BRASÍLIA — A Polícia Federal (PF) apreendeu no gabinete do senador Delcídio Amaral (PT-MS) uma cópia da delação premiada do lobista Fernando Baiano, documento ainda sob sigilo e cujo repasse é fruto de um “canal de vazamento”, segundo o procurador-geral da República, Rodrigo Janot. A informação sobre a apreensão foi confirmada ao GLOBO pelo advogado Délio Lins e Silva, que defende o chefe de gabinete de Delcídio, Diogo Ferreira Rodrigues. A Procuradoria Geral da República (PGR) e a PF mantêm sob sigilo o material apreendido na operação feita.
As buscas e
apreensões — inclusive na casa e no gabinete do senador — foram pedidas
pela PGR, autorizadas pelo Supremo Tribunal Federal (STF) e cumpridas
pela PF na última quarta-feira, 25. Delcídio foi preso preventivamente e
Diogo, temporariamente — o prazo de cinco dias termina neste domingo,
29. A PF também prendeu o banqueiro André Esteves, dono do Banco BTG
Pactual, e o advogado Edson Ribeiro, que defendia o ex-diretor da
Petrobras Nestor Cerveró. A suspeita é de que o grupo atuou para
garantir a retirada dos nomes de Delcídio e Esteves da delação de
Cerveró.
Um dos principais
motivos para Janot pedir uma busca e apreensão no gabinete do líder do
governo no Senado foi a informação de que ele detinha, de forma ilegal,
cópias da delação de Baiano e do rascunho da delação de Cerveró. Os dois
delatores citaram o senador como suposto beneficiário de desvios da
Petrobras. O próprio Delcídio, na gravação feita pelo filho de Cerveró e
usada como prova para as prisões, afirma ter tido acesso ao material.
“Eu
tive, nós tivemos acesso à delação do Fernando. Nós conseguimos aquilo
que dizia respeito a mim”, afirmou o senador na conversa gravada, que
contou com a participação de Diogo, Edson e Bernardo Cerveró, filho do
ex-diretor da Petrobras. Da conversa, Janot concluiu que Delcídio teve
acesso aos anexos da delação de Baiano, operador do PMDB no esquema de
desvios da Petrobras. Os documentos “ainda estão sob sigilo” e “trata-se
de elemento adicional de demonstração da existência do canal de
vazamento e de que o congressista é seu beneficiário”, registrou Janot
nos pedidos de prisão e de busca e apreensão.
Diogo
foi interrogado pela PF no dia de sua prisão. Os policiais questionaram
sobre o material apreendido no gabinete do senador, entre eles cartões,
bilhetes e uma cópia da delação de Baiano, conforme o advogado Délio
Lins. O defensor jurídico diz que o depoimento foi dado ainda pela manhã
de quarta, sem a sua presença.
—
Diogo respondeu achar que alguém da imprensa entregou essa cópia
encontrada no gabinete do senador. Os policiais quiseram saber quem
entregou — disse o advogado.
Ele espera que o chefe de gabinete deixe a prisão neste domingo.
— Uma prorrogação da prisão seria abusiva. A prisão já cumpriu seu motivo — afirmou.
Delcídio
também foi questionado sobre a delação de Baiano. Os termos do
depoimento registram: “Que tomou conhecimento das declarações de
Fernando Baiano que implicam o declarante, o que ocorreu, inicialmente, a
partir de matérias veiculadas na imprensa e, passado algum tempo, por
trechos dessas declarações que foram levadas à liderança do governo no
Senado, possivelmente através de algum servidor do gabinete que as
obteve com algum jornalista”. As citações de Baiano eram sobre “a
aquisição de sondas pela Petrobras ou a compra da refinaria de
Pasadena”, ainda conforme o depoimento do senador.
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