O ex-ministro da Justiça e advogado de Dilma Rousseff no processo de
impeachment, José Eduardo Cardozo, disse à BBC Brasil que vai recorrer
ao Supremo Tribunal Federal da decisão do Senado de afastar a presidente
definitivamente do cargo.
Logo depois do discurso final de Dilma Rouseff no Palácio do Alvorada, ele afirmou que a reação na Justiça terá duas frentes.
"Temos
duas ações que vamos entrar: uma nesta noite ou amanhã de manhã
questionando alguns aspectos como a mudança do libelo, o senador (do
PSDB Antonio) Anastasia ampliou as acusações para poder justificar
retoricamente o golpe. Também vamos discutir que há dispositivos na lei
que disciplina o processo de impeachment que não foram atendidos."
Ele
disse ainda que "dentro de dois ou quatro dias, vamos entrar com outro
mandado de segurança que vamos discutir a falta da justa causa do
processo, ou seja, que não há motivo".
Cardozo também rebateu as críticas de que o processo agora não poderia mais ser revertido.
"Eu
sei que alguns juízes acham que o processo de impeachment é
irreversível, que o judiciário não pode intervir, mas nós vamos
demonstrar a eles que essa é uma posição a nosso ver já superada porque
ninguém vai discutir o mérito político, mas a falta de pressupostos
jurídicos. Até porque senão, amanhã ou depois, se isso não for
discutido, os próprios ministros do STF ou o Procurador Geral da
República podem ser afastados, sem nenhuma garantia de um processo que
seja totalmente anômalo."
Para José Eduardo Cardozo, essa nova
ação pode ter um desfecho diferente das outras já rejeitadas até agora
no Supremo por causa do "sentimento de justiça e da ideia de que nunca
devemos jogar toalha antes da hora".
Oposição
Logo depois
do discurso de Dilma Rousseff, a BBC Brasil também conversou com
senadores da bancada petista que definiram a nova posição que deverão
tomar agora como oposição no Congresso.
Para o senador Lindbergh
Faria (PT-RJ), "a oposição será duríssima porque não reconhecemos a
legitimidade de Temer, e vamos nos aliar a movimentos populares e
sociais para não aprovar medidas como a reforma trabalhista e a PEC
241".
A senadora Jandira Feghalli reforçou essa posição, e disse
que o PT fará "um muro de resistência dentro da Câmara e dentro do
Senado".
Discurso final
Minutos antes, a presidente Dilma Rousseff
afirmou em pronunciamento que a decisão do Senado é "uma fraude, contra a
qual ainda vamos recorrer em todas as instâncias possíveis".
A
ex-presidente disse ainda que "os senadores que votaram pelo impeachment
escolheram rasgar a Constituição Federal" e afirmou que a votação
consumou "um golpe parlamentar", que, em seguida, chamou de "golpe de
Estado".
O discurso de Dilma após o resultado o julgamento do
impeachment foi mais duro com seus opositores do que o discurso de
defesa que fez no Senado na última segunda-feira.
"Com a aprovação
do meu afastamento definitivo, políticos que buscam desesperadamente
escapar do braço da Justiça tomarão o poder unidos aos derrotados nas
últimas quatro eleições", afirmou.
"Causa espanto que a maior ação
contra a corrupção da nossa história (...) leve justamente ao poder um
grupo de corruptos investigados."
Ela também prometeu reunir a
militância em oposição ao governo de Michel Temer: "Haverá contra eles a
mais firme, incansável e enérgica oposição que um governo golpista pode
sofrer".
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