Foi um mês complicado para Fobos: astrônomos decretaram - mais uma vez
- que Marte está matando a sua lua. Mas aparentemente a perda de Fobos é
uma vitória para Marte. Depois do satélite ser destruído em pedaços,
seus fragmentos vão se tornar um disco e, dentro de 20 milhões de anos,
Marte será um planeta com anel.
Essa
é a conclusão de um estudo liderado por cientistas da Universidade da
Califórnia em Berkeley, nos EUA, que foi publicado na Nature Geoscience.
O destino da pequena lua Fobos é mais do que apenas uma curiosidade
cósmica. Pesquisadores dizem que Fobos pode ser uma janela para a origem
dos sistemas de anel em todo o sistema solar e mais além.
Sabemos
há anos que os dias de Fobos estão contados. Com apenas 26km de
diâmetro, o satélite está sendo puxado pela gravidade de Marte, o que
significa que, em algum momento no futuro, ele deve se colidir com o
Planeta Vermelho. Na verdade, Marte pode já ter matado outra lua da mesma maneira.
Mas recentemente astrônomos passaram a suspeitar que Fobos pode ser
quebrado pela gravidade de Marte muito antes da situação que envolve o
impacto profundo.
Assim como o
puxão que a Terra dá na Lua se manifesta nas marés, a puxada
gravitacional de Marte deixa vestígios em Fobos - uma série de fraturas
ao redor da superfície da lua. No começo do mês, um estudo liderado por
cientistas da NASA concluiu que
essas fraturas são os primeiros sinais de uma falha estrutural, e que
em 30 ou 50 milhões de anos no futuro, o pobre satélite Fobos vai ser
destruído por essa "flexão das marés". Ben Black, principal autor do
artigo da Nature Geoscience, compara o desmembramento de Fobos
com um gigante cortando em pedaços uma barra de cereal, espalhando
migalhas por todos os lados.
Após
modelar a destruição de Fobos e estimar quando será a morte da lua -
entre 10 e 20 milhões de anos - Black e seu colega Tushar Mittal queriam
descobrir o que vai acontecer depois disso. Os restos de Fobos vão cair
no Planeta Vermelho em uma chuva de meteoritos apocalíptica? Ou a lua
vai deixar de existir pacificamente, e seus fragmentos vão ficar em uma
órbita estável ao redor de Marte?
A cratera Stickney de Fobos (topo) foi criada por um
impacto que poderia ter destruído a lua se ela fosse um pouco mais
porosa. Crédito da imagem: NASA
Um
pouco de cada, segundo os novos modelos de Black e Mittal. Grandes
pedaços de Fobos fortes o suficiente para suportar essa separação
gravitacional acabarão por colidir com Marte em baixa velocidade. "É
difícil prever o tamanho desses pedaços que devem se colidir com Marte",
explicou Black ao Gizmodo. Mas: "Esperamos que eles caiam ao longo do
equador, então é lá que o perigo estará concentrado." Marcianos do
futuro, lembrem-se disso.
O
resto de Fobos vai se juntar e formar um sistema de anéis planetários. A
duração de vida exata desse anel vai depender do quão próximo Fobos
estará de Marte quando for destruído, coisa que os astrônomos ainda não
sabem dizer com certeza.
"Se a
lua se despedaçar a 1,2 raios de Marte, cerca de 680 quilômetros acima
da superfície, ela formaria um anel comparável em densidade com os
maiores dos anéis de Saturno," explicou Mittal.
"Ao longo do tempo ele vai se espalhar e ficar mais amplo, chegando ao
topo da atmosfera de Marte em alguns milhões de anos, quando vai começar
a perder material por causa das coisas que vão cair em Marte."
Se,
no entanto, Fobos se quebrar mais distante de Marte, o anel pode
persistir por mais de 100 milhões de anos. De qualquer forma, não será
visto da Terra - enquanto os anéis de Saturno brilham devido ao gelo,
Fobos é composto principalmente por rochas escuras ricas em carbono. Mas
qualquer pessoa vivendo em Marte dentro de algumas dezenas de milhões
de anos vai poder ver o anel de Fobos no céu.
Só
no nosso sistema solar, Saturno, Júpiter, Urano e Netuno têm sistemas
de anéis. De acordo com Black, o destino de Fobos oferece um cenário
possível para a evolução dos anéis planetários nos primórdios do sistema
solar, quando astrônomos suspeitam que ainda mais luas rodeavam os
gigantes gasosos. "Esperamos que essas migrações de lua como a de Fobos
seja um produto relativamente comum da formação planetária", disse
Black. "Então o mesmo processo que descrevemos para o futuro de Fobos
pode ter acontecido no passado do nosso sistema solar." É possível até
que todos esses sistemas de anéis no nosso sistema solar incluam restos
despedaçados de luas antigas.
E
se Marte tem força gravitacional para esmagar uma lua e torná-la uma
panqueca de poeira, não há motivos para pequenos mundos rochosos além do
nosso sistema solar não terem seus próprios anéis. "Eu acho que anéis
podem ser comuns, mas de pouca duração ao redor de planetas em outros
sistemas estelares", explicou Terry Hurford, da NASA. "Os anéis podem
não durar muito mas se eles forem produzidos frequentemente então
podemos vê-los ao redor de alguns planetas."
Quem
sabe, talvez a segunda casa da humanidade tenha seus próprios anéis.
Apesar de que considerando a previsão do tempo para daqui a 30 milhões
de anos em Marte - dia nublado com chance de chuva de pedaços de uma lua
- eu, sinceramente, não sei o que pensar sobre essa possibilidade.
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