(Bloomberg) -- O bilionário
brasileiro André Esteves renunciou a todos os seus cargos no Grupo BTG
Pactual após ser preso por tempo indeterminado e os líderes do banco
passaram o fim de semana em negociações de emergência para a venda de
ativos e a aquisição de sua participação controladora.
Roberto
Sallouti e Marcelo Kalim, ambos sócios da empresa, assumirão como
co-presidentes, disse o BTG no domingo à noite. Pérsio Arida, que foi
nomeado presidente interino quando Esteves foi preso em meio a uma
investigação de corrupção, na semana passada, se tornará presidente do
conselho. Huw Jenkins, sócio que também faz parte do conselho da
empresa, será o vice- presidente do conselho.
O BTG
está correndo para acalmar os investidores depois que a prisão de
Esteves, em 25 de novembro, fez as ações caírem 26 por cento, dobrou os
yields sobre os bonds de referência do banco e levou os clientes a
retirarem R$ 4,2 bilhões (US$ 1,1 bilhão) de alguns de seus fundos de
renda fixa mais líquidos em dois dias. Esteves, 47, que transformou a
empresa no maior banco de investimento independente da América Latina e
atuou tanto como presidente do conselho quanto como presidente, teve um
pedido de liberdade negado no fim de semana. Seus advogados negaram as
acusações de que ele tentou interferir no depoimento de uma investigação
de corrupção.
O Supremo Tribunal Federal estendeu
sua detenção, inicialmente estabelecida em cinco dias, por tempo
indeterminado. O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, disse que
apresentou o pedido com base em itens apreendidos na semana passada e
em depoimentos de pessoas sob investigação. Em uma nota enviada por
e-mail, a procuradoria-geral disse que vê uma “falta extremamente grave”
na conduta de Esteves.
Em uma carta enviada a
clientes na sexta-feira, Arida disse que o banco tinha uma base sólida e
que não faz parte de nenhuma investigação.
A cara da empresa
Esteves
está preso sob a suspeita de ter tentado interferir no depoimento de um
ex-executivo da Petrobras que foi preso em janeiro sob a acusação de
pagamento de propinas. A nomeação de novos líderes pelo BTG não foi
provocada pela crença de que Esteves participou de irregularidades, mas
sim pela necessidade de lidar com a turbulência criada por sua prisão,
segundo uma fonte próxima às deliberações.
Não será
fácil virar a página com uma simples mudança de liderança. Esteves há
muito tempo é sinônimo da empresa, conduzindo-a a um rápido crescimento.
Ele fez uma brincadeira de que a sigla significava “better than
Goldman” (“melhor que o Goldman [Sachs]”). O sucesso e a personalidade
de Esteves lhe deram estatura muito longe de seu mercado doméstico.
“O
risco para a empresa se deve ao fato de André Esteves ser a empresa”,
disse Mark Williams, autor de “Uncontrolled Risk” (“Risco
descontrolado”), um livro sobre a ascensão e o colapso do Lehman
Brothers, após a prisão de Esteves, na semana passada. “A empresa é
construída em torno dele”.
Os sócios da empresa,
buscando isolar o banco de sua penúria e conter os saques dos fundos,
estão tentando fechar as condições para compra de sua participação
controladora, disse uma fonte informada sobre o assunto no domingo,
pedindo anonimato porque as discussões são privadas. As negociações
continuam e nenhum acordo foi concluído.
Venda de ativos
Como
parte de um impulso para aumentar o caixa, o banco está procurando
vender sua participação restante de 12 por cento na empresa de hospitais
Rede D’Or São Luiz, disseram duas fontes informadas sobre o assunto na
semana passada. O comprador mais provável é o fundo soberano de
investimento de Cingapura, o GIC Pte, disse uma fonte informada sobre o
assunto no domingo.
O BTG preferiu não comentar
sobre os próximos passos, vendas de ativos ou saques de fundos do banco.
Representantes da Rede D’Or e do GIC preferiram não comentar. Ainda
pode demorar dias para que um acordo seja fechado, disse uma fonte.
Declarações
regulatórias deste ano mostram que Esteves possui uma participação de
22 por cento a 24 por cento no banco. A empresa tinha um valor total no
mercado de ações de cerca de R$ 21,4 bilhões na sexta-feira. A
participação dele no BTG também inclui a chamada golden share (ação de
ouro), que garante a ele o controle efetivo da empresa, disse uma fonte.
Indagado sobre as negociações para venda da participação do bilionário,
o advogado de Esteves encaminhou as perguntas ao BTG, que preferiu não
comentar.
-- Com a colaboração de Francisco Marcelino, Ney Hayashi, Klaus Wille, Ambereen Choudhury e Katia Porzecanski.
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