Bernardo Cerveró, filho do ex-diretor da área Internacional da
Petrobrás Nestor Cerveró, afirmou em depoimento à Procuradoria-Geral da
República que o advogado Edson Ribeiro, que atuava para sua família, lhe
entregou R$ 50 mil em espécie durante uma reunião entre os dois.
Segundo o filho de Cerveró, o criminalista disse que o dinheiro foi
enviado pelo senador Delcídio Amaral (PT/MS), ex-líder do Governo. O
parlamentar foi preso na quarta-feira, 25, por tentar barrar as
investigações da Operação Lava Jato.
A base da custódia do senador
é uma conversa gravada por Bernardo Cerveró. Em 4 de novembro, o filho
do ex-diretor da Petrobrás gravou uma conversa de 1h35 na qual Delcídio
Amaral tentava atrapalhar uma possível delação premiada do executivo,
preso desde janeiro. O senador ofereceu R$ 50 mil mensais para comprar o
silêncio de Nestor Cerveró. Em 18 de novembro, o ex-diretor da estatal
petrolífera fechou sua delação premiada com a Procuradoria-Geral da
República.
Em depoimento aos procuradores da força-tarefa da Lava
Jato, Bernardo Cerveró narrou a atuação do senador Delcídio Amaral e do
então advogado da família, Edson Ribeiro – também preso por atrapalhar
as apurações. Segundo o filho de Nestor Cerveró, um dos encontros entre
ele e Edson Ribeiro ocorreu no escritório do advogado Nelio Machado. O
filho do ex-diretor da Petrobrás afirmou que o criminalista Nelio
Machado, advogado do lobista Fernando Baiano durante parte da Lava Jato,
não participou da reunião.
Ao Ministério Público Federal, Bernardo Cerveró contou
que Edson Ribeiro ‘sempre seguia prometendo um habeas corpus’ para o
pai, preso desde janeiro deste ano. Em determinado momento, contou o
filho do ex-diretor da estatal, ele procurou o irmão de Fernando Baiano,
‘porque o Nestor Cerveró e Edson Ribeiro diziam que quem tinha provas
era Fernando Baiano, já que ele é que cuidava das contas bancárias’.
“Procurou
Gustavo para tentar compor colaboração premiada simultânea de Nestor
Cerveró e de Fernando Baiano; que Nestor Cerveró e Fernando Baiano eram
amigos”, relatou.
“Naquela altura o depoente participou de algumas
reuniões, inclusive com a presença do advogado Nélio Machado em seu
escritório; que Nélio Machado também era reticente em fazer colaboração
premiada; que em uma dessas reuniões em uma sala do escritório do
advogado Nélio Machado, presentes apenas Edson Ribeiro e o depoente,
Edson Ribeiro entregou cinquenta mil reais em espécie para o depoente,
dizendo que foram enviados pelo Senador Delcídio Amaral; que o depoente
ficou incomodado, pois o que ele queria não era auxílio financeiro,
menos ainda espúrio, e sim a liberdade de seu pai.”
Nestor Cerveró
e Fernando Baiano já foram condenados em processos na Lava Jato por
corrupção e lavagem de dinheiro. Em uma das ações, o juiz federal Sérgio
Moro, que conduz as ações da Lava Jato na primeira instância, impôs 12
anos e 3 meses de prisão para ex-diretor da Petrobrás. O lobista pegou
16 anos. Em sua primeira condenação, Nestor Cerveró foi condenado a 5
anos de prisão pelo crime de lavagem de dinheiro na compra de um
apartamento de luxo em Ipanema, no Rio.
O lobista deixou a cadeia, no Paraná, em 18 de novembro. Fernando Baiano ficou preso por 1 ano.
COM A PALAVRA, O CRIMINALISTA NÉLIO MACHADO
O
criminalista Nélio Machado, que defendeu Fernando Baiano – até quando o
lobista decidiu fazer delação premiada – , afirmou que desconhece ‘esse
pagamento (de R$ 50 mil ), a tratativa entre o advogado Edson Ribeiro e
o filho do ex-diretor da Petrobrás Nestor Cerveró, Bernardo, em seu
escritório. “Quando esse fato aconteceu eu não estive na sala onde eles
estavam. Minha posição sempre foi de repúdio à delação premiada. O
advogado Edson Ribeiro também se posicionou do mesmo modo durante os
processos da Lava Jato.”
Machado disse que ‘houve algumas reuniões
(no escritório dele)’. “O menino (Bernardo Cerveró) estava meio
desamparado, foi lá (no escritório) algumas vezes, provavelmente numa
dessas vezes foi realizado (o repasse de R$ 50 mil).”
“São muitas
salas no meu escritório, não sei quantas. Eu não presenciei isso, nunca
soube, nunca passou por mim, jamais passaria por mim. Eu jamais
participaria desse tipo de conversa. O Edson (Ribeiro) foi recebido por
mim e o Bernardo é possível que tenha estado junto. Mas desconheço por
completo essa tratativa. Reitero que desconheço qualquer tratativa de
honorários sobre conversas nesses termos que estão vindo à baila.”
Nélio
Machado confirmou que o advogado Sérgio Riera trabalhou em seu
escritório ‘durante muitos anos’. Aproximadamente, em 2011 Riera deixou a
sociedade, segundo Nélio Machado. “Eu respeito a atuação dele (Riera),
mas eu não trabalho com delação. Isso viola os meus princípios. Em
agosto perdemos um habeas corpus no Supremo Tribunal Federal. Depois
dessa derrota no STF, um irmão de Fernando Baiano, o Gustavo, resolveu
buscar apoio de um advogado que se dispusesse a fazer isso (delação). É
essa a história. Eu não acompanhei absolutamente nada, tenho absoluta
aversão à delação. Se o caminho da advocacia for esse (da delação) é o
fim.”
Nélio Machado afirmou que Riera não esteve em seu escritório, ’em nenhum momento’.
O
criminalista não soube precisar a data do encontro realizado em seu
escritório, no Rio. “Eu não sou capaz de precisar datas. Sei que nas
audiências (da Lava Jato, diante do juiz federal Sérgio Moro) o Edson
adotava uma postura idêntica à minha.”
Nélio Machado disse que
Edson Ribeiro esteve em seu escritório porque Gustavo, irmão de Fernando
Baiano, foi procurado pelo Bernardo Cerveró. “O Bernardo e o Gustavo
conviviam bastante.”
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