Dólar desaba quase 4% e volta abaixo de R$4, com ação de BC e Tesouro
O dólar despencou quase 4 por
cento e voltou abaixo de 4 reais nesta quinta-feira, sessão marcada por
intensas ações do Banco Central, via seu presidente Alexandre Tombini, e
do Tesouro Nacional, que aliviaram em parte os temores dos mercados
financeiros.
O dólar recuou 3,73 por cento, a 3,9914 reais na
venda, maior queda diária desde 24 de novembro de 2008 (-5,24 por
cento). A moeda norte-americana subiu 2,48 por cento na máxima da
sessão, a 4,2491 reais, e recuou 3,98 por cento na mínima, a 3,9810
reais.
O cupom cambial, que equivale ao custo em financiamento em
dólares e influencia o custo das intervenções do BC, também registrou
forte queda nesta sessão, segundo operadores.
"O BC mostrou por A +
B que está monitorando o mercado, que tem poder de fogo para agir e que
não está satisfeito com essa pressão toda", disse o operador da
corretora Intercam Glauber Romano.
Tombini, em uma aparição
surpresa na apresentação do Relatório Trimestral de Inflação, afirmou
que "certamente todos os instrumentos estão à disposição do BC", em
resposta a questionamento sobre o uso das reservas cambiais diretamente
no mercado de câmbio. "Em relação às reservas internacionais, são um
seguro. Pode e deve ser utilizado" afirmou ele, acrescentado que o BC
vem atuando em algumas frentes, como a venda de swaps cambiais, que têm
sido bastante úteis.
A declaração arrancou o dólar das máximas do
dia e novos níveis recordes, quando deu continuidade ao avanço das cinco
sessões anteriores diante de preocupações com a situação política e
econômica no Brasil. No fim da sessão, o bom humor ganhou mais um
impulso com o anúncio de um programa de leilões de venda e compra de
títulos pelo Tesouro Nacional.
Segundo operadores, a fala de
Tombini e a ação do Tesouro deixam evidente que o governo avalia que a
intensa pressão sentida nos mercados financeiros nas últimas semanas
levou o mercado a agir de maneira irracional. Operadores que pediram
para não se identificar descreveram o movimento recente como
"disfuncional", "exagerado", "especulativo" e "psicológico".
"O
mercado ficou preso em um círculo vicioso de baixa confiança. Hoje, o BC
parece ter conseguido interromper esse movimento no grito, mas se isso
voltar, pode ser que tenha que agir de forma concreta", disse um deles.
Uma
fonte da equipe econômica afirmou à Reuters na véspera que fazer
leilões de dólares no mercado à vista é uma estratégia que não está na
mesa neste momento.
Na sessão passada, o BC já havia intensificado
a intervenção no câmbio ao realizar dois leilões de venda de dólares
com compromisso de recompra e um leilão de novos swaps cambiais,
equivalentes a venda futura de dólares, além de anunciar para esta
quinta-feira outro leilão de novos swaps, na qual vendeu a oferta total
de até 20 mil contratos.
Além disso, o BC vendeu a oferta total de
até 9,45 mil swaps cambiais para rolagem dos contratos que vencem em
outubro. Ao todo, já rolou o equivalente a 7,621 bilhões de dólares, ou
cerca de 80 por cento do lote total, que corresponde a 9,458 bilhões de
dólares.
A moeda norte-americana tem sido pressionada pela
deterioração das contas públicas do Brasil e pelas turbulências
políticas. Investidores temem que o país perca seu selo de bom pagador
por outras agências de classificação de risco além da Standard &
Poor's.
Também ajudou nesta sessão a melhora no mercado externo,
com outras moedas emergentes também passando a cair, como os pesos
chileno e mexicano.
(Reportagem adicional de Flavia Bohone)
Nenhum comentário:
Postar um comentário