Para o jurista Hélio Bicudo, de
93 anos, um dos signatários do principal pedido de impeachment contra a
presidente Dilma Rousseff protocolado na Câmara dos Deputados, a crise
política não se resolverá apenas com a saída dela do Palácio do
Planalto. “O melhor seria convocar novas eleições gerais. Mudar toda a
Câmara e o Senado seria o remédio mais democrático”, disse ele ao Estado.
Sua
ideia sobre a antecipação das eleições prevê um governo interino do
vice-presidente Michel Temer que duraria 90 dias. “É possível antecipar
por meio de um decreto partindo do Executivo. Vamos convocar e ver que
bicho dá.”
Cortejado pela oposição desde que decidiu
assinar a petição, Bicudo passou a ser criticado pelos petistas nas
redes sociais, que questionam o fato de ele ser classificado como
“fundador do PT”. Para “corroborar” a tese de que o jurista estaria
sendo “manipulado”, defensores da presidente divulgaram um texto escrito
por um dos sete filhos de Bicudo, José Eduardo Pereira Bicudo, que
afirmou que o pai “está sendo usado pelos articuladores do golpe”.
“Criei
meus filhos democraticamente. Nunca exigi fidelidade aos meus pontos de
vista. Atuo segundo minha consciência”, afirma. O jurista foi candidato
a vice de Luiz Inácio Lula da Silva em sua primeira disputa eleitoral,
para o governo de São Paulo, em 1982. Depois disso, foi deputado federal
pelo PT e ocupou vários cargos na sigla, tendo sido vice-prefeito de
Marta Suplicy na Prefeitura de São Paulo. Seu rompimento com o partido
ocorreu em 2005, após a divulgação do caso do mensalão.
“Essas
pessoas que me criticam hoje nas redes sociais talvez nem me conheçam.
Faz dez anos que deixei o PT.” Apesar de dizer que não se incomoda com
críticas de ex-aliados, Bicudo responde no mesmo tom. “O PT tornou-se
ponto de partida para enriquecimento ilícito.”
Ele também se
irrita quando alguém classifica sua iniciativa como “golpe”.
“Impeachment não é golpe coisa nenhuma. É um processo legal, jurídico.
Dizer que é golpismo é escapismo, é fazer discussão política de baixo
nível”, afirmou o jurista.
Parceria. A parceria com Miguel Reale
Júnior , que foi ministro da Justiça de Fernando Henrique Cardoso, no
pedido de impeachment reuniu pela primeira vez os dois juristas no mesmo
campo político. Em um ato simbólico, os dois foram juntos na semana
passada a um cartório de São Paulo para registrar o documento que foi
protocolado na Câmara. Na hora da assinatura, ativistas entoaram
palavras de ordem contra o PT e foram aplaudidos por Bicudo.
Ao
falar sobre a aproximação com Reale, ele recordou de uma passagem
curiosa. “Quando fiz a Faculdade de Direito na São Francisco nos anos
1940, nós estávamos unidos contra a ditadura do Getúlio Vargas. Havia na
época uma reação muito forte contra o professor Miguel Reale, pai do
Reale Júnior, porque ele era do Partido Integralista. Havia repulsa por
ele ser professor. No dia em que foi dar sua primeira aula de Filosofia
do Direito, em 1946, foi uma gritaria na Faculdade de Direito.” Segundo
Bicudo, naquele tempo, o Largo de São Francisco era uma “praça de
guerra”.
Jurista atuou contra grupo de extermínio
Formado
pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo na turma de
1947, Hélio Bicudo, de 93 anos, é uma referência na militância pelos
direitos humanos.
Como procurador de Justiça no Estado de São
Paulo, ficou conhecido internacionalmente por combater o Esquadrão da
Morte, durante a ditadura militar, e conduzir investigações sobre
violações dos direitos humanos. Em 1982, foi candidato a vice de Luiz
Inácio Lula da Silva na disputa pelo governo de São Paulo pelo PT.
Em
1986, disputou o Senado pelo partido, ficando em terceiro lugar, atrás
dos eleitos Mário Covas e Fernando Henrique Cardoso, então no PMDB. Foi
secretário de Assuntos Jurídicos de São Paulo na gestão de Luiza
Erundina de 1989 a 1990. Naquele ano, elegeu-se deputado federal. Em
200º, foi eleito vice-prefeito de São Paulo na chapa de Marta Suplicy,
que governou a capital até 2004. Em 2016, Bicudo diz que pretende fazer
campanha para que ela volte ao cargo, agora filiada ao PMDB.
Filiado
ao PT desde a sua fundação, saiu do partido em 2005, depois do
escândalo do mensalão. Em 2010, declarou apoio a Marina Silva (PV) no
1.º turno e a José Serra (PSDB) no 2.º turno.
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