Marco Polo del Nero e Ricardo Teixeira foram acusados nos EUA por corrupção e conspiração nesta quinta-feira, enquanto a Fifa abre investigações contra o presidente da CBF por violações ao código de ética e pode suspender o dirigente do futebol.
O Departamento de Justiça dos EUA apresentou nesta quinta-feira acusações por corrupção contra mais 16 integrantes da FIFA (veja o nome de todos no final da reportagem),
entre os quais o atual presidente e o ex-presidente da Confederação
Brasileira de Futebol, Marco Polo Del Nero e Ricardo Teixeira. Se
condenados, eles estão sujeitos a penas que podem chegar a 20 anos de
prisão.
"Del Nero, Marin e Teixeira conspiraram de forma
intencional para criar um esquema para fraudar a Fifa e a CBF", afirma o
documento de indiciamento do Departamernto de Justiça dos EUA. "Del
Nero recebeu propina para a Copa América e para a Copa do Brasil (torneio mata-mata). Ele (Del Nero)
ainda pediu, ao lado de Marin e Teixeira, propinas para a Taça
Libertadores da América." A Justiça americana indicou que os três
dirigentes compartilharam as propinas em diversos outros contratos e
"privaram a CBF e seus direitos". Segunda a procuradora-geral Loretta
Lynch, procuradora americana, uma das suspeitas se refere ao contrato da
CBF com a Nike. Teixeira teria recebido propinas para fechar o acordo.
"Todos os que tentarem fugir, eu aviso: vocês não vão escapar", disse.
Outras suspeitas apontadas pela Justiça se refere à escolha da Copa de
2010 na África do Sul e à eleição na Fifa, em 2011.
Com as novas
denúncias, o número de pessoas denunciadas no processo quase dobra, para
um total de 41. O caso teve início em maio, com apresentação das
acusações em uma corte do Brooklyn, em Nova York. Até agora, 12
indivíduos e duas empresas de marketing esportivo foram condenados e US$
100 milhões recuperados pelo governo dos EUA.
Com a acusação
confirmada, todos os três cartolas que comandaram a CBF nos últimos 30
anos estão sob suspeita ou serão julgados: José Maria Marin, Del Nero e
Teixeira. Questionado se Del Nero poderia continuar na presidência da
CBF, o chefe do Comitê de Auditoria da Fifa, Domenico Scala, apontou
para um situação insustentável. "Essa é uma questão muito pertinente",
disse.
No total, o Departamento de Justiça dos EUA indiciou um
grupo de 16 cartolas, a maioria deles da América Latina. Pela manhã, em
Zurique, dois vice-presidentes da Fifa, Alfredo Hawit e Juan Napout,
foram presos e aguardam extradição aos EUA. A Justiça, porém, também
confirma o que a reportagem do Estado havia revelado com exclusividade
em 15 de setembro: Del Nero estava sendo investigado pelo FBI.
Agora, ele é acusado formalmente por receber propinas em contratos comerciais envolvendo a CBF. O Estado apurou que o governo americano estava costurando um pedido de cooperação com o Brasil para que Del Nero fosse preso ou pelo menos ouvido pela Justiça.
Agora, ele é acusado formalmente por receber propinas em contratos comerciais envolvendo a CBF. O Estado apurou que o governo americano estava costurando um pedido de cooperação com o Brasil para que Del Nero fosse preso ou pelo menos ouvido pela Justiça.
Ricardo Teixeira, ex-presidente da CBF,
também foi indiciado por corrupção. Ele é suspeito de ter feito parte de
um esquema de corrupção em um contrato com a Nike, ainda nos anos 90.
Mas, conforme a reportagem do Estado
revelou com exclusividade, uma decisão de uma juiza no Rio de Janeiro
suspendeu todo o tipo de cooperação entre americanos e brasileiros
envolvendo o escândalo da Fifa. Com isso, o MP brasileiro fica impedido
de cumprir qualquer solicitação do FBI relacionado com o caso.
