chefe de poder. É um
parlamentar que conhece a real importância do diálogo, da negociação e
isso pode ser um diferencial neste período à frente da Presidência da
República”, disse Antônio Augusto, jornalista e analista político do
Diap.
Temer foi eleito três vezes para a presidência da Câmara
(1997, 1999 e 2009). Na condição de presidente da Casa, assumiu a
Presidência da República interinamente por duas vezes: de 27 a 31 de
janeiro de 1998 e em 15 de junho de 1999 (governo do ex-presidente
Fernando Henrique Cardoso).
No PMDB, foi presidente do Diretório
Nacional de 2001 ao fim de 2010. No ano seguinte, licenciou-se do posto
ao assumir a Vice-Presidência da República. Em 2013, ele voltou ao
posto, eleito por unanimidade. Após a saída do PMDB do governo em março,
em meio às discussões do impeachment da presidenta Dilma Rousseff,
Temer licenciou-se da presidência da legenda e deu lugar ao senador
Romero Jucá (PMDB-RO).
Aliança
PT-PMDB A
aliança entre o PMDB e o PT começou no primeiro mandato do ex-presidente
Luiz Inácio Lula da Silva, há 13 anos. Em votação simbólica, no dia 13
de junho de 2010, os petistas aprovaram, durante a convenção nacional do
PT, em Brasília, a formalização da candidatura de Dilma Rousseff à
Presidência da República e a indicação do deputado Michel Temer para
vice na chapa.
Em julho de 2011, em meio à última reunião da base
aliada no primeiro semestre, houve até um bolo com os bonecos de Dilma
Rousseff e de Michel Temer no topo. Na época, petistas como Ricardo
Berzoini e peemedebistas como Henrique Eduardo Alves e Marcelo Castro,
todos ministros do governo Dilma, repartiram o bolo para celebrar o
“casamento” entre as legendas.
Formação
Formado
em direito pela Universidade de São Paulo (1963), Temer é doutor em
direito pela Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo. O
presidente interino também atuou como professor de direito em 1968. Sua
carreira acadêmica estendeu-se até 1984.
Temer é autor dos livros
Constituição e Política, Territórios Federais nas Constituições
Brasileiras e Seus Direitos na Constituinte e Elementos do Direito
Constitucional, esse último na 24ª edição, com mais de 200 mil
exemplares vendidos.
Intimidade
A
intimidade do presidente sempre foi preservada. Apesar do reconhecido
traquejo político, Michel Temer manteve-se discretamente nos bastidores
do poder.
Com a publicação de seu livro de poemas Anônima
Intimidade, em 2013, deixou de lado o perfil reservado de político e
expôs traços de sua natureza íntima. Na ocasião, contou que a obra foi
escrita durante viagens entre a residência pessoal e reduto eleitoral,
em São Paulo, e a capital federal. Temer afirmou que os versos eram
"imortalizados em guardanapos".
Michel Temer é casado há 13 anos
com Marcela Temer, com quem tem o filho Michel. Também foi casado com
Neusa Popinigis (sem filhos) e com Maria de Toledo, com quem teve três
filhas: Clarissa, Luciana e Maristela.
Também filiada ao PMDB,
Luciana Temer é secretária municipal de Assistência e Desenvolvimento
Social de São Paulo, na gestão do prefeito Fernando Haddad, candidato à
reeleição pelo PT.
Nenhum comentário:
Postar um comentário