BRASÍLIA - A separação das votações pelo Senado, que levou ao
impeachment de Dilma Rousseff mas a manteve habilitada para cargos
públicos foi considerada "esdrúxula" pelo presidente Michel Temer, recém
empossado. Ao acompanhar a sessão no Palácio do Jaburu, o peemedebista
foi surpreendido pela decisão. Auxiliares presidenciais disseram que
ficou claro que houve um "acordão" entre os presidentes do Senado, Renan
Calheiros (PMDB-AL), e do STF, Ricardo Lewandowski, e o ex-presidente
Lula.
Apesar da indignação e surpresa do govenro, após a primeira
reação indignada com a separação das duas votações, o Planalto ponderou
que, neste momento, é melhor relevar o fato de Dilma não ter ficado
inabilitada para evitar maiores judicializações na decisão do
impeachment.
Michel Temer afirmou a seus auxiliares que será
"solidário" ao PSDB e ao DEM, seja qual for a decisão que eles tomarem a
respeito do tema. Mas, interlocutores do agora presidente efetivo
conversaram com lideranças desses dois partidos para convencê-los de que
não é momento de trazer mais questionamentos ao Supremo Tribunal
Federal (STF).
Assim, pouco depois do anúncio de que haveria
recurso à Corte, os aliados do governo recuaram. Querem deixar para
provocar o Supremo sobre o tema somente na eventualidade de Dilma
Rousseff tentar se candidatar nos próximos anos.
— Acredito que
Dilma não vai querer sair candidato ao Senado em 2018. Mas, se ela vier,
entramos na Justiça e impugnamos a candidatura. Não precisamos mexer
com isto agora. Esta discussão só deve ocorrer em caso de necessidade —
afirma um interlocutor do Planalto.
A separação das votações
gerou polêmica no plenário. O PMDB ficou dividido sobre o tema. Para
alguns senadores da base aliada ao governo Temer, a decisão foi
extemporânea e deverá ser questionada. Mas, para alguns peemedebistas, o
assunto deve ser superado. O próprio líder do partido, Eunicio Oliveira
(PMDB-CE), decidiu se abster nesta segunda votação.
— Foi um prêmio de consolação para Dilma. Eu me abstive, acompanhando meu líder — disse o senador Valdir Raupp (PMDB-RO).
O
discurso do consolo a Dilma não foi engolido pelo Planalto. Segundo
auxiliares, Temer ficou muito incomodado com a posição de Eunício, que
se asbteve em vez de votar contra a habilitação de Dilma e, também, com o
voto de Rose de Freitas (PMDB-ES). A senadora é líder do governo no
Congresso e votou a favor de garantir a Dilma a habilitaçãoa para cargos
públicos.
O ponto que incomoda o Planalto é o precedente que a
decisão abriu para, a partir de agora, quem tiver seu mandato cassado
possa se beneficiar desta medida. O primeiro caso poderá ocorrer daqui a
duas semanas, quando o presidente afastado da Câmara, Eduardo Cunha
(PMDB-RJ), for submetido ao julgamento de cassação.
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