Nos
EUA, a apuração sobre Del Nero se debruçava sobre pagamentos feitos por
José Hawilla, dono da Traffic. A Justiça apontava como o empresário
brasileiro foi obrigado a compartilhar um contrato que tinha com a CBF
para os direitos da Copa do Brasil com a Klefer a partir de 2011. Para o
período entre 2015 e 2022, a Klefer pagaria à CBF R$ 128 milhões pelo
torneio, minando a posição privilegiada que Hawilla tinha desde 1989.
Para
evitar uma guerra comercial, Hawilla e a Klefer entraram em um
entendimento. Mas só neste momento é que a Klefer informou que havia
prometido o pagamento de uma propina anual a um cartola da CBF, cujo
nome não foi revelado.
Essa mesma propina teria de ser elevada a
partir de 2012 quando dois outros membros da CBF entrariam em cena. Um
deles é José Maria Marin, preso em Zurique e extradito aos Estados
Unidos. O outro, segundo os americanos, seria Del Nero.
Dois
documentos revelados ainda no dia 27 de maio pelo Departamento de
Justiça dos EUA confirmavam a suspeita. Del Nero negava que ele fosse a
pessoa indiretamente apontada nos informes.
Num deles, um
empresário "informa Hawilla que o pagamento de proprinas aumentou quando
outros dois executivos da CBF – especificiamente o Co-Conspirator #15 e
Co-Conspirator #16 - pediram propinas tambem".
O documento
explicava que o co-conspirador 15 era membro do alto escalão da CBF e
membro da Fifa e da Conmebol – a descrição apenas pode ser preenchida
por José Maria Marin. Naquele momento, ele era o presidente da CBF, era
membro da Fifa e da Conmebol.
Já o co-conspirador 16 seria membro
do alto escalão da Fifa e da CBF. Nesse caso, apenas Del Nero mantinha
um cargo na CBF (vice-presidente) e na Fifa (membro do Comitê
Executivo).
"Hawilla concordou em pagar metade do custo da
propina, que totalizava R$ 2 milhões por ano, para ser dividido entre
Co-Conspirator #13, Co-Conspirator #15, e Co-Conspirator #16" , indicou o
indiciamento do empresário.
O mesmo caso é contado no documento
que serve de base para o indiciamento de José Maria Marin e, neste caso,
o nome do ex-presidente da CBF é apresentado. No indiciamento, a
Justiça traz até mesmo um diálogo entre Marin e Hawilla, em que o
cartola insiste que o dinheiro precisa ir para ele também. A reunião
gravada ocorreu nos EUA em abril de 2014.
No documento de maio que
cita Marin, Del Nero não é citados nominalmente na acusação. Mas a
Justiça explica que um "co-conspirador 12" teria também recebido parte
da propina. Esse co-conspirador 12 seria um "alto funcionário da Fifa e
da CBF". Um avez mais, apenas Del Nero se enquadra nessa descrição.
CONTAS Para
chegar ao atual presidente da CBF, a Justiça americana tem examinado
depósitos e pagamentos feitos pela Traffic nos EUA, assim como pela
Klefer. Já na motivação para pedir a extradição de José Maria Marin, os
americanos apontaram dois depósitos como exemplos de como o sistema
financeiro americano estava sendo usado no esquema entre os cartolas da
CBF.
Uma das contas, porém, chama a atenção do FBI. Trata-se de
uma transferência da Klefer, avaliada em US$ 500 mil no dia 5 de
dezembro de 2013 a partir de uma conta no banco Itaú Unibanco de Nova
Iorque para o HSBC em Londres, em nome de uma empresa fabricante de
iates de luxo. O que a Justiça quer saber é quem teria sido o
beneficiado pela compra do iate ou pelo pagamento.
SUSPENSÃO Del
Nero ainda passou a sofrer um processo na Fifa, que abriu uma
investigação. Se punido, Marco Polo Del Nero poderá ser suspenso do
futebol e terá de deixar a CBF.
Com base nas informações enviadas
pela CPI do Futebol no Senado, a Fifa abriu um processo investigativo e
Del Nero poderá ser suspenso do futebol, o que significa que ele terá
de deixar a CBF.
