Nem mesmo o avanço da Operação Lava Jato e o afastamento da
presidência da construtora OAS foram capazes de impedir que o
empreiteiro Léo Pinheiro continuasse a cometer crimes e pagar propina
para manter seus interesses longe do crivo da lei. As conclusões são do
Ministério Público Federal, que pediu ao juiz Sergio Moro nova prisão
preventiva do empresário. Pinheiro foi levado para prestar depoimento
nesta segunda-feira e depois será levado a Curitiba. Ele é um dos alvos
da Operação Greenfield,
deflagrada hoje. Conforme revelou VEJA, Pinheiro negociava um acordo de
delação premiada que atingiria em cheio políticos do calibre dos
petistas Lula, Dilma Rousseff e dos tucanos Aécio Neves e José Serra. Uma menção
ao ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Dias Toffoli, no entanto,
levou o procurador-geral da República Rodrigo Janot a anular o acordo
com o empreiteiro.
Os procuradores da força-tarefa da Lava Jato
dizem que, mesmo após a condenação imposta a Pinheiro, ele continuou a
praticar crimes para além do pagamento de propina em obras ligadas à
Petrobras e a outras empresas. A atuação dele na distribuição de
dinheiro sujo e no cartel de empreiteiras conhecido como Clube do Bilhão
já havia lhe garantido pena de mais de 16 anos de prisão.
Desde abril de 2015, no entanto, ele cumpria prisão domiciliar por
ordem do ministro Teori Zavascki, relator de um habeas corpus dele e de
outros oito empreiteiros detidos na 7ª fase da Operação Lava Jato.
“As
evidências revelam que Léo Pinheiro, já condenado por esse juízo
[Sergio Moro] é um criminoso habitual e, concretamente, seus delitos não
ficaram circunscritos. (…) Apurou-se, com boa prova de materialidade,
que Léo Pinheiro reiteradamente pratica graves crimes de corrupção e
lavagem de ativos em largo espectro”, disse o MP ao sustentar, junto a
Moro, uma nova prisão do empresário. “O grau de participação, controle e
ingerência de Léo Pinheiro nesses delitos é muito maior do que se
imaginava à época”, completam os procuradores.
Ao longo das
investigações, os delatores Roberto Trombeta e Rodrigo Morales apontaram
a atuação criminosa da OAS na distribuição de propinas, com a lavagem
de cerca de 28 milhões de reais por meio de contratos falsos de obras
como projetos de linhas do Metrô de São Paulo e a construção do Estádio
Fonte Nova, em Salvador. Os tentáculos da OAS, informaram Trombeta e
Morales, envolviam também lavagem de dinheiro em contas no exterior. E
mais: Léo Pinheiro é um dos empresários que pagou propina ao então
senador Gim Argello (PTB-DF) para evitar que as investigações de duas
CPIs da Petrobras no Congresso chegassem até ele e sua empresa.
“O
escárnio com as instituições da República se exaspera também pelos
pagamentos de propina, articulado pelo representado Léo Pinheiro, já no
calor da Lava Jato, destinadas ao então Senador Gim Argello. O objetivo
desta propina era sufocar e embaraçar as investigações de Comissões
Parlamentares de Inquérito instaladas no Congresso Nacional relacionadas
às irregularidades na Petrobras”, relata o Ministério Público no pedido
de prisão. “Nem mesmo o afastamento do representado [Pinheiro] da
Construtora OAS abala a necessidade da prisão cautelar, pois o alto
poder econômico e o grau de relacionamento do representado com
autoridades, revelados publicamente em mensagens de seus celulares,
potencializa o risco de captura do Estado pelo representado”, completa.
Desde
a prisão de Argello, em abril, os investigadores haviam concluído que
no caso da OAS, foram detectados repasses de 350.000 reais em propina
para o ex-senador. Ele utilizou uma conta bancária de uma paróquia no
Distrito Federal para receber o dinheiro sujo. A prova são mensagens no
celular de Léo Pinheiro. Em maio de 2014, data da instalação da CPI da
Petrobras no Senado, Pinheiro solicita que seja feito pagamento de
350.000 reais à conta da paróquia. A empreiteira anotou como centro de
custo do repasse de dinheiro uma obra da Refinaria Abreu e Lima, em
Pernambuco.
Agora, as conclusões são de que o empreiteiro está
envolvido em uma esquema que perdurou pelo menos até janeiro deste ano e
extrapolam irregularidades na Petrobras. “Há fortes indicativos de que
esse grupo empresarial também praticou delitos em contratações públicas
de outros órgãos no território nacional e também no exterior. A OAS, sob
a coordenação de Léo Pinheiro, lançou mão aos serviços de diversos
outros profissionais do ramo da lavagem de capitais ou operadores
financeiros”, acusa o MP.
Nenhum comentário:
Postar um comentário