Romero Jucá diz que Dilma, em entrevista, 'deu uma de Collor'
BRASÍLIA — Aliados da base
governista ficaram assustados com o teor e a repercussão política das
declarações dadas pela presidente Dilma Rousseff em entrevista publicada
nesta terça-feira pelo jornal "Folha de S.Paulo". Relator da reforma
política na comissão especial do Senado, e um dos integrantes da cúpula
do PMDB, o senador Romero Jucá (RR) lembrou os últimos momentos que
precederam a crise que levou ao impeachment do ex-presidente Fernando
Collor .
— Pense num juízo! A presidente Dilma deu uma de Collor, chamou a crise para si — avaliou o senador peemedebista.
Jucá
fez referência à postura de Collor antes de ser afastado do cargo. O
ex-presidente dizia que cumpriria mandato até o último dia. Nesta
sexta-feira, na entrevista, Dilma sentenciou:
— Eu não vou cair.
O
senador Jorge Viana (PT-AC) afirmou que, na sua avaliação, a presidente
Dilma não deveria ter dado tanto destaque às tentativas da oposição de
abreviarem seu mandato.
— Não
precisava ter gasto tanto tempo falando do PSDB. Deixa a gente
(parlamentares) tratar dos golpistas. Isso é problema nosso — afirmou
Viana.
A oposição também
criticou nesta terça-feira as declarações de Dilma. Em nota, o
presidente nacional do PSDB, senador Aécio Neves, disse que o discurso
de Dilma é uma estratégia para inibir as instituições.
“O
discurso do golpe que vemos hoje assumido pela presidente da República,
e repetido pelos seus ministros e pelos petistas, nada mais é do que
parte de uma estratégia planejada para inibir a ação das instituições e
da imprensa brasileiras no momento em que pesam sobre a presidente da
República e sobre seu partido denúncias da maior gravidade”, disse o
senador.
Habitualmente crítico ao governo, o senador Lindbergh Farias (PT-RJ) elogiou o tom da entrevista de Dilma:
—
Ela fez certo, a situação é grave. Ela pareceu, depois de muito tempo, a
Dilma coração valente, disposta a brigar — disse Lindbergh,
referindo-se ao slogan da campanha à reeleição.
Em
1992, durante solenidade no Palácio do Planalto, o então presidente
Fernando Collor de Melo afirmou que ficaria no cargo até o fim de seu
mandato. À época, Collor anunciara medidas que beneficiariam taxistas e
caminhoneiros. Durante o discurso, ele pediu aos brasileiros para
vestirem verde e amarelo em apoio a ele e ao seu governo.
—
Peçam às suas famílias que no próximo domingo que saiam de casa com
peças de roupa com uma das cores de nossa bandeira. Exponham nas janelas
toalhas, panos e o que tiver nas cores da nossa bandeira. Quero pedir
isso e irei cobrar de vocês esse pedido que lhes faço. No próximo
domingo, nós estaremos mostrando onde está a verdadeira maioria: na
minha gente, no meu povo, nos pés descalços, nos descamisados. Naqueles
por quem fui eleito e para quem estarei governando até o último dia do
meu mandato —disse Collor.
A
estratégia de Collor, porém, foi malsucedida. Os chamados
"caras-pintadas" foram às ruas vestidos de preto e pedindo o impeachment
do então presidente. Dias depois, a CPI no Congresso concluiu que
Collor foi beneficiado pelo suposto esquema de corrupção montado pelo
ex-tesoureiro Paulo César Farias.
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