O brasileiro não viaja ao exterior desde maio,
quando José Maria Marin foi preso em Zurique. Na semana passada, o
cartola obrigou a Conmebol a realizar sua reunião no Rio de Janeiro para
que um substituto fosse escolhido para seu lugar no Comitê Executivo da
Fifa. O escolhido foi Fernando Sarney.
O Estado apurou
que a CPI do Futebol enviou dados sobre Del Nero para o Comitê de Ética
da Fifa no dia 11 de novembro deste ano. No pacote foi enviado
suspeitas de como Del Nero teria influenciado votos para sua eleição
graças a um contrato de patrocínio da Chevrolet com as federações
estaduais. Os acordos vigoraram entre 2013 e 2014, período em que o
atual presidente da CBF, Marco Polo Del Nero, era vice-presidente da
entidade.
O primeiro contrato da Chevrolet ocorreu com a
Federação Paulista de Futebol na época em que Del Nero era seu
presidente e quando o dirigente passou a ocupar a vice-presidência da
CBF, a montadora passou a patrocinar federações estaduais por todo o
País. Entre 2013 e 2014, 22 federações tiveram contrato com a empresa.
Mas,
neste ano, quando Del Nero assumiu a presidência da CBF – venceu as
eleições em 2014 –, a Chevrolet passou a patrocinar apenas na entidade
nacional, que rompeu anos de parceria com a Volkswagen.
Um dos
contratos com uma federação estadual, obtido pelo Estado, revela o
compromisso da montadora de pagar R$ 320 mil em patrocínios para 2013 e
outros R$ 320 mil para 2014, num total de R$ 640 mil em dois anos.
O
que chama a atenção dos investigadores da CPI é o valor de R$ 40 mil
que seria destinado para “ativações e ações promocionais”. No contrato, a
empresa confirma que o patrocínio é de R$ 600 mil. O FBI acusou pelo
menos 14 executivos da FIFA por lavagem de dinheiro, suborno e formação
de quadrilha para extorsão. As investigações continuam. Entenda como
funciona o esquemaMas, numa carta-acordo de intermediação de patrocínio,
outros R$ 40 mil são adicionados. O documento aponta que o valor deve
ser passado para a SG Marketing e Comunicação Ltda., representada por
Sergio Luis de Sousa Gomes. O montante coincide com o valor final
indicado no contrato principal de patrocínio, elevando o total para R$
640 mil.
Pela carta, a empresa de veículos explica que o pagamento
de R$ 40 mil ocorre “por razões operacionais internas” e ordena que a
federação estadual repasse o dinheiro da “seguinte forma”: direito de
intermediação comercial e ativação do patrocínio. E indica que a SG
Marketing é a detentora exclusiva desses direitos.
Na avaliação
da CPI, os valores citados abrem a suspeita de que a inédita cobertura
de uma mesma marca em tantas federações pode ter beneficiado Del Nero na
eleição para presidente da CBF. Ele obteve 44 dos 47 votos possíveis
(votaram as 27 federações, mais os 20 clubes da Série A do Brasileiro).
Seu mandato termina em 2019
Outro aspecto destacado pela CPI para a
Fifa foram compras de imöveis a preços atípicos e que poderiam apontar
para lavagem de dinheiro.
OS 16 INDICIADOS PELA JUSTIÇA DOS EUA Alfredo Hawit (Concacaf presidente)
Ariel Alvarado (ex-presidente da Federação do Panama)
Rafael Callejas (ex-presidente da entidade de Honduras)
Brayan Jimenez (presidente da Federacao da Guatemala)
Rafael Salguero (da Guatemala e membro da Fifa)
Hector Trujillo (secretário-general da Federação da Guatemala)
Reynaldo Vasquez (ex-presidente da Federaçaão de El Salvador)
Juan Angel Napout (presidente da Conmebol)
Manuel Burga (ex- presidente da Federação de Futebol do Peru)
Carlos Chavez (Federação da Bolivia)
Luis Chiriboga (Equador)
Marco Polo del Nero (presidente da CBF)
Eduardo Deluca (secretário-geral da Conmebol)
Jose Luis Meiszner (ex-secretário da Conmebol)
Romer Osuna (auditor da Federação da Bolivia)
Ricardo Teixeira (ex-presidente da CBF)
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