O cientista
político Thiago Aragão, da Arko Advice, dizia, semanas atrás, que o
Brasil havia chegado a um ponto onde a certeza do disparate supera a
expectativa da normalidade. Nesta quarta, o pedido de impeachment da presidenta Dilma Rousseff,
deflagrado pelo presidente Eduardo Cunha no mesmo dia em que o Conselho
de Ética mostrava rechaço a sua permanência no cargo pelas denúncias de
corrupção, parece ser mais um disparate da política brasileira.
Pergunta. Qual a chance do impeachment prosperar e a Dilma cair?
Resposta. A chance ainda está em aberto. Obviamente, a chance de ocorrer se aproxima, pois o primeiro passo foi dado.
O que definirá não é possíveis acordos e lealdades dentro da Câmara,
mas a pressão das ruas e da imprensa que levará os deputados a tomarem
suas decisões. Essas decisões virão das pressões populares e não das
alianças frágeis que foram mal formuladas por esse governo.
P. Ela tem margem de manobra?
R.
A margem de manobra do Governo sempre é oferecer uma maior participação
de alguns grupos na máquina estatal. O problema é quando existe 100% de
recursos para 300% de demandas. Um presidente com credibilidade
compensa a falta de recursos com carisma, com política. A Dilma não,
isso gera um rastro de insatisfação que diminui a margem de manobra
dela.
P. O que acontece com a política brasileira agora?
R.
A política brasileira se volta para um grande tópico em um momento em
que temos vários grandes assuntos para resolver. Muita agenda para
poucos líderes. A política fica enclausurada na agenda da crise, sem
conseguir avançar o básico e o necessário. O impeachment não deve ser
celebrado nem pela oposição. Se chegamos nesse ponto, significa uma fase
difícil para todos.
P. Em quanto tempo se define o impeachment?
R.
O impeachment levará meses. Provavelmente 6, 7 meses. Existem
procedimentos, como a comissão especial e a possibilidade de defesa da
Presidente, mas existirão debates políticos intensos que consumirão a
agenda. Não é um caminho simples. Ninguém ganhará e, se já perdemos um
ano afogados na ineficiência e em múltiplas crises, perderemos mais
outro.
P. O que acontece com projetos essenciais para a economia no Congresso?
R.
Os projetos essenciais na área da economia andarão. Afetados pelo clima
de impeachment mas andarão. Outros, importantes mas sem grande
repercussão, serão penalizados e esquecidos temporariamente. Vejo temas
de economia no primeiro nível. Há um consenso de sua importância. O
resto, infelizmente virará resto.
P. E Cunha? O que acontece com ele?
R.
Cunha durará menos tempo que o processo de impeachment. São coisas
separadas. Ele pode ter agido por vingança? Pode. Ele pode ter agido com
base na tecnicalidade? Pode também. Não importa. Cunha seguirá um
caminho paralelo onde as chances de sobreviver se reduzem. Ele não tem
mais margem para negociar com o Governo e já fez o que a oposição
queria.
P. Na linha sucessória, caso Dilma saia, é
o vice-presidente, Michel Temer, quem deve assumir. A Lava Jato pode
embaralhar esse processo de sucessão?
R. Sim, é
Temer. Não vejo a Lava Jato embaralhando. O caminho do TSE é um caminho
longo, cinza e improvável. Caso Dilma realmente se vá, Temer terminará o
governo.
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