A etapa de validação, que
normalmente é longa, impede o desenvolvimento de uma vacina a curto
prazo para frear a epidemia do zika vírus, afirma especialista francesa
A vacina contra o zika vírus, que será desenvolvida pelo laboratório francês Sanofi,
dificilmente chegará ao mercado em menos de um ano. A opinião é da
diretora de pesquisas do Instituto Pasteur, Anna-Bella Failloux. De
acordo com ela, a etapa da validação, que leva mais tempo, não pode ser
simplificada. “A criação da vacina no laboratório não é o mais
complicado. O mais demorado é verificar se não há efeitos colaterais, ou
outros efeitos que não foram controlados. Ainda estamos longe desse
estágio”, declarou. “Talvez possamos adotar a tecnologia usada em outras
vacinas, que é aplicar o zika em voluntários. É preciso testar nas
pessoas, e isso leva tempo”, disse.
O
laboratório Sanofi anunciou que utilizaria as estruturas e o know-how
adquirido na fabricação da vacina contra a dengue, lançada no mercado em
janeiro. Para a entomóloga francesa, isso não “facilita” a criação de
uma outra contra o zika. “São dois vírus completamente diferentes”. Em
janeiro, o Instituto Pasteur na Guiana Francesa realizou o
sequenciamento do genoma do zika, o que certamente será fundamental para
as equipes na produção de um “antídoto”.
Intensidade dos sintomas muda dependendo da região
Um dos principais desafios para
as equipes de pesquisa por enquanto é entender e catalogar mosquitos de
diferentes regiões que provocam a mesma doença, no caso o zika. Segundo a diretora do Pasteur,
o ambiente em que vive o mosquito modifica a intensidade da infecção
–ou seja, os sintomas serão menos ou mais fortes se o doente foi picado
em Manaus ou no Rio de Janeiro por exemplo. Um “mistério” que os
pesquisadores vêm tentando decifrar.
“Mesmo
sendo da mesma espécie, os mosquitos são de ‘formas geográficas
diferentes’,como costumamos dizer. O inseto em Manaus, por exemplo, vive
na floresta, e o mosquito que vive no Rio, mora na cidade. Então eles
não comem e picam as mesmas coisas”, explica Failloux. “Eles são capazes
de transmitir uma só doença, mas com algumas variações de intensidade
nos sintomas”, completa. Para ter acesso aos mosquitos de diferentes
regiões que transmitem o vírus, a pesquisadora trabalha em parceria com
instituições de diversos países, entre eles o Instituto brasileiro
Oswaldo Cruz.
O que provoca
essa diferença de sintomas ainda é um mistério. “O que estamos tentando
entender no laboratório é se o mosquito não “selecionou” uma cepa mais
virulenta. Até junho já teremos uma ideia mais precisa, mas tudo isso
leva tempo. O problema é que atualmente não existe uma equipe
trabalhando sobre a questão do zika no mundo. Até hoje, ele nunca tinha
sido um vírus associado a patologias mais graves, e nunca tinha saído da
África e da Ásia. Até então, era um vírus teoricamente benigno”, diz.
Transmissões locais podem começar no verão na França
As
transmissões autóctones do zika podem começar no verão na França,
segundo a especialista. De acordo com ela, o inverno impede que o
mosquito sobreviva, mas com a alta das temperaturas, os ovos do mosquito
Aedes Albopictus, presentes no hemisfério norte, vão eclodir, podendo
assim disseminar o vírus. Por esse motivo, a França, principalmente a
região sul, não está a salvo das transmissões locais no verão, quando as
temperaturas às vezes ultrapassam 40 graus. O Aedes Albopictus, também conhecido como mosquito Tigre, é um dos vetores da doença – o outro é o Aedes aegypt, presente no Brasil.
Foi
só depois da associação do vírus aos casos de microcefalia – bebês que
nascem com um perímetro craniano menor que o normal – que o zika ganhou
importância. O aumento do número de casos levou a OMS (Organização Mundial da Saúde)
a declarar as possíveis malformações congênitas provocadas pelo zika
uma emergência sanitária internacional. De acordo com a entomóloga, a
situação é “explosiva” porque o continente americano nunca teve contato
com o vírus, então não está protegida. Depois de desenvolver a doença,
os pacientes ficam teoricamente imunizados.
Nenhum comentário:
Postar um comentário